O AMOR PASSOU E CONTINUA PASSANDO POR ARACAJU

A semana passou fazendo de Aracaju a capital brasileira do amor, do ousar querer para os seus habitantes um mundo sem violência e socialmente justo. Aracaju demonstrou que aceitou o desafio de enfrentar o impossível sem medo ou desanimo, mesmo porque a impossibilidade não faz parte do seu dicionário de vida. Aracaju convidou o Brasil para, juntos, caminharem unidos em defesa da paz e de um trabalho digno e justo para todos.

A primeira ousadia amorosa foi, sem dúvida, a grande e histórica caminhada em defesa da vida que ocorreu na última sexta-feira, reunindo no mesmo e harmonioso caminhar milhares de corações desejosos de paz. O clima de serenidade se fez notar até no campo belicoso da política partidária, fazendo com que todos os andarilhos da vida, vestindo a branca camisa da paz, momentaneamente colocassem de lado as suas divergências políticas, falando a linguagem comum do amor ao próximo. O mesmo ocorreu no campo da imprensa, que, abandonando a conhecida guerra pela audiência, marchou unida como parte ativa e integrante da caminhada.

A caminhada começou a desfazer o paradoxal mito de que as armas de fogo servem para proteção da vida. Afinal, não se podia mais acreditar, mesmo porque a pública violência brasileira nos faria de ingênuos se assim acreditássemos, que a arma de fogo negaria um dia a sua finalidade principal, a sua única razão de ser. As armas foram feitas para matar e, infelizmente, têm cumprido em larga escala em sua maléfica função, matando diariamente brasileiros, tornando-os, simultaneamente, algozes e vítimas do mesmo instrumento letal.

A segunda ousadia de Aracaju foi abrigar o XXV Congresso Nacional dos Advogados Trabalhistas, que reuniu em Sergipe mais de seiscentos defensores da idéia de que o trabalho é fator de dignidade humana, é, também, demonstração de amor ao próximo. Os operadores do direito assumiram, no Congresso, que continuariam a caminhada em defesa do princípio constitucional que faz do valor social do trabalho um dos princípios fundamentais à manutenção do Estado democrático de direito. Aracaju assumiu o compromisso, como nos ensinou Gonzaguinha, de alertar ao Brasil “que o homem sem trabalho não tem honra, e se sem a sua honra se morre, se mata não dá para ser feliz”.

Apontaram os advogados trabalhistas que o mundo do trabalho avançou, conquistou espaço, agigantou-se em importância, passou a ser possuidor de princípios próprios, recebeu, inclusive, o abrigo de uma Justiça Especializada. Exatamente por isso, não iriam permitir que voltasse a ser discutido como se fosse algo completamente secundário e periférico. Disseram para o Brasil, que o trabalho é sinônimo de dignidade humana, jamais podendo ser confundido com servidão ou, como querem alguns globalizantes de plantão, mero custo de produção, quanto mais barato melhor.

O amor passou pelas ruas e caminhos de Aracaju deixando marcas profundas naqueles que querem a paz e a dignidade vivendo no mundo, fazendo bater forte o seu ousado coração. Aracaju recitou para o Brasil a poesia de Drummond, quando certa vez nos disse que “o primeiro amor passou, o segundo amor passou, o terceiro amor passou, mas o coração continua”. A semana passou como o amor que foi amado, desejado e compartilhado por todos, mas que, por isso mesmo, continua vivo e ativo em nosso coração, lutando por um mundo sem violência e repleto de dignidade e respeito ao próximo.

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(*) Cezar Brito é advogado, conselheiro Federal da OAB e presidente da Sociedade Semear.
cezarbritto@infonet.com.br

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