O ANIVERSÁRIO DE UMA GRANDE COMUNIDADE

Aniversário e comunidade são duas palavras que parecem sinônimas, talvez porque companheiras inseparáveis desde que o homem passou a viver em sociedade familiar. É realmente difícil imaginar uma comunidade sem festas comemorativas de algum evento que se tornara importante. Um nascimento que ficara marcante ou a descoberta de algo que tenha influenciado o grupo. Realmente não poderia ser diferente, pois aniversários servem para remoçar a lembrança, ressuscitar a vida que passou ou simplesmente para advertir sobre os caminhos já seguidos.

 

E olhe que não são poucos os aniversários comemorados em uma comunidade, mesmo porque não são poucos os momentos especiais quando se vive em parceria. Nascimentos, namoros, noivados e casamentos são os campeões no campo sentimental, ainda quando desfeitos. Revoluções, guerras, batalhas, movimentos reivindicatórios, gritos de liberdade, descobrimentos e gestos heróicos são os prediletos no campo da ação humana, mesmo nos casos em que a derrota somente ficou vitoriosa enquanto símbolo.

 

Os aniversários comemorados por uma comunidade são verdadeiros e originais retratos do que pensa e compreende a comunidade sobre a sua própria vida.  Parodiando o dito popular “diga com quem andas que ti direi quem és”, em termos de aniversários em comunidade, é possível afirmar que “me diga o que comemoras que te direi o que pensas”.  É como se ela desejasse constante reviver e apontar o que fez, o que gosta e o que sentiu durante cada pedacinho de sua história, como faz o amante diariamente ao manter eterna a chama amorosa que o liga à sua musa.

 

Não é de se estranhar, portanto, que quanto mais amorosa ou emotiva é uma comunidade, mais datas pessoais e sentimentais são escaladas para as partidas festivas. Da mesma forma, quanto mais agitada, evolutiva ou livre for a comunidade, independentemente do período observado, mais comemorações são dedicadas à história da atividade humana. Sem contar que há sempre espaço, mesclando sentimentos e ações, para as datas dedicadas aos ramos familiares, profissões e personagem que conseguiram se transformar em ícones para as comunidades em que viveram.

 

Eis porque se torna quase impossível eleger uma data-mor para simbolizar a vida em comunidade, ainda mais quando ela é plural, amorosa ou com vida relativamente duradoura. Escolher apenas uma é assumir publicamente a injustiça, privilegiar a exclusão e premiar o individualismo, negando a própria razão de ser de uma vida em comunidade. A beleza da comunidade está, exatamente, no reconhecimento das suas múltiplas escolhas, nas mais variadas paixões, nas suas infinitas cores, nos seus ilimitados cheiros e sabores, enfim, na sua diversidade.

 

A Sociedade Semear, na festa de aniversário da comunidade que é agasalhada pela cidade de Aracaju, inclusive ela própria, percebeu esta dificuldade quando pretendeu escolher o tema que mais se adequasse à comemoração do seu sesquicentenário. Por isso elegeu a diversidade como mote da exposição que, a partir de 15 de março exibirá na Galeria Jenner Augusto, em parceria com a Petrobras. É que Aracaju é uma comunidade que abriga várias histórias, datas, paisagens, personalidades, amores, momentos e ações que não podem ser definidos em apenas uma única expressão.

 

A exposição “ARACAJU: PAISAGENS E PERSONAGENS”, nome escolhido para homenagear os 150 anos da fundação da grande comunidade, reúne e brinda a diversidade através da arte. Também se celebrou a pluralidade quando apontou os artistas Fábio Sampaio, Willy Valenzuela, Elias Santos, Marcos Vieira, Benedito Letrado, Lineu Lins, Marcel Nauer, Lúcio Telles, Alex Ojuara, Beto Pezão, Antônio da Cruz, Adauto Machado, Titiliano, Ismael Pereira, Hortência Barreto, Márcia Guimarães, Karinne Santiago, Ana Denise, Bené Santana, José Fernandes, Jacira Moura, Silvino, Alan Adi, Joel Dantas, Delton Rios, Joubert Moraes, Alfredo Mallet, Fernando Cajueiro, Silveira, Melcíades como intérpretes especiais da cidade. E nada melhor do que a arte para, como bem registrou o curador Walter Chou, “conhecer a cidade que habita os sonhos e devaneios” de todos nós, membros da grande comunidade conhecida como Aracaju.

 

Aracaju, aniversário e comunidade são, nesta semana mais do que nunca, palavras absolutamente sinônimas. Festas, atos públicos, inaugurações, debates, homenagens são outras formas de pronunciar a comunidade aniversariante chamada Aracaju. E que cada um de nós aproveite a oportunidade para reviver, curtir, refletir e contribuir para manter a evolução desta nossa grande comunidade, todos os dias, todos os anos.

 

* Cezar Britto, é advogado e secretário-Geral da OAB
cezarbritto@infonet.com.br

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais