Sentado na cadeira, o velho contava sua história do tempo em que era criança: saiàmos cedo, pois a aula começava às oito horas em ponto. Antes, no fogão à lenha, ela fazia o café, colocava o cuscuz e os pães na mesa e fazíamos a primeira refeição.
Preocupado, meu pai bebia seu café e saía para trabalhar e minhas irmãs, já mocinhas, seguiam, uma para a Escola Normal, a outra para o Atheneu. Meu irmão ficava em casa, sua aula era pela tarde. Minha mãe era professora de uma Escola Isolada, no bairro Aribé.
Da rua Vitória pegávamos a rua do Bomfim e seguíamos em direção à Estação da Leste pelo areial, minha mãe me agarrava por uma mão e praticamente me arrastava para eu andar mais ligeiro.A rua da escola era no começo do Aribé, com sua areia branca.Os alunos já esperavam em frente à modesta casa.
A aula começava, minha mãe tomava lições e fazia sabatinas para mais de 40 alunos apertados nas carteiras. Pertenciam as diversas séries. Era uma professora rigorosa, usava palmatória, régua e outros castigos: o aluno ficava em pé ou copiava não sei quantas vezes a mesma palavra que errara.
E eu pensava: como era que minha mãe, uma mulher tão boa e carinhosa em casa com seus filhos, se transformava naquela professora tão severa.