O Debate da Cidade

O prefeito Marcelo Déda (PT), que disputa a reeleição, foi ontem a vitrine de cristal do debate realizado pela TV-Cidade. Todos os seus adversários fizeram perguntas entre si, com direito a réplicas e tréplicas. Sem exceção – apenas ao próprio Déda – elaboraram perguntas que provocavam respostas contra a atual administração. Embora não tenha ficado acuado, até porque era atacado através de uma estratégia que não permitia resposta, o prefeito Marcelo Déda ficou na berlinda, ouvindo apenas as críticas e, nas réplicas, um aproveitamento de cada candidato que lhe faz oposição, para apresentação de perguntas. Os candidatos com chances de chegar ao segundo turno souberam arrancar bem as palavras que atingiam diretamente o prefeito, quando faziam perguntas àqueles que estão muito abaixo nas pesquisas.

 

A forma como foi projetado o debate, não deu muitas chances para que os principais candidatos fizessem um confronto mais acirrado, que emocionasse o telespectador. Há uma questão que deve ser lembrada: é a de que tudo demonstrava que os cinco candidatos disputavam apenas contra Marcelo Déda. Não houve, em nenhum momento, uma participação mais efetiva para deixar certeza que o debate seria para a defesa de cada uma candidatura e não para um bloco que se mostrava unido contra quem administra Aracaju e tenta a reeleição. Dentro da realidade do debate, todo o interesse seria reduzir o percentual que o prefeito demonstra ter nas pesquisas, para provocar um segundo turno. A questão, que os demais candidatos não perceberam, é que eles precisam se destacar para ser o possível nome que enfrentará Déda no segundo turno, porque, sem nenhuma dúvida, o prefeito já está lá.

 

Houve, também, o que já era esperado: alusão à administração federal e à nova tendência adotada pelo Governo do Partido dos Trabalhadores. Ninguém demonstra satisfação com essa mudança à direita que deu o PT, depois que chegou ao poder. Não houve uma renovação na mentalidade de um país que sempre distinguiu uma elite dominante, que massacra o trabalhador. Lula foi eleito como a esperança de uma gente que precisava viver em um Brasil mais justo, que buscasse uma modernidade nos meios de condução dos problemas políticos, econômicos e sociais. Levantou-se os escândalos que o PT patrocina, como o mais recente, que foi a negociata com o PTB, além de manter um executivo autoritário e aproveitando a fraqueza de um legislativo permissivo. O prefeito Marcelo Déda sentiu que não era bom levar o debate para esse lado e apelou para que fossem tratados os problemas de Aracaju, que deveriam ser de interesse dos eleitores que assistiam ao programa naquele momento.

 

A candidata Susana Azevedo (PPS) e o candidato Jorge Alberto (PMDB) demonstraram que têm mais habilidade política, entre os nomes da oposição. Como ex-vereadora e deputada estadual por três vezes, tendo como reduto eleitoral Aracaju, ela mostra que tem um maior conhecimento dos problemas da capital e seria capaz de fazer um bom confronto com o prefeito Marcelo Déda. O deputado Jorge Alberto também se sobressai com os seus programas e experiência política, mostrando que está capaz de administrar uma cidade como Aracaju. O candidato José Renato Sampaio (PRP) é muito tímido e não empolga pelo seu estilo de bom samaritano, embora ele tenha surpreendido quando disputou uma vaga para o Senado Federal em 2002. Os outros dois candidatos, como o teimosão Adelmo Macedo (PAN) participa para dar continuidade a um projeto que até o momento ele não conseguiu convencer. Já Vera Lúcia (PSTU) está na disputa para expor seus ideais e a luta do seu partido por um país de um socialismo fechado.

 

Como Plenário antecipou, uma das perguntas que seria feita ao prefeito Marcelo Déda, até porque era óbvia, seria a de sua permanência na Prefeitura por quatro anos, já que se insiste que ele deixará a administração de Aracaju para disputar o Governo do Estado. Como também havia revelado a Plenário, o prefeito Marcelo Déda nem confirmou que cumpriria o mandato e nem disse que se desincompatibilizaria. Deu duas respostas bem ao seu estilo: “não vou antecipar quem será o adversário do governador João Alves Filho em 2006” e citou alguns nomes do seu partido que podem muito bem tentar o Governo do Estado. A outra foi que “o povo é quem vai escalar aonde deverei estar dentro de mais dois anos”. Depois disso não houve mais qualquer referência em relação a esse ponto, que seria a pergunta chave contra o prefeito Marcelo Déda.

 

No final, o debate não ofereceu vencido e nem vencedor. Ninguém se destacou. Todos tiveram o mesmo desempenho e pouca condição de oferecer propostas e fazer provocações. A TV-Cidade já realizou confrontos bem mais polêmicos, e até excitantes, mas dessa vez o regulamento impediu que o eleitor mudasse o seu voto ou tomasse alguma decisão. Quem ainda não escolheu o candidato continua na mesma, absolutamente indeciso, porque não se viu nada mais além do que perguntas e respostas sem convencimento. É possível que outros debates apresentem um regulamento mais amplo, para que a população veja quem realmente satisfaz a sua expectativa para administrar Aracaju.

 

Por Diógenes Brayner
brayner@infonet.com.br

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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