O legado de Jackson Barreto

O governador Jackson Barreto é um político à procura de um novo discurso. Pretenso candidato a senador após mais de quatro anos dirigindo o Estado, ele sofre por não ter realizado a gestão com que tanto sonhou e dessa vez, até pelas características do cargo em disputa — é majoritário, mas não executivo —, não deverá ter um adversário em quem possa bater até fixar seu discurso.

Em maio de 2013, quando assumiu interinamente após Marcelo Déda se afastar do governo para iniciar o tratamento contra a doença terrível que faria o sergipano sofrer até aquele fatídico dezembro, Jackson Barreto encontrou o discurso na defesa do Proinveste (Programa de Apoio ao Investimento dos Estados), que os irmãos Eduardo e Edvan Amorim travavam na Assembleia Legislativa, onde controlavam a maioria, inclusive a presidência.

Um ano e meio antes das eleições de 2014, Jackson soube catalisar para si o sentimento de perplexidade dos sergipanos diante da enfermidade do jovem governador. Claro que nenhum político faria isso se não fosse ele e a sua história de dissabores, lutas e vitórias, reconhecida pelo próprio Déda.

E mais uma vez a exposição da própria biografia deverá sustentar o mote da campanha ao Senado, o cargo que ele nunca ocupou. Jackson é o primeiro governador de Sergipe que foi preso político durante a Ditadura Militar.

Na luta pela democracia, além de corajoso deputado estadual e deputado federal, combateu pela Anistia, em 1979, e pelas Eleições Diretas, em 1984. Salvo algumas idas e vindas, quase sempre militou no MDB/PMDB, onde está desde os anos 60.

A luta na vanguarda pela democracia forja uma personalidade. É por isso também que a biografia de Jackson se manteve praticamente preservada, apesar da cassação da Prefeitura de Aracaju em 1988 e dos processos, dos quais já se livrou.

Campeão de votos de muitas eleições, fenômeno eleitoral nos anos 80 e 90, vereador mais votado da história de Aracaju, ele quase realizou o sonho de governar Sergipe em 1994, quando foi derrotado no segundo turno pelo senador Albano Franco. A derrota ficou entalada na garganta por 20 anos.

Mas Jackson Barreto operou para finalmente chegar a governador de Sergipe em abril de 2014, quando Marcelo Déda deixaria o cargo para tentar o mandato de senador. Isso foi combinado em 2010, ano em que Déda disputou a reeleição ao governo e ele aceitou ser candidato a vice-governador na chapa do talentoso ex-adversário.

Quis o destino que a posse tenha ocorrido quatro meses mais cedo, após a morte prematura do titular, que ele já substituía interinamente sete meses antes por causa do seu estado de saúde.

Quando assumiu, ele previu que não seria fácil governar. Não foi.

Pergunte-se ao sergipano comum qual a marca do governo Jackson Barreto e a resposta será no mínimo difusa. Albano Franco trouxe várias indústrias para Sergipe. No seu último governo, que foi péssimo, João Alves construiu a ponta Aracaju-Barra dos Coqueiros, mesmo que para isso tenha comprometido as finanças do Estado. Marcelo Déda abriu estradas e outras pontes, construiu museus, reconstruiu o sistema de saúde. São lembranças.

Qual a lembrança que se terá do governo Jackson Barreto? A Usina Termoelétrica Porto de Sergipe, um investimento privado que alcançará a cifra astronômica de R$ 5 bilhões? O Centro Administrativo da Saúde, que possibilitará ampliar para 800 o número de leitos do Hospital de Urgência e abrigará 14 unidades da Secretaria da Saúde? Talvez.

O governo investiu muito em saneamento básico, estradas, mercados e outras obras de infraestrutura no interior. Construiu uma escola profissionalizante em Poço Redondo e está reformando o Colégio Ateneu. Fez investimentos policiais e penitenciários, construiu orlas na capital, em Canindé e em Socorro. Também construiu novas avenidas em Aracaju e melhorou o atendimento oncológico no Huse. Parece pouco. E é.

Abatido por uma crise financeira sem fim e por uma violência pública sem precedentes, o governo Jackson Barreto trabalhou pela manutenção do Estado, realizando algumas obras necessárias e conduzindo com muita dificuldade o funcionamento das redes de saúde, de educação e de assistência.

Mas o problema que mais o aflige, e o tempo pode cobrá-lo por isso, é o atraso no pagamento dos servidores públicos e aposentados. Os sindicatos afirmam que há dinheiro suficiente para garantir os salários em dia, mas o Estado escolheu outras prioridades. O governo não desmente, Jackson se penitencia por isso.

A saída encontrada por ele é engatar a fala que se deseja ouvir nessa hora de crise moral na política. “Governo com ética. Aqui não tem Lava Jato, não tem processo de Procuradoria, é um governo honrado. Não é um Estado governado por empresários”, registrou o blog JL Política.

É Jackson buscando resgatar o discurso da própria história.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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