O livro não morreu

Estou com um livro na mão. Pego-o com cuidado, mas com vigor suficiente para sentir seu peso e seu volume. Ele tem cheiro, às vezes até sabor. A capa tem o fundo preto e a lombar é chamativa, letras brancas e amarelas douradas. Às vezes se percebe a hierarquia que o autor suporta naquela capa pelo tamanho da letra como está escrito seu nome. Mas nem sempre isso é o mais importante. Quando, por exemplo, a obra fala por si só.

É bom folhear o livro, ouvir o farfalhar das páginas que se sucedem, acompanhando o número em que você está e comparando-o com a paginação total. Não para querer saber o quanto você já andou ou, pior, o quanto ainda falta – se por aflição para ficar logo livre de uma obra que não valeu tanto a pena, ou por preguiça de continuar.

É importante desfrutá-lo por inteiro, desde a capa de folha maleável ou dura, passando pela orelha — quanta informação necessária pode estar contida numa orelha! —, à ficha catalográfica, aos autores da bela obra gráfica, editores e desenhistas. Não esquecer de observar a editora e onde foi impresso, para o caso de precisar checar uma informação que extrapola o conteúdo em si.

O livro é mágico. Existe há milhares de anos e o papel impresso mecanicamente já nos deleita há mais de cinco séculos. Sem ele seria impossível professar um culto ou brindar um amigo com aquela edição d’Os Lusíadas em papel-bíblia. Será que um pastor ou um padre apontando para uma engenhoca eletrônica consegue passar crédito na sua pregação como algo que está escrito na Bíblia? E um muçulmano, precisa questionar?

Tem uma moçada que não gosta de livro. Na maioria das vezes é porque vivenciou uma frágil educação, em casa e/ou na escola. Ou porque nasceu num mundo diferente, já dominado pela atmosfera da internet, essa coisa sem a qual não conseguimos mais viver, assim como necessitamos do ar e da água. O mundo evolui.

Mas na evolução da humanidade já matamos as artes plásticas, o teatro, o cinema, o jornal e agora a televisão. Quantas vezes já não matamos o rádio? E ninguém morreu. A fita cassete e o filme em película não morreram, porque seus suportes evoluíram para outras tecnologias. O LP virou cult.

E o mercado de livros não para. Em 2014, a tiragem cresceu 9,3% no Brasil, embora a quantidade de títulos novos no mercado editorial tenha diminuído 8,5%, uma retração vista como um sintoma da dúvida e da prudência de editores com relação ao comportamento da economia, já observado ano passado.

Em 2013, na comparação com 2012, as editoras brasileiras venderam ao mercado um volume 4,3% maior, quase 280 milhões de exemplares, fora os mais de 200 milhões de livros didáticos e paradidáticos vendidos ao governo. Mas o faturamento manteve-se igual, quase 5,5 bilhões de reais.

Neste 2015 espera-se que haja queda nas vendas e no faturamento, mas todos saberão que este movimento é sazonal, movido pelos humores da economia. Apesar de que as vendas de livros no Brasil encerraram o primeiro semestre de 2015 com um aumento de 6,9% no faturamento, em comparação com o mesmo período de 2014, embora o crescimento tenha sido menor do que a inflação. O preço dos livros ficou 1,6% mais barato no primeiro semestre deste ano, média de R$ 37,97 a unidade. Os números são do Sindicato Nacional dos Editores de Livros.

Já a Associação Brasileira de Difusão do Livro garante que cresceu bastante no Brasil a venda de livros através do método porta a porta. Vá entender. E os livros impressos continuam despontado entre os itens mais vendidos pela internet.
Se por um lado essa tendência de crescimento é observada no Brasil, no mercado mundial os números apontam um crescimento do número de vendas dos e-books, os livros virtuais. Por aqui, a venda de e-books aumentou significativamente até o ano passado pelo menos, mas ainda representa uma parcela muito pequena do faturamento total do setor. Já nos Estados Unidos, a expectativa é de que em breve o segmento de livros virtuais ultrapasse o de livros impressos.

Quem analisa o mercado com descrença observa ainda que, em uma década, o PIB brasileiro cresceu mais de 40%, enquanto a indústria editorial aumentou seu faturamento em menos de 8%. Haveria aí uma recessão desse mercado.
Alguém até já disse que a cultura literária, puxada principalmente pelas obras de ficção e tendo como plataforma os livros de papel, está agonizando e vai mesmo acabar. E outros recursos surgirão ou serão aperfeiçoados.

Mas o livro tem um apelo simbólico muito grande. Além da companhia fácil, a qualquer hora e lugar, ele desperta sensações e sentimentos que a frieza de uma máquina não consegue transmitir. Ou então o homem vai ter que inventar outra coisa que transmita esse prazer tão sensitivo proporcionado pela leitura do bom e velho livro.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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