O Telefone do Sheik

Lisboa, 20 de outubro de 2006

Caros amigos de Sergipe:

Uma das melhores coisas do mundo, sem dúvida nenhuma, é fazer inveja aos amigos. Não se deve perder as raras oportunidades de exercitar essa saudável prática. Sempre que posso, não me nego. Por isso, vamos aos fatos:

Ocorre que, aproveitando a ida de Zenóbia, minha patroa sexagenária até Sergipe, para
cuidar do lançamento do meu primeiro livro em terras brasileiras, lhe incumbi de uma missão importantíssima: descobrir o nome do tal sheik árabe que vai investir seus petrodólares na refinaria de Clóvis Silveira. Os motivos os senhores saberão a seguir.


Pois bem, recomendei discrição absoluta à minha adorada anciã, que fez exatamente o contrário, como era de se esperar. Hospedou-se num hotel da orla sob o codinome de Nadina Suhayla. 

Depois de passear de catamarã assustando as criançinhas no canyon e de dançar forró de burca no Cariri, minha adorável espiã foi à imobiliária que funciona no endereço da refinaria para a missão secreta. Lá, dizendo-se uma rica investidora mulçumana, fingiu estar interessada em comprar uma casa na cidade. Logo fez amizade com todos e aproveitando um momento de distração da secretária, surrupiou-lhe a agenda.


Lá estava o que eu tanto queria: “sheik Moffarej Abdul Shoucair” endereço e telefone.

Logo que a nova Mata Hari me passou o número, liguei para o bancadinho apresentando-me como um mega investidor do setor vinícula. Ele se mostrou interessado em investir também na área de vinhos, apesar de estar jogando peteca com um criado enquanto falava comigo ao telefone.

Ainda assim, achei a nossa primeira conversa bastante proveitosa. Tanto que já estamos pensando em montar uma cave em Indiaroba e comprarmos mais umas escravas brancas. Gostei dessa parte.   

Moffarej tem um harém com dezessete moças mas já está providenciando outro para o seu filho Samir, que sofre de priapismo crônico. Um garoto problema!


Sobre a refinaria da Rua Santa Luzia, não quis falar muito. Disse apenas que estava um pouco chateado com as brincadeiras que andam fazendo e que andou até pensando em desistir do negócio.


Eu lhe recomendei que não fizesse uma loucura dessas. O investimento era altamente rentável, além do mais o governador era meu amigo e estava contando com isso. Mufa ficou mais animado.


O fato é que depois que me tornei seu amigo, já fui recomendado a muita gente. Só trato com gente grande, príncipes dos Emirados, produtores de Hoolywood, armadores gregos. O big boss me telefona todo dia.

Se Mufarrej é um blefe, eu sou muito pior!

Até semana que vem.

Um abraço do

Apolônio Lisboa.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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