O trabalho dignifica o…Trabalho

No século XVIII, com a Revolução Industrial iniciada na Inglaterra, a humanidade viveu uma grande transformação em seus modos de produção, além de, consequentemente, consolidar o modelo capitalista. Trabalhadores foram substituídos pelas máquinas, fazendo com que seus salários despencassem, mas suas horas de trabalho aumentassem. Além disso, os trabalhadores não eram protegidos por leis trabalhistas ou segurança, muitos deles sendo prejudicados após acidentes com as máquinas, sendo demitidos sem qualquer garantia ou benefício. Eis que surgiram os sindicatos, criados no século XIX, na Europa. Mas não estou aqui para pontuar todas as fases da Revolução Industrial e o que ela nos trouxe em pormenores, para isso, temos os diversos livros de História, e outras ferramentas de pesquisa, como o Google, por exemplo.

Quis introduzir o assunto do trabalho com a Revolução Industrial para pensar sobre o quanto ainda estamos presos a um modelo trabalhista perverso e arcaico. Sem mais delongas, vamos à vida no século XXI com pandemia. Com o avanço do novo coronavírus, os trabalhos passaram a ocorrer de maneira remota em muitos setores, a modalidade home office virou padrão e forma mais segura para proteger as pessoas do contágio, garantindo a produtividade. Porém, essa modalidade traz bastante da Revolução Industrial, pois, para quem está em casa, a produtividade deve ser ampliada, afinal, como saber se o trabalhador está mesmo trabalhando e em casa?

Por outro lado, a empresa diminuiu seus custos com contas de energia, água, produtos de limpeza para manutenção de serviços gerais, uso de equipamentos, compras como café, copos descartáveis etc. Já o trabalhador é obrigado a ter tudo isso em casa e recebendo o mesmo salário, além de ter que estar mais disponível, pois não há fiscalização se ele está de fato cumprindo as horas de trabalho, que ele cumpriria presencialmente aos olhos dos gestores. A pandemia se prolonga, e o vício aumenta. Sim, trabalhar vicia e adoece, e não estou dizendo que é para parar de trabalhar, vamos nos ater à informação sem interpretações equivocadas.

O que estou dizendo é que existem inúmeras pesquisas e estudos que comprovam que o excesso de trabalho causa um vício que pode gerar o adoecimento seja físico ou mental. O excesso de trabalho não torna ninguém uma super pessoa, torna apenas mais um com problemas de coluna, dores musculares, transtornos. A longo prazo, pode inclusive forçar com que o trabalho não possa mais ser realizado. Vale lembrar que, no sistema capitalista de produção, o mais produtivo não é o mais lembrado nem o que recebe mais mérito, até porque, nenhuma força de trabalho é insubstituível aos olhos desse sistema. Portanto, um regime trabalhista que força a produtividade para uma empresa ou órgão além do necessário e acordado é semelhante a voltar ao século XVIII, com algumas conquistas que favorecem o trabalhador, como as leis contra o assédio, férias, licenças etc.

Porém, quem, em Sergipe Del Rey, a terra do boca a boca, da indicação, denuncia assédio? Quem já tirou licença, e quando retornou, pouco tempo depois teve seu serviço dispensado? Quem já comentou no trabalho que pensava em aprimorar seus estudos, fazendo pós, e foi dispensado assim que o contrato acabou, podendo ser renovado, porque a empresa precisava de alguém que se dedicasse 100%, sem “distrações” como o estudo? São inúmeras situações que provam que a exploração trabalhista é algo que não ficou no século XVIII, e o primeiro passo é compreender seus limites e respeitá-los, aprender a não atender demandas após o horário de trabalho, a não fazer serviços que não são seus de maneira recorrente, e, principalmente, compreender que o vício de trabalho gera doenças, e não é a empresa quem irá perder com isso, será você, trabalhador, quem irá arcar com todo o ônus dos anos de acúmulo e de síndrome de super-herói. O que dignifica o ser humano é ter saúde, e principalmente nesse momento, é dela que mais necessitamos.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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