“Em pouco pirão; meu “Marshall” primeiro!”

Desastres; inevitável é a esperteza!

O noticiário é terrível. O Rio Grande do Sul afoga-se em chuvas intermináveis.

Parece o dilúvio que só Noé se salvou carregando tudo que importava numa barca.

No Rio Grande, sabe-se agora, que o dilúvio já acontecera igual, nos idos dos anos quarenta, oitenta anos passados, justo quando o país era governado por um Presidente-Ditador, nascido nos mesmos pampas, naquelas coxilhas fremosas, onde chimangos, maragatos e pica-paus campearam em lutas infindas, vencendo até os vizinhos castelhanos, numa terra que se crê mais brasileira, porque lutou assim, avançando além do Chuí, querendo ser até por ali, um outro país, um Republicano Piratini, mais brasilguaio que brasileiro, com esforços ate mesmo garibaldinos, por farroupilha e libertário, regando generosamente o solo com sangue, ao sabor do tempo e até contra o vento, com jabiraca no pescoço e bombachas engrossando as coxas, e com muitas gravatas vermelhas à faca desgüeladas.

Porque a História do Rio Grande é heroica.

Ela não padece da melancolia comum e despretensiosa deste Brasil, gigante, inzoneiro, cantado no verso e no pandeiro.

Isso porém é história renhida, esquecida, como não devia ser desde o pacificador Tratado de Poncho Verde, regado a chimarrão e muita carne bem torrada na grelha.

Pois bem! O Rio Grande do Sul está a chorar, ousando resistir às chuvas que não param, justo até quando suas bombachas mais atrapalham que ajudam, mostrando tudo o que todos sabem, no mundo inteiro, e nunca aprenderemos: os alagamentos são inevitáveis, coisa de cota e nível, os rios fluindo de riba a baixo, contrários ao fogo que sobe montanha a cima, sem respeitar, jamais!, a imprevidência dos homens.

E em tanta imprevidência, estou a lembrar os idos de 1960, justo quando eu tinha treze anos, momento em que o açude Orós, no distante Ceará, sangrara afogando nordestinos à jusantes do Rio Jaguaribe, um rio que quase seco resta muitas vezes.

Nesse tempo, os Escoteiros do Grupo Jackson de Figueiredo de Sergipe, do qual eu fazia parte, se inseriram nas múltiplas campanhas para ajudar os nossos irmãos flagelados da “Terra da Luz”, como assim já cantava Humberto Teixeira, o compositor parceiro e mais famoso de Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”, em seu pouco divulgado hino-ode às belezas do Ceará.

Revejo-me menino com farda escoteira, chapéu na cabeça, lenço bicolor, branco e grená no pescoço, meião na canela toda da perna, calça-curta e cantil na cintura, todo cioso e garboso com a missão que a mim fora conferida: angariar caixas de fósforos para os nossos irmãos nordestinos que haviam perdido tudo; até os fósforos para acender os seus fifós.

Conto a história para mostrar a inocência da minha missão batendo palmas nas casas vizinhas pedindo fósforos para mandar pros sofredores de Orós.

Lembro que muitos não tendo fósforos davam dinheiro, numerário que me serviu para comprar muitos botes de fósforos, uma surpresa para o nosso Chefe, com a quantidade arrecadada.

Campanhas à parte, uma vez cumprida minha tola tarefa, deixo de informar o que os fósforos alumiaram.

Minha missão foi executada e eu a lembro, com um misto de saudade e de ingenuidade, porque nesses momentos infaustos os homens se irmanam e se ajudam, como deve ser,

E está sendo também agora, com vários pedidos via Pix, essa notável obra que o Presidente Bolsonaro instituiu e todos gostam.

Quanto a mim, eu já fiz a minha contribuição visando o refrigério de nossos irmãos gaúchos, esperando que lhes seja mais útil do que os fósforos da minha infância.

Voltando agora às intempéries, entendo que sempre existe uma solução ditada pela Engenharia.

Ela, a Engenharia, pode tudo.

“Dê me uma alavanca e um ponto de apoio e eu moverei o mundo”, repetia Arquimedes o genial combatente de Siracusa, aquele mesmo que incendiara as naus romanas colimando os raios solares, via espelhos convenientemente posicionados concentrando-lhes por focos fatais.

Coisa de reflexão simples, estratégia sempre disponível ao homem, como tantas, para vencer a natureza, domando-a sempre, e dela se aproveitando para construir o seu viver.

Todos sabemos que as chuvas torrenciais alagam sempre os mesmos lugares e os homens contemplam os rios destruindo tudo no seu caminho sem se afastarem de seus leitos, mesmo se estiverem obstruídos, e se ali for construído o que não deveria sobretudo.

E o homem sempre teima em ser imprevidente no estio, avançando sobre o rio, fazendo-o esgoto, cloaca sinistra do seu enfastio.

Soluções, a Engenharia possui, todas!  O problema é a conveniência de executá-las!

Alguns acham ser mais fácil jogar lixo nas ruas, espalhar esgoto na sarjeta e levar seu cachorrinho tão bonitinho pra descomer no passeio do vizinho. Uma questão de muita ausência de educação, em excedente intolerância em desleixo com a própria natureza.

Hoje se fala muito em “descarbonização”, palavra nova e bonita que pouca gente entende e como fazê-la, elegias de energias muito verdes, tecnologias tão futurísticas que ninguém sabe o que quer, mas quer, porque virou moda ter um carro diferente daquele que se compra no mercado, e que circula nas nossas ruas, hoje considerados os vilões definitivos do meio ambiente.

No meu entender, isso tudo é só política. Coisa de lobby comercial, fruto da chamada destruição criativa que bem falava Joseph Schumpeter, exercida ao extremo pelos que apressadamente querem extinguir toda a civilização embasada no petróleo, justo agora em que novas jazidas estão descobertas na nossa vizinhança.

Nesse contexto de descarbonização, fala-se até em proximidade terrena de juízo final, com o mais que crescente aquecimento global, alguns pregando a extinção dos aviões poluidores, o consumo de proteína animal, aí sendo inseridos até os arrotos das vacas, em tentação ao buraco de ozônio, junto com o El Niño  e a El Niña, todos incomensuravelmente perigosos.

Nesse contexto de perigos múltiplos, eu lembro que o Mar estava invadindo a Praia Formosa. Coisa de El Niño ou El Niña, sem jeito nem solução. O mar iria virar sertão e o sertão iria virar mar em tantos Vis Savonarolas, vis-a-vis maus Conselheiros nesses pecos comuns dos nossos apicuns.

Nesse tempo o Prefeito era João Alves Filho, Engenheiro notável, “chapéu de coro”. E ele disse: “Nem o sertão vai virar mar nem o mar virar sertão! Eu tenho a solução! Pelo menos na minha gestão!”

Caíram de pau na solução de João.

A solucionáutica do Negão, como ele gostava de assim ser chamado, iria criar um problema “equológico”, seríssimo!, porque ninguém deve ter a ousadia de conflituar a maré, nem mesmo por ali um jereré qualquer, desafiando em contramaré a tabua da política. Nem a remo, nem a vau, nem a pau!

Caíram de pau em João.

Eram tempos de muitas falas e obras ralas.

Sergipe se iludia como as sereias o tentaram a Odisseu em tempos homéricos.

E todos o sabem e viram, que um vasto cabedal científico foi requisitado  para desancar o projeto que impediria o afundamento da Praia Formosa, alguns até achando bom, via opinião anônima na internet nascente, que os Prédios da Avenida Beira Mar, justo os mais bonitos da cidade!, fossem tragados pelas águas.

E bote sabedoria científica!, porque Sergipe com a Praia Formosa sendo invadida pelo mar, daria o melhor exemplo para o mundo!, sacrificial até para Veneza, sem Duque e sem Nobreza, abandonando-se em baixeza ao vai-e-vem do Adriático!.

Coisa de sacanagem e de clima! Ou sacanagem apenas?

Porque por excedente sacanagem, o projeto de João foi torpedeado até no judiciário, sendo embargada a obra iniciada, gerando o caos na cidade, com o trânsito sendo alterado, num desvio ao desvario, pela Rua Celso Oliva, nunca ali tão execrado.

Pra terminar a história, alguém pôs o feito aos autos, reformando todos os desacatos, se houve ou não, porque nessas horas há aqueles que melhor entendem não perquirir culpados, a obra podendo prosseguir e terminar, com a Praia Treze de Julho, ficando mais Formosa ainda, com o calçadão ali erigido, convidativo para as minhas caminhadas matutinas ou vespertinas.

E para findar de vez a história, e voltar aos alagamentos sulinos, devo dizer que não conheço nada da hidrologia gaúcha, para suscitar conselhos e sugestões.

Mas, que sejam convocados os Engenheiros.

Com cuspe e jeito, conhece-se por anedotário, cabe-se tudo! “Até um boi entrar nos fundos de um sujeito!”

O que não cabe é o visto na reunião do Governador Eduardo Leite do Rio Grande do Sul, posando de Salva-vidas, bombeiro, ou sei lá o que!, e fazendo o Lula sorrir, todos farsescos e burlescos, reivindicando um salvador “Plano Marshall” em pagamento de velhas dívidas.

Porque se a moda pega, repetir-se-á o acontecido no tempo do Presidente Bolsonaro em que a COVID convocou a todos; governadores, legisladores e supremos julgadores a assestarem cutelos longamente afiados no pescoço do Mito previdente, que ali estava vulnerável, todos dele querendo anistias de antanhos débitos, estranhos abonos para compras de vacinas, de respiradores mecânicos, digitais hospitais de campanha, o escambau!, com o sempre eterno pedido perdulário, por ordinário, de flexibilizações em compras e legislação, tudo que a bandalha escancara quando surge um trauma, por pública calamidade.

Se a moda pega, eis a razão do riso a arrastar-se sem guizo. Logo virão todos os Governadores em lauto sorriso, com pouca chuva e muito estio dizendo: “Em pouco pirão; meu “Marshall” primeiro!”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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