Estratégia das Tesouras

Por primeira referência, ouvi de Olavo de Carvalho o termo “Estratégia das Tesouras”.

Nada me ocorrera antes, embora nunca fosse iludido na falsa interpretação de que houvesse na política duas agremiações antagônicas do que fossem ou professassem.

Sempre desconfiei dos antagonismos explicitados, como se a humanidade fosse assim tão imiscível, imisturável!

No caso do Brasil, em sequência ao regime autoritário militar, em dezenas de agremiações partidárias, a mistura fica bem pior, mascarando tudo, embora aqui não se veja uma sigla que seja de pureza confiável, algo que pareça bem peneirado em distinção ideológica.

Somos um país em miríade de esquerdas, ninguém ousando se acenar como “de direita”, esta coisa nova que ninguém sabe o que é, mas que vem aparecendo porque acenaram ao longe, bem distante, que há uma ventania a surgir em contracorrente ao que foi e ao que tem sido.

Do espectro partidário vigente na República dita populista, aquela que nasceu com a queda do Estado Novo em 1945 e que sem tiro morreu em 1964, matada por tropa e banda de música aplaudida na rua, os grandes partidos políticos eram três: o Partido Social Democrático, o PSD, a União Democrática Nacional, a UDN, e o Partido Trabalhista Brasileiro, o PTB.

Fora destas agremiações partidárias existiam muitas outras, em dezenas a perder de vista, cujos seguidores não preenchiam em suficiência os bancos de uma Marinete, como assim se chamavam os ônibus de Seu Misael e de Pedro Menezes, em perdidas lembranças da minha infância.

Em Sergipe, o PSD, o partido dos Leite, sobrinhos, que sempre se coligavam com o PR, o Partido Republicano, dos Leite, tios daqueles, em disputa familiar que mais os reunia que de fato repartia.

Ideologicamente, não havia nenhum sonho socialista, moda universal por radical na época, valendo nos seus veios familiares, variegada orientação pelos diversos ramos do pensamento político, uns ousando ser comunistas, pagando até por isso, outros sendo socialistas, poisando em fofuras por moderados, enquanto outros sem ser de fato seus opostos figadais, faziam-lhes resistência, as vezes se envolvendo em urras e turras, tudo bem repartido nas burras comuns partejadas sem nenhum fratricídio comprovado, em tantos temores e clamores nos palanques denunciados.

Se houver um perquirir isento no âmago historial daqueles tempos plúmbeos ecoados, por verve soviético-stalinista, ou por viés modal, trotskista, ver-se-á que em ausência do falseio comum propagandeado, só havia entre os simpatizantes daquelas ideologias exóticas algumas dezenas de seguidores, homens e mulheres, nada que fosse altamente diligente para em suficiência atrair multidões.

Seus seguidores, no máximo conseguiam eleger uma magra deputação, faltando-lhes resistência contra a aragem que a si foi levantada, e que virou vendaval pondo-os na ilegalidade, ceifando figuras simples, homens comuns do povo, sem maior liderança e penetração na sociedade, que se tornaram alvos fáceis e fragílimos  nas rotineiras perseguições que se sucederam em cascata, desde 1935, na decantada “Intentona Comunista”, passando por 1937, com o pernicioso “Plano Cohen”, atingindo a redemocratização em 1947, com a ilegalidade do Partido Comunista, no dealbar da “Guerra Fria” por bipartição do mundo, e depois com o Regime Militar, quando tudo se agravou por duas décadas, justo no tempo da minha mocidade.

A partir deste tempo, o ser e o simpatizar com a “esquerda” passou a ser o simples se posicionar contra a continuidade do Regime Militar, ser a favor das eleições diretas em todos os níveis, rezar a favor da anistia, que foi encampada como ampla, geral e irrestrita, defender a  convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, necessária para o enterramento definitivo do entulho legal autoritário vigente, teses que por generosa simpatia foram adotadas, e assim terminaram festejadas  numa Constituição, tida por Cidadã, que bem ou mal vem ainda resistindo, em agônica veleidade, violada todo dia.

Como violar não é violentar, diz-se da boa ou má violação, que sempre há fertilidade, desde que não haja assistolia consentida nem outra ação humana que contrarie a natureza.

Se ao executivo, seja um Príncipe Imperial Ungido, ou um Presidente Republicano livremente escolhido, é condenável dar-lhe poder de molde a violar a própria lei, ninguém jamais pensou, em tantos “Presidencialismos Imperiais” denunciados, e tantos “semi-presidencialismos”, congressuais e consensuais, pensados e imaginados num festivo Congresso Consensual Constituinte, que dali fosse conjuminado simples “guerra de tesouras”, sagaz e inocuamente terçada, justo num cenário idílico e etéreo de uma Assembleia Geral Constituinte, dita “Cidadã”, em fofuras eternas explicitadas, e em subalternas dessulfuras de asperezas, que dali fosse gestado pior, porque pior sempre pode a alma humana se desgarrar, quando assim quer e deseja, como surgiu um Supremo Tribunal com Toga e Capelo, que em adquirindo vida própria por excesso supralegal cerebelo, como está a parecer bem pior, pior que o leviatã republicano roubado de Hobbes, parecendo dele estar apropriado, por criação de um  Dr. Frankenstein destabocado, para a todos assustar em amplas e ousadas ameaças.

Isso, porém, é coisa nossa, tudo fruto de muita guerra de tesouras, onde todos os lados cortam, a esquerda fingindo ser direita, todos posando diferentes. Todos falsos,  como uma nota cheia, semicolcheia, volta e meia cantarolada, em falsete fingindo moça, essa coisa falsa, vestal e virginal comum dos bordeis, cantos castratis celestiais, que sempre enlevam e enternecem, como anjos barrocos serafins.

Da natureza dos homens, em tempos vigentes “wokes”,  vem essa novidade da América, justo após a saga do Vietnam, e outras guerras perdidas, com o musical Hair, sofrendo a Era de Aquários que veio e morreu, surgiu agora como novidade o mal afamado “estágio de cama e sofá”, sabida prévia da qual treze entre dez estrelas de cinema galgavam e se ensaboavam, no cinema e no showbusiness, só agora denunciado por pouco remunerado, em velho ofício, arrependido dos  excedentes assédios concedidos, e nunca dantes, alardeados…

E que já estão agora por cansaço  entediantes, porque o mundo é o mesmo, e o que se falava antes mal limpo; continua…

Tudo se abluindo, em farta água, sem cuia nem checo acarinhados, desde o tempo em que faltava ducha, mas bem servia a bucha, desprezando o jato corrente, por robinette na bica ou na torneira, e sem vãs exigências, por reclames de sujeira!, restando tudo de novo, numa boa, não só para uso difuso, quanto profusa ação continuada, porque o que se faz contumaz consentido, repete o cidadão sempre sábio por comum, não deve jamais restar confesso por fedido e mal pago, compungido.

E mais; quem não cuida de si e do que é seu, até o rato, vendo come, e ninguém pode reclamar.

Todavia, o escândalo gera algaravia, sobretudo nesses tempos comuns muito rápidos da internet, e assim, passada a fase do “balance ton pork” , quando todo homem era um violento assediador, à “direita” que a tudo via e refletia por vias enviesadas, tomou para si tudo que lhe era denunciado como vil em danação eterna, nas chamadas causas identitárias.

Poucos comungam tais teses, comuns encampadas por serem e estarem na moda e assim a “extrema direita” está a espantar, porque nunca tantos não se pensaram iguais repelindo-as.

É o que chega da França em meio a uma eleição fora de hora, e dos Estados Unidos com Donald Trump vencendo o Presidente Biden, revelando toda fraqueza  do Yankee Tio Sam.

As eleições da França vitoriaram em 1º Turno os comandados de Marine Le Pen, da chamada “extrema direita”, diabolicamente denunciada em parentescos antanhos com o germânico Adolfo Hitler, aquele que só teve o bigodinho devidamente aparado, porque o mundo todo se juntou para escalpelá-lo.

Estou a escrever na quarta-feira 3 de agosto. As 18 horas de ontem terminou o prazo para que os postulantes do 2º Turno eleitoral se manifestem quanto as suas candidaturas no pleito definitivo que acontecerá no próximo domingo, dia 7.

A França tem um sistema eleitoral curiosíssimo, sobretudo por ser um sistema semipresidencialista, com o Presidente eleito, em mandato renovável de 5 anos, sem carregar nem ter um Vice-Presidente a si agarrado, e um Parlamento sempre renovado quando não há maioria que suporte o Primeiro-Ministro, que conduz o governo com todo o seu Ministério.

No caso atual, como houve uma eleição para o Parlamento Europeu em Bruxelas, e o Partido de Macron delas saiu derrotado, levando-o a antecipar as eleições da França, mandando embora todos os Deputados à rua, em busca de novos mandatos.

O gesto de Macron foi considerado um suicídio, resultando numa eleição em que a “extrema direita” do partido Reagrupamento Nacional de Marine Le Pen recebeu 34% dos votos, o Nupes da Nova esquerda Insubmissa, chegou em segundo com 28% e os Macronistas em terceiro lugar com pouco mais de 20%.

Visto assim o resultado da eleição ocorrida no domingo passado 1º de Julho, o cenário se descortinou para um 2º Turno, onde em tese concorreriam os mais votados em cada Distrito onde não ocorreu um vitória definitiva.

Do noticiário anterior, o RN tinha obtido 39 vitórias definitivas, aparecia no 1º lugar em 297, e 161 em terceiros lugares, evidenciando que haveria disputas em 2º turno em 501 circunscrições.

Como dito anteriormente, às dezoito horas de ontem encerrava-se a inscrição para o 2º Turno, havendo portanto, um trabalho de barragem ao RN de Le Pen, com a renúncia de candidaturas em “guerra de tesouras”,  similar ao que se deu por aqui em laivos de “terceira via”, todos contra o Bolsonaro, com os Macronistas dali, amplamente rejeitados se unindo agora à esquerda radical dos insubmissos de Mélenchon, que pode bem terminar governando a França, derrotando a ala majoritária da Direita.

A consignar tal “guerra das tesouras” poderemos ver a França seguindo o mesmo caminho de Portugal, quando o Partido de Direita, o “Chega”, ganhou a eleição em expressiva maioria, mas que em não conquistando a maioria absoluta do parlamento viu o poder fugir-lhe das mãos para os derrotados Socialistas, que unidos aos demais centristas de todos os naipes, continuam em nova geringonça governando as terras Lusas.

No ensejo das “guerras das tesouras”, a grande imprensa propagandeia lá e aqui, todos juntos contra a direita.

Aqui, por exemplo, em maré vazante de esquerda, loas e broas, com troças são retorcidas para serem transferidas em favor do PT, dito fedorento e moribundo, mostrando que tal e qual, àquele que dali fez história, sem lembrar que fora banido no voto, dourando o jeito e tentando lograr algum rejeito contra algum, qualquer um que se acene ser de Direita ou assim bem lhe pareça.

Sem se verem logrados, engolidos, gritam ainda lá e aqui: “A direita é reacionária”!

Ninguém sabe porém, o que seja reacionário.

Para que saber se hoje ninguém sabe também o que seja revolucionário?

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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