In Memoriam do Professor José Carlos Garcez de Menezes.

Faleceu no inicio da semana, após longa moléstia, o Professor José Carlos Garcez de Menezes, Professor Titular Aposentado da nossa Universidade Federal de Sergipe.

Muito amigo de seus muitos alunos, José Carlos lecionou por décadas a Disciplina Química Orgânica, formando várias gerações de Engenheiros Químicos, Químicos Industriais, Licenciados e Bacharéis em Química.

Fui seu aluno na antiga Escola Superior de Química de Sergipe, para a qual prestara Concurso Vestibular em 1967.

A Escola de Química pertencia administrativa e funcionalmente ao Estado de Sergipe, fundada que fora em 25 de novembro de 1948, formando Químicos Industriais a partir do 1º Concurso Vestibular em 1949, como obra modernizadora da Educação em Sergipe, dinamizada no 1º Governo José Rollemberg Leite, vinculada ao Instituto de Tecnologia e Pesquisa do Estado de Sergipe.

José Carlos Garcez graduou-se em Química Industrial em 1965, salvo engano, sendo colega de outros Químicos que se destacaram no ensino e na atividade tecnológica como Marcos Pinheiro Monteiro, João Sampaio d’Ávila, José Alberto Andrade, Pedro Sampaio Linhares, Leda Andrade, Ronaldo Carvalho Santos, Clêmisson Araújo, e tantos outros, uns sendo seus colegas de turma, e outros seus contemporâneos frequentando os bancos e laboratórios localizados, a princípio no prédio do ITPS na  Rua Campo do Brito, e depois nas edificações erigidas à Rua Vila Cristina, ao lado do Estádio de Estadual de Aracaju, quando ainda não era conhecido como Estádio Lourival Baptista, ou “Batistão”, onde as crianças, segundo o Hino de sua Fundação, cantado por Luiz Gonzaga bem diziam e se orgulhavam; No gramado do Batistão, enquanto os craques chutam bola / As crianças, dão lição / Nosso estádio tem escola / O estádio de Sergipe É o mais moderno da nação / Dá ao povo futebol e à infância educação, // A, E, I, O, U, / Viva Aracaju./ Batistão, / Gol do campeão. / Gooooool.

Cantatas à parte, a Escola de Química de Sergipe onde estudou José Carlos Garcez de Menezes orgulhava Sergipe, pois nascida sob inspiração de Antônio Tavares de Bragança, soube importar técnicos notáveis da Europa, que aqui chegaram no Pós-Grande Guerra, não para criar Bombas Atômicas como Oppenheimer e  Werner Von Brow, mas plantar em terras Aperipês o ensino das Ciências Exatas.

José Carlos Garcez foi aluno de Tavares de Bragança, dos romenos Petru Stefan e  Leonida Tancu, e do tcheco Czeslaw Kajetan Yohn, e tantos outros como Manoel Mendes Holanda, Mario Taveira Magalhaes, Dalva Nou Schneider,Helena Melo e Rodolfo Barreto.

Após sua graduação e tendo concluído Cursos de Especialização, José Carlos Garcez foi trabalhar no ITPS, associado a seu mestre Czeslaw Yohn no laboratório de Química Analítica, e também no laboratório de Química Orgânica com o Professor Armando Barros.

Posteriormente José Carlos foi lecionar na Escola Superior de Química de Sergipe nas cadeiras de Química Analítica Quantitativa, ao lado dos Professores Hélio Ferreira dos Santos, Maria Carmem Barreto, Leda Andrade  e Edson Sales, e também a disciplina Química Orgânica com os Professores Armando Barros e Emanuel Franco.

A fundação da Universidade Federal de Sergipe em maio de 1968, em meio ao ano letivo, provocou mudanças substanciais no currículo, criando alguns embaraços do ponto de vista pedagógico, afinal muitos dos professores se acharam impedidos de lecionar as disciplinas com antes.

A legislação que norteava o Ensino Superior Federal não encampara a anterior nomenclatura da Cátedra que vingava funcionalmente na Educação Superior do Estado de Sergipe.

De repente, muitos desses professores tiveram que renunciar a sua Cadeira, por acúmulo, faltando mestre para as aulas que restavam inconclusas em pleno início do ano letivo de 1968 estendendo-se aos seguintes, a despeito de todos os esforços dos muitos professores que ao lado de José Lopes Gama, então Diretor da Escola, ministravam aulas de diversas áreas no campo da Matemática, Física, Química, Físico-Química, Mineralogia e Tecnologia Química.

José Carlos foi um destes abnegados professores que tiveram que renunciar a Disciplina de Química Analítica Quantitativa e assumir a de Química Orgânica I e II, tempo em que fui seu aluno nestas três disciplinas.

Hoje tudo é memória e ninguém lembra das dificuldades e esforços daqueles mestres que iguais a José Carlos Garcez de Menezes tinham que assumir, a meio caminho, as aulas de outros, que por diversas razões não puderam continuar como formadores de jovens na nascente Universidade.

Da minha ligação com o Professor José Carlos Garcez, nasceu uma amizade que se traduziu em muitos feitos desde a sala de aula, dos bancos de laboratório, e até à escolha de seu nome como nosso Paraninfo da Turma de Químicos Industriais de 1970, e depois quando colegas, ele no Departamento de Química do Instituto de Química, e eu no Departamento de Física da UFS, quando juntos trabalhamos em diversos Concursos Vestibulares, quando a nossa UFSunificou o processo de ingresso aos diversos cursos superiores, uma novidade então, sem falar que eram toscas as tecnologias de reprografias.

Nesse campo, José Carlos Garcez de Menezes revelou-se aglutinador e eficiente no preparo e administração das provas de sucessivos Vestibulares, espalhados por vastos espaços nos diversos bairros de Aracaju, utilizando a Rede Pública e Privada, um sucesso ocorrido graças a sua previdente orientação, testemunhado de perto por mim que a ele estava junto como seu auxiliar, seu comandado.

Em destaque neste sentido, sejam lembrados os Concursos Vestibulares sendo   realizados ao mesmo tempo em Aracaju e nos municípios de Estância, Lagarto e Propriá, quando josé Carlos inserira no apoio ao Concurso Vestibular Interiorano os seus “companheiros e irmãos” radio amadores, num tempo em que a telefonia era insuficiente para a rapidez e pontualidade requerida.

Relembro como hoje a comunicação com radioamadores fixos e móveis, porque José Carlos, um espírito moderno e atualizado bem geria do próprio automóvel  o andamento das provas realizadas via rádio móvel.

Posteriormente, com a mudança de Reitores, assumiu a Reitoria da UFS o Professor Gilson Cajueiro de Holanda, nomeando José Calos Garcez, Pró-Reitor de Graduação, e a mim Diretor do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, iniciando-se um novo tempo de dificuldades, afinal o Reitor que saíra, Professor José Aloisio de Campos, de operosa administração, indiscutível, deixava sem concluir as primeiras obras do Campus Universitário de São Cristóvão, impossibilitando qualquer mudança para a Cidade que herdaria seu nome, e porque no âmbito acadêmico fora aprovada uma grande reforma curricular, que seria executada com o novo reitorado.

Nesse campo de dificuldades, coube a José Carlos, e hoje tudo é memoria e a esquecer, afinal a tarefa do homem é construir, e continuar a missão divina a concluir, coube a si, coimo Pró-Reitor de Graduação promover as mudanças acontecidas em feitos que se revelaram vitoriosos, sem alardes, nem destaques, como deve ser.

Posteriormente, e sob sua gestual paciência, aconteceram as primeiras mudanças para o novo Campus Universitário, mudando-se primeiro o Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, aquele de maior acervo científico e laboratorial, firmando-se como pioneiro no novo endereço, sem temer eventuais “animais peçonhentos divulgados como impedimentos”,  afinal é do humano a resistência frente à mudança, a inércia sendo sempre estimulada pelo acomodamento comum de cada um.

Depois da passagem de José Carlos Garcez e da minha também, a Universidade Federal permeou por um caminho assembleísta, quando a “Universidade Pública Brasileira iria se fazer melhor, a cada dia, com eleições livres e paritárias em todos os níveis; de Chefes de Departamento a Diretores de Centro Universitário, e destes a Prefeito de Campus, Vice-reitores e Reitores, tudo bom e notável”, cuja sequente história vem estimulando continuadas motivações para paralizações e movimentos paredistas.

Isso, porém, é outra história, e cada um deve zelar pela semente que planta em semeando a continuidade necessária.

Direi apenas do Professor José Carlos Garcez de Menezes ter sido um homem admirável por todos aqueles que seus amigos, alunos e colegas, o conheceram e com ele conviveram, cumprindo sobremodo a sua missão de mestre exemplar e que se notabilizou também como esposo amoroso de Gilma Cajueiro de Holanda Menezes, em cinquenta e cinco ou mais anos de amor compartilhado, com seus filhos Geane e José Carlos Filho, e os netos advindos por sequência.

No seu sepultamento, quis dirigir-lhe algumas palavras.

Não o fiz.

Não quis me emocionar em tantas lembranças relembradas.

Por outro lado, o Professor José Carlos Garcez de Menezes era um homem mais de prática que de teoria, não sendo portanto de discursar nem de ouvir falações.

Que Deus, “diante de quem não há nenhum homem justo”, bem o acolha no Seu seio, por amado esposo, dileto pai e amoroso avô em missão do existir, e por ser um querido mestre de gerações, enquanto continuador da missão divina, nos diversos cantos da Química em terras ressequidas de Sergipe.

Esta é a minha prece!

Requiescat in pace!

E que seja cantado ao Professor José Carlos Garcez de Menezes a Lacrimosa de Wolfgang Amadeus Mozarthttps://youtu.be/k1-TrAvp_xs?si=CiNc5E6sWaQ3gjsB, para quem quiser ouvir e se associar a minha prece.

Amem!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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