O que eu poderia dizer a minha filha Daniela no dia dos seus cinquenta anos?
Cinquenta anos não são cinquenta dias nem são cinquenta horas. Também não são cinquenta momentos a lembrar, porque lembrar é jamais perder nem esquecer.
Como perder de vista aquele momento em que você passou por mim numa cestinha ao desabrigo do frio, nuazinha, a revelar seu sexo; uma responsabilidade que parecia maior para mim, afinal era pai de uma menina que nos chegava agora, e já estava chorando, inchando o peito para a vida, e reclamando já do pouco conforto que é viver separada do aconchego de sua mãe, minha Tereza, naquele dia distante, 12 de outubro de 1974, na Clínica Santa Lúcia, sob as mãos abençoadas do Dr. Hugo Gurgel e auxiliada pelo então doutorando, Wagner Bravo de Oliveira, hoje grande expoente da Medicina sergipana.
Como não lembrar dos meus receios, temendo não ser um bom pai como ela bem o merecia, ela que fora a fruição do nosso desejo, frente a dificuldade que a vida nos impõe em cuidados, alimentação e boa instrução, e o contínuo preparo para a vida, que é algo tão difícil por exigir persistência e continuidade…
E o que é bem mais difícil: preparar alguém para o saber viver?
E eu próprio: saberia eu o que seria mesmo o bem educar, preparar um tenro ser tão bem recebido, para vencer todos as dificuldades que o viver impõe, justo eu, alguém que não se sentia assim tão capaz e infalível nas minhas angústias pessoais, de evitar o erro de rota, e com ele uma perda de rumo e desviar para um fracasso indesejado?
Como possuir alguma dúvida na rota e no timão, se Deus nos acompanha por todos os mares, desde os calmos e cálidos onde as sereias ensurdecem, aos tormentosos onde a esperança tergiversa e desafia, levando-nos sempre ao desconsolo que permeia um halo de abandono e ao desabrigo?
Porque as dúvidas de ontem são as de sempre.
Não é o homem o mesmo, em sonhos iguais e angústias?
Dir-se-ia em mesmo contexto a velha sabedoria imortal a ser repetida todo tempo: “Filhos criados, trabalhos dobrador!”
Hoje, cinquenta anos passados, a menina virou mãe, me dando dois netos formidáveis, meus atletas de segunda geração, filhos do Urologista Cearense Mário Henrique Tavares Martins: Pedro Henrique, com 17 anos preparando-se para ingressar num Curso Superior, e João Marcelo com 13, já que na primeira geração de atletas estão todos três; a Dra. Daniela Garcia Moreno Cabral Martins, Cardiologista e Arritmista de escol; o Dr. Manoel Cabral Machado Neto, vitorioso Procurador Geral de Justiça do Estado de Sergipe, concluindo o seu segundo mandato a frente do Ministério Público de Sergipe, em grande valor, brilho e respeito perante a sociedade e seus colegas de Classe, como aliás deve ser sem alardes; e o Professor Odilon Cabral Machado Junior, o meu Junão, vitorioso mestre na formação de Cursos e Concursos, ele que também é Analista Concursado do Ministério Público de Sergipe.
Porque se é uma coisa que nos orgulha, a mim e a minha Tereza, é que todos três galgaram as suas funções e atividades, norteadas na aferição do próprio mérito, com denodo esforço, como deve ser, a que nunca faltaram o nosso acompanhamento todo tempo, nos apoios e estímulos necessários, eles virando os nossos troféus, em preces voltada aos céus, no nosso eito semeado.
E nesse bom semeio, um amigo nosso nos disse um dia perguntando o nosso signo, eu um canceriano, e minha Tereza; taurina.
Disse-nos ele e eu gravei por interessante, jamais imaginando que o acaso dos astros nos regesse assim: “Câncer é água, Touro é terra. Água e Terra formam lama, e da lama vem a fertilidade de onde a vida sempre brota!”
Segundo este amigo, o nosso sucesso por ele mais observado que por mim, tinha sido escrito nos astros pelas nossas escolhas afins.
Se não foi tanto assim, nunca nos faltaram o denodo continuado na formação desses atletas, eu sendo-lhes o mestre em tudo, das Ciências Exatas às Humanas, passando pelas Biológicas, de que nada sabia, mas lhes servia de apoio e companhia, às vezes em madrugada adentrando, me somando ao conteúdo escolar ministrado nos concursos vestibulares e nos demais concursos, quando formados, venceram provas outras em Estados diferentes da Federação.
Nunca os quisemos afastados das nossas assas, ajudando-os a alçar voos, como condores se possível, nos arroubos próprios de cada um. Sem temer mas tudo poder alçar, com esforço próprio, firmando exemplo, para si mesmos e com isso se orgulhar; por que não?
Por que não, se a vida exige tanto e quer de nós tão pouco?
Não nos basta ser heróis e ser atletas nas causas simples do simples viver e construir, um mundo melhor pelo menos, na simples passagem do voo da ave do poeta, que ali não deixaria rastro, como o animal que havia passado e não mais existia?
Não foi assim que pensou o poeta? ;
E o que dizer a minha filha Daniela, nos seus cinquenta anos de vida, o que não diria aos meus outros dois filhos, e aos meus seis netos por eles gerados, Pedro Henrique e João Marcelo, da cinquentona Daniela com Mário Henrique;Vinícius e Julhinha, de Machado e Aline; e as gêmeas Luiza e Isabela, uma “Maynart” e outra “Machado”, ambas de Junão com Maíra?
Diria tanta coisa que o coração sufoca em alegrias.
Agradecer a Deus que me deu Tereza Cristina, a “minha Tereza”, que restou assim, onde o “minha” aí está inserido menos que posse, mas por complemento real!
Alguém que longe de mim me desfaz incompleto, desfigurado, mal posto na foto, qualquer filme ou companhia.
E nessa minha elegia, peço a meus leitores, que nada têm a ver com os meus gozos, uma licença para exaltar esta minha alegria de viver, no meu tolo e simples viver, como pai e avô apenas, nesta glória exaltada agora, de louvar a vida de minha Dani querida, minha primogênita, Médica Inteligentíssima, Cirurgiã e Arritmista, em muitos títulos e vitórias, ela que escreve tão bem, melhor que eu, magnificamente!, grande mãe e esposa sendo lembrada por mim, dias e dias crescendo, sendo professora de inglês do Instituto Canadá na adolescência, e depois como Médica do Hospital Sarah Kubistchek em Brasília, que resolveu criar os filhos em Sergipe, junto a nós no nosso afago.
Por que eu não louvaria os meus dias com o seu viver junto a nós?
“Que Deus a abençoe, minha filha!”
Não foi assim, com esse texto, que esse velho pai não tão velho espalhara muitas faixas pela cidade, no seu vestibular e na sua formatura?
Os nossos corações alçavam os céus então, como agora, iguais ao da águia além das montanhas em alegria.
Que poderia eu dizer?
Muito mais!