Xi Jinping na França.

Xi Jinping na França.

O Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, esteve visitando a França com mãos estendidas, afirmou assim o Jornal LeFigaro em matéria de capa onde se exibem numa mesa oval o Presidente Francês Emanuel Macron, ladeado pelo líder chinês visitante, e pela Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

XI Jinping, Macron e Ursula von der Leyen.

 

Na minha ótica, a fotografia disse tudo da realidade atual da França.

 

Já vai longe o tempo em que o General Charles De Gaulle sozinho, transparecia um charme de liderança mundial, que alquebrada se esvaía, nos escombros de uma fragilizada Europa, a requerer ajudas Marshall, para a sua reconstrução.

 

A França, embora não se creia tanto assim, limita-se hoje ao sufoco do seu hexagonal território, sem esperanças, nem futuro, com seus “garçons” e “fillettes” se contemplando em glórias perdidas, por saudosas lembranças de um império colonial, de onde foi banida em derrotas sucessivas.

 

Se hoje já vai bem longe, setenta anos passados, a sua rendição em Dien Bien Phu, na Indochina, em 1954, deslembrados estão os infaustos acontecidos com os “Pieds-Noir”, argelinos, marroquinos e tunisianos, banimentos hoje, sequentes e continuados, no Mali, no Niger, em Burkina-Faso, em todas “Terres d’Afrique” de colonização francesa, onde a tríade republicana, por tricolor excelência, “Liberté-Fraternité-Égalité” restou mal exercida, virando horror em falsa cor de demência; uma falência vazada pior em vã galhardia, que até os acordes de “La Marseillaise”ali soaram pérfidos e fátuos, justo quando jamais o deveriam ser, tão baldios e mal solfejados.

 

E porque ali foram cantados assim, em má hera e pior harpejo, por colonização presunçosa, atrabiliária e intolerante, tais protetorados, restaram exemplarmente banidos, esponjados e deslembrados, com a Legião Estrangeira sendo expulsa, levando junto tantos Beau Geste, exaltados em filmes, quanto outros de más gestas piores encenadas e romanceadas, que bem mereciam ser refletidas para jamais ser repetidas.

 

A República Francesa, todavia, nunca reflete os próprios erros cometidos, numa esperança talvez, de repeti-los, mais uma vez, repisando-os!

 

Deste repisar da História, disse Karl Marx em seu mais que famoso, por legível!, “Dezoito Brumário de Luís Bonaparte”, que a saga humana costumeiramente se repete em tragédia e farsa, chorando numa, e sorrindo em outra, e lamentando-as, todas!

 

A França, então vista por Marx como seu universo a merecer estudo que interessasse ao mundo proletariado, tinha nos dois Bonapartes, o tio heroico e o sobrinho não tão bravo, a calamitosa desesperança da classe obreira, mundo a fora, em busca da liberdade.

 

Viu-se depois porém, que na busca deste anseio libertário, os Bonapartes chegaram e partiram, com as farsas e tragédias bisando sucessivamente em cascatas, nunca tantos sofrendo quanto, em infaustas guerras!

 

Das guerras nefastas ou justas, dizia Charles de Péguy, poeta notável, que seriam felizes todos aqueles franceses, e ele também, inclusive!, se morressem numa guerra justa.

 

Vale repetir seus versos num desejo acontecido; pelo conteúdo idealista e viril ali contido, e a ele próprio, em premonição, acontecido: “Felizes os que morreram pela terra carnal,… numa guerra justa, […] Felizes aqueles que morreram nas grandes batalhas, Adormecidos sobre a terra e à fronte de Deus […] Felizes as espigas maduras e os trigos colhidos”.

 

Dir-se-á que Charles de Péguy falava de uma guerra justa em defesa de sua terra carnal, a França, que iria lutar contra um inimigo espoliador, cruel e barbário, como estava então em propaganda a Alemanha do Kaiser Guilherme II, e não aquela que viria depois com Adolf Hitler, e seu Nazismo, anticristão, em muitos erros outros repetidos, em novas tragédias de muitas farsas.

 

Hoje a França é amiga irmã da Alemanha, ambas despojadas de seus estatutos potenciais de antigas grandes nações, mas exibindo o tosco cocar cidadão igualitário, enquanto participes de um mesmo estado comum, a União Europeia, espécie de união federativa de vinte e sete estados aderentes, os Estados Unidos da Europa, sob uma Presidência Rotativa, eleita periodicamente, e que hoje vem sendo presidida pela alemã, Ursula von der Leyen, aquela senhora que posa na foto de Macron com Xi Jinping, como se fosse um adorno apenas.

 

De forma até com pena amena, direi que o retrato transparece o contorno de uma realidade não comatosa no todo, mas enfisemática, com certeza, constatando um queda amena, mas continuada, da importância daquelas nações, a francesa de Hugo e Lamartine, e aquela germano-tedesca de Kant e Hegel, sob acordes tardios  de Ludwig Van Beethoven em sua Nona Sinfonia, cantando os versos de Friedrich Schiller, como Hino Nacional Europeu, em bandeira toda azul, multi estrelada.

 

Uma modular realidade, que bem revela a queda de importância e de própria independência daquelas nacionalidades, por quem brigaram tanto Clemenceau, Ludendorff e Bismark, e das quais se afastou, por Brexit, o Reino Unido, justo depois que experimentou e desistiu, dali fugindo, presto e ligeiro, em referendo altivo, justo quando a geografia já os unia, por trem ou carro, bom túnel e fantasia.

Charles De Gaulle e Konrad Adenauer em promessas de amizades eternas

 

Por boa esperança ou fantasia, e sem conseguir ver a outra luz no fim do túnel, no idos e olvidados tempos após 2ª Grande Guerra, a França de Charles De Gaulle e a Alemanha de Konrad Adenauer acreditaram que só unidas evitariam a hostilidade e o belicismo de sua história desde Charles Martel, um feito enaltecido em monumento erigido em Berlim, justo nos espaços onde desfilavam os exércitos de Adolf Hitler e que vale a pena exibir.

 

Hoje percebe-se que há uma polaridade crescente com a União Europeia avançando sobre as nações mais ao oriente da Velha Europa, onde imperava a esfacelada União Soviética, isso após a queda do Muro de Berlim, e o desmoronamento do Pacto de Varsóvia, fazendo ressurgir a não esquecida rivalidade entre os ocidentais e os eslavos com a Guerra da Ucrânia refazendo as velhas divergências desde Pedro, o Grande, ao Norte, no Mar Báltico, e também com Catarina, a também Grande, nas águas tépidas do Mar Negro, junto a Kiev, com Sebastopol, e toda Criméia, derrotas nunca esquecidas como as sofridas batalhas de Lord Cardigan, cantadas por Alfred Tennysson, onde  «Não há nenhuma razão / só há que agir e morrer”, no seu poema esquecido “Carga da Brigada Ligeira”.

 

Esquecido e não aprendido, diga-se em sequência, porque hoje Macron quer envolver sua França na Guerra da Ucrânia, falando em enviar combatentes para lutar num conflito tido por ele como justo e necessário, e querendo atrair para si os olhares de Xi Jinping, um poderoso competidor do comércio universal.

 

E Xi ali não quer se envolver, afinal os europeus orientais e a Rússia em particular têm sido muito mais próximas, até ideologicamente falando.

 

Porque a China bem se lembra dos seus revoltados boxers, e dos famosos “55 dias de Pequim”, derradeiro canto da prepotência ocidental, ali romanceado por acontecido, quando Catai se deixava explorar, num império sonolento, desde Kublai-Kan e Marco Polo, à espera de Mau Tse Tung e sua terrível Revolução Cultural, e até do derradeiro massacre justo na praça, que aqui bem seria do povo, mas que ali diz-se bem ser, da Paz Celestial!

 

A China de Mao Tse Tung e Zhou Enlai sobrou pra Teng Hsiao-Ping, aquele que em pragmatismo dissera, por comparo, do comunismo com o capitalismo: “Não importa a cor do gato, desde que este coma ratos”, verve que bem fez sorrir o recentemente falecido Henry Kissinger, e seu mentor, Richard Nixon, o Presidente Republicano dos Estados Unidos a quem serviu, e que restou apeado pelos escândalos Watergate, mesmo com a sua política vitoriosa de Détente com a Rússia e com a própria China, em términos de Guerra Fria, concluindo a paz com o Vietnam, e a assinatura de mútuos tratados de não proliferação de armas nucleares.

 

Ogivas nucleares à parte, hoje a China é uma potência econômica sem paralelo cada vez avançando nos mercados, sobretudo onde a França, a Alemanha e toda União Europeia vêm regredindo e reivindicando regras protetivas de comércio internacional.

 

Que quer a China, perguntam a Xi os franceses e este responde em longa entrevista no Le Figaro:

Entrevis Xi Jinping no LeFigaro.
Screenshot

Tenho o grande prazer de realizar, a convite do Presidente Emmanuel Macron, a minha terceira visita de Estado à França.

 

Para os chineses, a França tem um encanto único. É o berço de tantos grandes filósofos, escritores e artistas que inspiraram a humanidade.

 

Há mais de 150 anos, o povo francês participou do desenvolvimento da construção naval de Fujian e na criação da Escola Naval de Fujian.

 

A França foi um dos primeiros países a acolher bolsistas do governo chinês antes de receber no seu solo, há um século, jovens estudantes chineses, alguns dos quais eminentes deram um contributo notável para a fundação e o desenvolvimento da Nova China.

 

Foi o primeiro grande país ocidental a estabelecer relações diplomáticas com a Nova China a nível de embaixador.

 

Neste ano de 2024, que tem um significado particular, venho a França com três mensagens da China.

 

A China trabalhará com a França para promover o espírito que rege o estabelecimento das suas relações diplomáticas para promover as conquistas e construir o futuro das relações sino-francesas.

 

Este ano marca o sexagésimo aniversário das relações diplomáticas sino-francesas.

 

Há 60 anos, o General de Gaulle, com uma visão estratégica, tomou a decisão de estabelecer relações diplomáticas com a Nova China, uma decisão difícil porque exigia um espírito de independência em plena Guerra Fria, mas justa e visionária. como os fatos o provaram.

 

Esta ação pioneira construiu pontes de intercâmbio entre o Oriente e o Ocidente e fez com que as relações internacionais evoluíssem para o diálogo e a cooperação.

 

Durante 60 anos, as relações sino-francesas sempre evoluíram ao longo do tempo.

 

Foi com a França, entre todos os países ocidentais, que a China estabeleceu a primeira parceria estratégica global e o primeiro diálogo estratégico institucionalizado, lançou a primeira cooperação na aeronáutica, na energia nuclear civil e nos mercados terceirizados, e tomou as iniciativas de criação recíproca de bens culturais, que desempenharam um papel orientador na inspiração mútua entre as civilizações do mundo.

 

A isto acrescenta-se também a cooperação que permitiu a conclusão do Acordo de Paris, do Quadro Global de Biodiversidade Kunming-Montreal e contribuiu enormemente para a agenda climática global.

 

A história é a melhor professora.

 

O mundo de hoje, longe de ser pacífico, enfrenta mais uma vez múltiplos riscos.

 

Com a França, pretendemos manter o espírito que rege o estabelecimento das nossas relações diplomáticas para avançar constantemente a parceria estratégica global sino-francesa e dar uma nova contribuição para o fortalecimento da cooperação no mundo.

 

A China expandirá a abertura de alto nível para aprofundar a cooperação com a França e outros países ao redor do mundo.

 

Este ano marca o 75º aniversário da fundação da Nova China.

 

Nos últimos 75 anos, graças à perseverança de todo o povo chinês, a China deixou de ser um país pobre e atrasado para se tornar a segunda maior economia do mundo e tirou da pobreza várias centenas de milhões de pessoas rurais, realizando assim um milagre nos anais do desenvolvimento da humanidade.

 

A economia da China registou um crescimento de 5,2% em 2023 e tem como meta um crescimento de cerca de 5% para 2024 e, sobretudo, um desenvolvimento de melhor qualidade.

 

A China continuará a ser um motor de crescimento global e proporcionará oportunidades a todos os países.

 

Uma experiência importante que a China aprendeu com o seu desenvolvimento e há de prosseguir, inabalavelmente, a abertura para o mundo exterior.

 

Ficaremos felizes em ter mais produtos agrícolas e cosméticos franceses de qualidade no mercado chinês para atender à aspiração crescente por uma vida melhor.

 

Acolhemos empresas da França e de outros países e, para isso, abrimos completamente o mercado à indústria transformadora e aceleraremos a flexibilização do acesso ao mercado em favor do sector dos serviços, como o das telecomunicações e da saúde.

 

Concedemos isenção de visto para estadias de 15 dias a titulares de passaportes comuns da França e de vários outros países, e implementamos novas medidas para facilitar as visitas turísticas e o pagamento de estrangeiros na China.

 

A abertura da China ao mundo exterior também envolve encorajar as empresas chinesas a desenvolverem-se internacionalmente.

 

Atualmente, a França está empenhada na reindustrialização baseada no desenvolvimento e na inovação verdes, e a China está a acelerar o desenvolvimento de novas forças produtivas de qualidade, permitindo que as duas partes aprofundem a cooperação em inovação para promover o desenvolvimento verde.

 

Este já é o caso de um certo número de empresas chinesas que instalaram fábricas de baterias na França.

 

O governo chinês apoia mais empresas chinesas nos seus investimentos na França e espera que  a França lhes ofereça um clima de negócios justo e equitativo.

 

A China trabalhará com a França para fortalecer a comunicação e a coordenação para salvaguardar a paz e a estabilidade mundiais.

 

Este ano marca o 70º aniversário dos Cinco Princípios de Coexistência Pacífica.

 

Em 1954, o primeiro-ministro Zhou Enlai apresentou-os pela primeira vez: respeito mútuo pela soberania e integridade territorial, não agressão mútua, não interferência mútua nos assuntos internos, igualdade e benefício mútuo e coexistência pacífica.

 

Durante 70 anos, estes princípios foram amplamente aceitos e reconhecidos por diferentes países e são hoje normas importantes que regem as relações internacionais contemporâneas.

 

A China aplica fielmente estes princípios.

 

Desde a fundação da Nova China, há mais de 70 anos, nunca iniciou uma guerra ou ocupou um único centímetro de terras alheias.

 

É o único país do mundo que incluiu na sua Constituição o compromisso com o desenvolvimento pacífico, e o único entre os principais países com armas nucleares que se comprometeu a não recorrer a elas primeiro.

 

Nos últimos anos, apresentei a Iniciativa de Desenvolvimento Global, a Iniciativa de Segurança Global e a Iniciativa de Civilização Global, que trazem a proposta da China para melhorar a governação global e responder aos desafios de desenvolvimento para a humanidade, e beneficiam do apoio de mais de 100 países e organizações internacionais.

 

Compreendemos a perturbação que a crise ucraniana está a causar aos europeus. A China não causou esta crise, nem é parte ou participante dela. Mas sempre desempenhamos um papel construtivo na promoção de uma solução pacífica.

 

Em diversas ocasiões, apelei à observância dos objetivos e princípios da Carta das Nações Unidas, o respeito à soberania e integridade territorial de todos os países, tendo em conta as legítimas preocupações de segurança das diferentes partes, e insisti na necessidade imperativa de não utilizar armas nucleares, armar ou travar uma guerra nuclear.

 

Fornecemos ajuda humanitária à Ucrânia e o nosso enviado especial realizou várias viagens aos países em causa. Quanto mais a crise persistir, mais a Europa e o mundo sofrerão. Esperamos que a paz e a estabilidade regressem rapidamente à Europa e pretendemos trabalhar com a França e toda a comunidade internacional para encontrar boas vias para resolver a crise.

 

O conflito Israel-Palestina é também um assunto que nos preocupa. A solução fundamental é a criação de um Estado Palestino independente.

 

Como a história tem repetidamente demonstrado, as instabilidades persistentes podem ser fundamentalmente explicadas pela falta de implementação efetiva das resoluções das Nações Unidas, pela erosão incessante dos alicerces da “solução de dois Estados” e pelo desvio do processo de paz no Médio Oriente.

 

A China e a França partilham um amplo consenso sobre a questão palestino-israelense. Devemos reforçar a nossa cooperação para contribuir para o regresso da paz ao Médio Oriente.

 

Confúcio disse: “Os sábios cultivam a harmonia na diversidade e permanecem no meio-termo sem se inclinar para um lado ou para o outro”. Quão corajosa é a sua firmeza! Romain Rolland escreveu: “Não ter mais que pensar por si mesmo, deixar-se levar… Esta abdicação é o cerne de todo o mal”.

 

Somos dois grandes países apegados ao espírito de independência. Durante muitos séculos, sempre fomos capazes de libertar uma energia prodigiosa para influenciar o curso do mundo sempre que estamos juntos.

 

Hoje, numa nova encruzilhada histórica, estamos num novo ponto de partida. Cabe-nos a nós trabalhar juntos para que as relações sino-francesas alcancem maior sucesso em benefício dos nossos dois países e de todo o mundo”.

 

Voltando agora a mim e as minhas compreensões: Vejo no discurso de Xi Jinping na França uma inspiração em semelhança com aquela que o Brasil exibia nos tempos do “Genocida Bolsonaro”, com uma diferença; excesso de suavidade de fala, parecendo Theodore Roosevelt e sua célebre “Big Stick Ideology”. Fale manso mas use um porrete!

BigStick Diplomacia de Theodore Roosevelt: “Fale manso e use um porrete”. Wikipedia

 

Xi quer vender a China para o mundo, e a Europa  quer antepor barreiras alfandegárias aos carros chineses, seus chips e processadores, suas baterias solares, quinquilharias mil em ampla verve generalista de produtos similares aos franceses, de perfumaria à cosmética, dos espirituosos licores e outros sabores, imitando-os todos, tudo mais barato e competitivo, avançando sem desperte no mercado, ampliando o desemprego justo ali onde ninguém ousaria junto aos Invalides, o Trocadero e à Praça da Concórdia.

 

Isso, porém, é uma história perdida a lamentar, em tempos medíocres, porque agora o Brasil prefere por e botar cocar, de índios, “indiagem” nova, em “Desunião e Desconstrução”.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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