Olhando o rio

No atracadouro das canoas no início da rua da Frente, esperava pelo namorado, que trabalhava ali perto. Agora, depois da inauguração da ponte, eram poucas as canoas que atracavam. O vento fustigava seus cabelos pretos, lisos e soltos e seus olhos, acesos para a vida, divisavam as águas do rio, caminho móvel ondulante e do outro lado, estacionada dentro da paisagem e ao mesmo tempo fazendo parte dela, a Barra dos Coqueiros, ilha-cidade, olhando para Aracaju. A moça morena, seios arfantes, pensava que, como sempre, ele estava atrasado.

A casa na qual trabalhava já terminara o expediente e a distância de lá para cá era pequena.  O fim da tarde ia escurecendo, seus olhos estavam se enchendo de lágrimas, que ela dizia de si para si que era por causa do vento, que trazia essa maresia. Inquietou-se mais quando um canoeiro disse que aquela era a última viagem. A moça olhou o canoeiro desamarrar as cordas que prendia a canoa a terra. Demorou mais um pouco ali e depois saiu andando até que, já cansada, foi tomar um ônibus para a Barra. “Mas eu gosto mais das canoas”, pensou, com o nariz coçando. Sabia que Lito talvez tivesse ido tomar “umas” com os amigos, como costumava fazer. E resolveu que não queria mais nada com ele, mas tão sem entusiasmo, que já sabia que amanhã, estaria novamente no atracadouro, esperando por ele.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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