Em fevereiro de 1995, o Jornal do Brasil publicou carta de uma jovem Srta. Adriana Pina, na qual ela dizia ser militante da campanha do sociólogo Herbert de Souza (Betinho); afirmava que sentia-se envergonhada de ser brasileira e que não aquentava mais ouvir, da maioria das pessoas a quem pede 1 quilo de alimento para doar, que a obrigação é dos governantes.
A ela, Adriana e a milhares de outros jovens deste nosso imenso Brasil, que ainda pensam da mesma maneira, eu gostaria de dizer que, provavelmente as pessoas que respondem que a obrigação de cuidar da vida dos brasileiros é do Governo, devem ser da mesma faixa etária que eu e que, por conseguinte, viveram grande parte de sua vida debaixo de um regime ditatorial. Naquela época, época em que nossa personalidade estava sendo formada, o que nos era dito de que quem sabia o que era melhor para o país e para os brasileiros era ele, o Governo. O Governo sabia de tudo e a nós, simplesmente, cabia a obediência e … ai daquele que assim não procedesse.
Por esta razão é que, sem dúvida, essas pessoas transferem para o Governo a responsabilidade por tudo de bom ou de mal, que acontece no país.
Uma outra coisa eu gostaria de dizer a todos estes jovens. É preciso dar mais atenção às causas do que as conseqüências. Doar alimentos deve ser uma coisa excepcional e não uma rotina. Essas campanhas existentes nos grandes centros tem também uma grande responsabilidade pela imensa migração do campo em direção às grandes cidades. Nossas ações deverão, em primeiro lugar, estar voltadas para dar melhor condição de vida ao homem do campo, dar escolas para todos e uma melhor distribuição de renda e de terras. A Sagrada Escritura nos ensina: “ … não dê o peixe, ensine a pescar” e o saudoso Luiz Gonzaga, que tanto cantou o Nordeste, em parceria com Zé Dantas, dizia em uma de suas músicas, Vozes da Seca:
“… Mas doutô uma esmola
A um home qui é são
Ou lhe mata de vergonha
Ou vicia o cidadão
…
Dê serviço ao nosso povo
Encha os rios de barrage
Dê comida a preço bom
Não esqueça a açudage
Livre assim nois da esmola
Que no fim dessa estiage
Lhe pagamo até o juro
Sem gastá nossa corage”
Finalmente, gostaria de lembrar a todos estes jovens: Hoje nós gozamos de liberdade e, por isto mesmo, podemos participar. Portanto, transformar o país, que tanto decepcionou a jovem Adriana, em um país melhor e mais justo, depende muito dessa juventude. A liberdade, que a nossa juventude não teve, deverá estimular a participação de todos estes jovens na luta para um desenvolvimento maior, com uma melhor qualidade de vida para todos e não somente para alguns.