OS 72 ANOS DA SOCIEDADE MÉDICA DE SERGIPE

A mais antiga e ainda atuante instituição representativa dos médicos de Sergipe comemora em 27de junho setenta e dois anos de ininterrupto funcionamento. Estou me referindo à Sociedade Médica de Sergipe – SOMESE – que tive a honra de presidir por dois mandatos consecutivos, de 1993 a 1997. Para comemorar a data, sua diretoria está promoveno neste sábado evento comemorativo no Hotel Parque dos Coqueiros, a partir do meio dia – o “Sábado Médico”.

Antes da fundação da atual Somese, outras ações visando criar e manter uma entidade classista haviam sido tentadas. A primeira em 1910, liderada por Daniel Campos e Helvécio de Andrade com a criação da Sociedade de Medicina de Sergipe. Segundo nos conta Antonio Samarone, em artigo publicado no site da Academia (www.infonet.com.br/asm), esta entidade não durou muito, apenas um ano, mas nesse curtíssimo tempo, conseguiu publicar a primeira revista médica do Estado.

Nova tentativa de organização associativa somente aconteceu oito anos após, com a criação da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Sergipe, em julho de 1919, sob comando do médico Francisco Quintiliano da Fonseca, com a participação de jovens médicos que começavam a se destacar no cenário da nossa medicina, os cirurgiões Eronides Carvalho, Juliano Simões e, notadamente, Augusto Leite.

Na década de 20, até a data da inauguração do Hospital de Cirurgia ocorrida em 1926, essa entidade exerceu papel preponderante na elaboração das políticas de saúde do governo Graccho Cardoso. Nesse período de efervescência científica, Graccho trouxe para Aracaju o sanitarista carioca Paulo de Figueiredo Parreiras Horta, auxiliar de Osvaldo Cruz, que realizou importantes ações de saneamento e controle de endemias e que culminou com a criação do instituto que mais tarde, em justa  homenagem, recebeu o seu nome. Com o funcionamento do novo hospital, que ofereceu a Sergipe finalmente um verdadeiro “ambiente cirúrgico” e necessitando da  dedicação plena de médicos, em número reduzido na nossa cidade, a entidade associativa entrou  em fase de declínio e foi desativada. Não conseguimos encontrar registro da data de sua extinção, mas de fato ela ocorreu e somente em 1937, agora com Augusto Leite na liderança do processo, surgiu a atual Sociedade Médica de Sergipe.

No período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), não se tem registro de ações importantes da entidade médica, mas em 1945 ocorre o que pode ter sido o primeiro movimento reinvidicatório organizado da categoria médica. Uma reunião plenária com a participação de vários médicos, liderados por Eraldo Lemos e Antonio Garcia, define as principais ações de luta dos médicos: a criação de um conselho de classe, que os presentes se manifestaram contrários; a aprovação de um piso salarial para a categoria e a fixação de médicos nas cidades do interior do Estado.

Augusto Leite, com 78 anos de idade, repete a cirurgia que fizera há 50 anos  ( 1914-1964)

Augusto Leite mantém-se por doze anos no comando da Sociedade Médica, sendo substituído em 1949 pelo pediatra José Machado de Souza. Seu sucessor, o alienista João Batista Perez Garcia Moreno, assume a presidência em 1952 e a devolve, em 1954, a Machado de Souza.  Nessa década, os médicos começam a sonhar com a fundação de uma escola médica, liderados por Garcia Moreno. Criam uma sociedade civil, objetivando angariar recursos e prover os meios necessários para a instalação de uma faculdade. Entretanto, não obtêm êxito. Ainda nesta década a Sociedade Médica de Sergipe experimenta uma de suas fases mais áureas, de grande prestígio político. Afinal, seu presidente,  o Dr. José Machado de Souza,  exercia o cargo de vice-governador do estado, então sob o comando do udenista Leandro Maciel (1954-1958), que consegue eleger seu sucessor, o brilhante tribuno e advogado Luiz Garcia, para o mandato seguinte (1959 a 1962).

Machado, com o apoio decisivo de Carlos Firpo, médico diretor do Hospital Santa Isabel e ex-prefeito de Aracaju, passa o comando da Sociedade Médica para o cirurgião Canuto Garcia Moreno. A partir dessa administração, forma-se um bloco forte e consistente que comanda a Medicina de Sergipe por uma década, com realizações de grande importância para o seu desenvolvimento, destacando-se a fundação da Faculdade de Medicina em 1961, por Antonio Garcia Filho, que aliando determinação, estoicismo e força política ( seu irmão Luiz era o governador do Estado, que o apoiou incondicionalmente), supera as indiferenças e os obstáculos de todas as naturezas e consegue instalar a primeira escola médica nas terras de Felisbello Freire. Garcia, além de Secretário da Educação, Saúde e Cultura, presidia também a Sociedade Médica de Sergipe.      

Três anos antes, em 1958, esse mesmo grupo, liderado por Ávila Nabuco e Antonio Garcia, instala em Sergipe o Conselho Regional de Medicina, assumindo também o seu comando.  Na década de 50, nacionalmente, a classe médica se organizava com a fundação da Associação Médica Brasileira – AMB, em São Paulo e  um sergipano participava ativamente desse momento histórico, fazendo parte inclusive de sua primeira diretoria: Eraldo Machado de Lemos. A partir da década de 40, seu nome é sempre citado nos movimentos médicos do Estado. Eraldo Lemos é o único médico vivo ( e que nos dias de hoje se encontra com boa saúde, felizmente!) a compor a primeira diretoria da Associação Médica Brasileira.

A Sociedade Médica ainda não possuía sede própria, suas reuniões aconteciam no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e somente em 1968, na administração de Hugo Gurgel, com a ajuda do Governador Lourival Baptista, isso vem a acontecer.  À frente da SOMESE até 1969, Hugo, ao lado de valorosos companheiros, como Carlos Muricy, Alexandre Menezes, Gileno Lima, José Leite Primo, Dalmo Melo, entre outros, ainda viabiliza a criação e funcionamento do Clube dos Médicos, na praia de Atalaia, hoje já extinto, mas que representou importante instrumento de convivência social dos médicos, por muitos anos.

A SOMESE tem ainda participação importante nos primeiros passos do Sindicato dos Médicos, criado na década de 60 e na instalação da Unimed Aracaju, fundada em 1984 e que por dois anos funciona em sua sede. A Somese ainda tem participação decisiva e fundamental para a fundação da Academia Sergipana de Medicina, ocorrida no final do século XX, graças à determinação de Gileno da Silveira Lima. Ainda hoje a Academia funciona na sede da SOMESE, com seu total e irrestrito apoio.

As diretorias da SOMESE que se sucedem desde Hugo Gurgel, já citado, até então, cada uma com suas características e realizações, menos ou mais empreendedoras, vêm mantendo acesa a chama do associativismo médico, com inestimáveis serviços prestados à comunidade e decisiva participação no desenvolvimento da Medicina sergipana.

Traçando um paralelo histórico, não foi por acaso que as duas maiores conquistas da medicina sergipana do século passado, na minha opinião, o Hospital de Cirurgia e a Faculdade de Medicina, tiveram como fundadores, respectivamente, os presidentes das sociedades médicas de então, em pleno exercício de suas funções: os doutores  Augusto Leite, comandando a Sociedade de Medicina e Cirurgia e Antonio Garcia Filho, liderando a Sociedade Médica de Sergipe.

Por tudo que tem feito pelo desenvolvimento das ciências médicas em nosso estado e pela sua atuação destacada na defesa de seus associados e da sociedade, merece a Somese, nesta data, a reverência e o respeito da comunidade sergipana.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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