Os anos terminados em seis

Os anos terminados em seis dão sempre eleições que resultam em alguma mudança, ou pelo menos uma sinalização de transformação política. Isso não é numerologia, é fato histórico. Nas últimas cinco décadas sempre houve eleições naqueles anos cujo último algarismo é seis. E os resultados, se não chegaram a ser surpreendentes, são curiosos quando analisados em conjunto.

1966 – A primeira eleição do regime militar marcou a estreia do Movimento Democrático Brasileiro, o partido antagônico aos generais e que logo se transformou no maior adversário legal da ditadura. Com o governador Lourival Baptista escolhido bionicamente, realizou-se eleição para o Senado, da qual se saiu vencedor o ex-governador udenista e agora arenista Leandro Maynard Maciel.
A vitória dos governistas se repetiu na Câmara e na Assembleia. Augusto Franco consagrou-se como o deputado federal mais votado pela Arena, que fez seis parlamentares, enquanto o MDB elegia um único deputado, José Carlos Teixeira. Mas o partido que se transformou numa verdadeira frente de oposição ao regime conseguiu a proeza de fazer seis deputados estaduais — contra 26 da Arena.
Dentre os arenistas, um jovem empresário chamado Albano do Prado Franco, que foi o segundo mais votado, ficando atrás do general Djenal Tavares de Queiroz.

1976 – Dez nos depois se falava em distensão, mas o estado ainda era de total insegurança. Naquele ano foi aprovada a Lei Falcão, que restringia a propaganda no rádio e na televisão. Era o regime tentando evitar a repetição do resultado de 1974, quando o MDB conseguiu fazer a maioria no Senado e quase empatou em número de deputados federais com a Arena.
A estratégia dos militares parece ter surtido algum tipo de efeito em Sergipe, onde o MDB voltou a eleger somente oito dos 73 prefeitos. Contava para o resultado a vocação governista dos principais quadros políticos do interior. Pelo menos na capital, como lembra Ibarê Dantas (A Tutela Militar em Sergipe –1964/1984), verificou-se avanço oposicionista na eleição de 1976, pois o MDB elegeu 11 vereadores, contra sete da Arena.

1986 – Pula-se mais 10 anos para o início da redemocratização do país, um ano depois de ter acontecido a primeira eleição para prefeitos das capitais pós-era militar, quando Jackson Barreto, do PMDB, ganhou fácil em Aracaju. Mas a eleição estadual resultou numa vitória particular do então governador João Alves Filho, que elegeu o único governador do PFL num ano 99% dominado pelo PMDB, que fez os demais 22 governadores.

O ex-prefeito, ex-deputado estadual e federal, e ex-secretário de Estado Antônio Carlos Valadares derrotou o peemedebista José Carlos Teixeira, que jamais tivera uma chance de chegar tão perto do paço governamental.

Aquele ano de 1986 marcou a estreia do PT em eleição estadual e a professora Tânia Elias Magno da Silva foi candidata a governadora em Sergipe. O ainda imberbe Marcelo Déda elegeu-se deputado estadual constituinte com uma votação tão expressiva que permitiu arrastar outro petista para a Assembleia, o médico Marcelo da Silva Ribeiro.

O PMDB fez quatro dos oito deputados federais constituintes, que renovaram completamente a bancada sergipana na Câmara. O empresário Antonio Carlos Franco, filho de Augusto e irmão de Albano, foi o mais votado dentre todos eles. Se Lourival Baptista, do PFL, reelegeu-se senador para o último mandato, o médico Francisco Guimarães Rollemberg, do PMDB, também se elegeu para o Senado.

1996– Finalmente, a eleição de 1996 confirmou o domínio eleitoral que Jackson Barreto tinha na capital. Seu candidato, o empresário João Augusto Gama da Silva, do PMDB, elegeu-se após uma disputa acirrada no segundo turno, contra o petista Ismael Silva.
Curioso é que, naquele segundo turno, os grupos de João Alves, Albano Franco e todos os adversários de Jackson se agregaram à candidatura do PT, o que não impediu mais uma vitória do ex-carteiro. Dos 18 vereadores da legislatura que estavam terminando apenas oito conseguiram se reeleger.

2006 – Foi o ano da consagração de Marcelo Déda. O líder petista venceu o então governador João Alves, construtor da ponte Aracaju-Barra, no primeiro turno, com 52, 46% dos votos. Maria do Carmo Alves reelegeu-se senadora e Eduardo Amorim foi o deputado federal mais votado, à frente de Jackson e Albano.

2016 – Neste ano, Edvaldo Nogueira, Valadares Filho e um indeciso João Alves disputam o avanço ou o retrocesso de Aracaju. Com uma gestão simpática e realizadora para mostrar (2006-2012), Edvaldo sai em vantagem. Também é favorecido pela administração muito abaixo da expectativa conduzida por João e por contar com o apoio importante do PMDB do governador Jackson Barreto e do PT de Eliane Aquino, a benquista viúva de Marcelo Déda.

Já Valadares Filho corre por fora, agora supostamente fortalecido pela adesão dos irmãos Amorim e por alguns dissidentes da barca de João Alves.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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