Os cavaleiros do ar

Adson do Espírito Santo
Mestrando pelo programa de pós-graduação da UFAL
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente
E-mail: adson@getempo.org
Orientadora: Profª. Dra. Michelle Reis de Macedo (UFAL-PPGH)

“Eu me via como uma espécie de gladiador de antigamente” Disse, Ted Bone em 1941, que aos 19 anos tornou-se atirador de metralhadora em um bombardeiro das tropas britânicas. “Tudo parece irreal (…) Que pena (…) que um avião capaz de provocar essa gloriosa sensação de pura alegria e beleza precise ser usado para lutar contra alguém” Geoff Wellum (1941) piloto de caça da força aérea britânica. Bone e Wellum eram jovens, dentre tantos outros recrutados para servir durante a Segunda Guerra Mundial, que desejavam travar batalhas contra o Eixo no céu. Tal visão edênica da guerra estava presente no espírito de muitos jovens da época, e, muitos deles, não tinham noção que suas chances de sobrevivência nas batalhas aéreas eram menores que na infantaria.

Em 1º setembro de 1939, o exército alemão iniciou a invasão ao território polonês utilizando uma tática inédita, a Blitzkrieg ou “guerra relâmpago”. Numa movimentação bastante ousada, o exército alemão articulou em uma única operação as tropas mecanizadas, a infantaria seguida pelo apoio aéreo. O resultado desta ação foi a rendição da Polônia em apenas um mês. Enquanto especialistas debatiam sobre quanto tempo a guerra poderia durar, os alemães invadiam o território polonês numa velocidade espantosa, não dando chance a uma resistência maior por parte das tropas polonesas, que tiveram sua força aérea inteiramente destruída ainda em terra.

O apoio cerrado da Luftwaffe (força aérea alemã) à Wehrmatch (tropas alemãs, num sentido mais amplo e geral) foi crucial nas vitórias alemãs entre 1939 e 1942. Enquanto os integrantes do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) entraram no conflito com pilotos altamente treinados, a RAF (Força Aérea Real) foi forçada pelas circunstâncias a enviar jovens pilotos, sem uma experiência adequada, para o combate. Tal fato resultou em diversas mortes por pura inexperiência.

Contudo, tanto os ingleses quanto os norte-americanos a partir da segunda metade do conflito passaram a treinar melhor os tripulantes de aviões que necessitavam de mais habilidades, como pilotos e navegadores, antes de enviá-los aos combates. Este treinamento chegava a ser de até 2 anos. No que se refere à força aérea, a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) demonstrava que, no ar, também era um “Gigante de Pés de Barro”. Os soviéticos possuíam pilotos exaustivamente treinados; todavia, a tecnologia de suas aeronaves não acompanhava o nível de seus pilotos, e acabou sofrendo baixas severas.

Em 1940 as forças aéreas, tal como as navais, tiveram maior importância na guerra que a infantaria. Neste período, a Alemanha possuía o controle do continente europeu, e a Inglaterra, percebendo que estava isolada, partiu para um bloqueio econômico à Alemanha e Itália, disputando os mares, iniciando a guerra submarina. Em contrapartida, os alemães passaram a utilizar a sua supremacia aérea para bombardear a Inglaterra, iniciando então denominada “Batalha da Inglaterra” (1940-1941), que deixou um grande número de mortos.

Embora os norte-americanos tenham adotado uma postura de não intervenção na guerra, acompanhavam o seu desenrolar com ansiedade. Por outro lado, os japoneses aumentaram sua influência no pacífico de maneira agressiva, e imediatamente após à declaração japonesa de apoio aos alemães, os Estados Unidos reagiram com um embargo à exportação de sucata de ferro para o Japão. Após uma rodada de negociações entre japoneses e norte-americanos, que descambou num impasse geopolítico no pacífico, em 07 de dezembro de 1941, as tropas imperiais japonesas numa operação aeronaval, atacaram a base norte-americana de peral Pearl Harbor, localizada em Oahu, Havaí.

Após o ataque a Pearl Harbor, a opinião pública americana que ainda estava dividida acerca da guerra, uniu-se de um dia para o outro, apoiando sua entrada no conflito, devido ao que o Presidente Roosevelt designou por “um dia que viverá na infâmia”. A 8 de dezembro o Congresso declarou um estado de guerra com o Japão; três dias depois a Alemanha e a Itália declararam guerra aos Estados Unidos, tornando o conflito verdadeiramente mundial.

No início do combate, entre americanos e japoneses, os orientais possuíam uma vantagem considerável devido à temida aeronave Zero, que amedrontava as tropas aliadas entre 1941 e 1942.  Este modelo japonês foi apelidado de Origami, pois eram leves, graciosas e fáceis de manobrar, mas eram extremamente frágeis e possuíam sérias concessões à segurança; as cabines não eram blindadas, e logo cedo as tropas inimigas descobriram que se acertassem as pontas das asas, elas explodiriam, pois eram onde ficavam os tanques de combustível. Sendo assim, entre 1944 e 1945, a força aérea japonesa não representou um desafio significativo, exceto quando empregavam os ataques camicases (ataque suicida de pilotos japoneses às tropas aliadas), um recurso ditado pelo desespero.

Após a morte da primeira geração de pilotos do Eixo, os aliados começaram a virar a guerra no céu. Tanto alemães quanto japoneses não conseguiram manter o mesmo nível de pilotos, demonstrado na primeira geração. Em 1944 e 1945, as aptidões aéreas do Eixo já eram muito inferiores às dos EUA e da Grã-Bretanha.

Quanto às ilusões românticas de guerra idealizadas pelos jovens, estas iam desaparecendo à medida que se acostumavam com a ideia de acabarem transformados em uma “pira funerária movida a gasolina”. A vida que os pilotos e tripulantes levavam em terra era privilegiada, eram poupados de lama e dos desconfortos brutais que os soldados de infantaria eram submetidos. Por outro lado, a vida nas batalhas aéreas trazia sempre uma probabilidade muito baixa de sobrevivência.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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