Em visita a joia alagoana, a dica é conhecer esse importante conjunto arquitetônico brasileiro flanando por suas ruas a pé. Penedo (AL) dista 170km de Maceió e 122km de Aracaju e possui um importante legado histórico e da arquitetura religiosa do Nordeste consolidada com a tríade do Convento e Igreja Santa Maria dos Anjos e as igrejas de Nossa Sra. da Corrente e de São Gonçalo Garcia – , além do exemplar da arquitetura civil moderna – o Hotel São Francisco – dos anos 1960. Essa diversidade foi mantida e preservada, rendendo a Penedo o tombo de seu conjunto histórico e paisagístico pelo Iphan, em 1996.
O Tô no Mundo revisita a cidade alagoana à beira do rio São Francisco de pouco mais de 63 mil hab (IBGE 2019) e traz dicas do que conhecer e como conhecer. A primeira delas é flanar pelas ladeiras e ruas da cidade, em busca dos detalhes dessa cidade acolhedora fundada no século XVI. Por conta da pandemia, os casarões, igrejas e museus permanecem fechados. Os passeios ao ar livre são os mais indicados.
Conta o historiador, médico e antropólogo alagoana Abelardo Duarte, em seu livro “Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina nas Alagoas”, que o imperador e sua comitiva aportou em Penedo no dia 13 de outubro de 1859, pernoitando dias 14 e 15, sendo recebido, primeiramente, por autoridades das províncias de Sergipe e Alagoas, quando em visita as várias cidades do Baixo São Francisco e que tinha a direção de chegar até a cachoeira de Paulo Afonso (BA), propaganda no reinado a época como uma das mais belas do mundo.
A dica é iniciar a visita à cidade a pé, na avenida Beira-Rio, ponto de partida para seguir os passos do Imperador e conhecer essa joia alagoana. Observe o complexo de construções e veja a pujança econômica, arquitetônica e cultural de uma época, mais precisamente do século XIX, documentados em complexos históricos.
Seguindo à direita pela avenida, a primeira parada é na igreja de São Gonçalo Garcia, existente desde 1758, mas que por conta da pandemia permanece fechada.
A segunda parada que deverá fazer é mais à direita, na praça 12 de Abril, na suntuosa igreja de Nossa Senhora da Corrente (iniciada em 1764 e concluída em 1790), tombada pelo Iphan por seus detalhes arquitetônicos do barroco, rococó e neoclássico, decorada com azulejos portugueses do Império e piso de cerâmica inglesa.
Construída pela Família Lemos que era contra a escravidão, a igreja possui uma passagem secreta para esconder os escravos fugitivos. Conta a história que D. Pedro II assistiu a uma missa e dedicou uma lauda de descrições sobre ela.
Quase que à frente da capela, um casarão amarelo, em estilo colonial, moradia da família Lemos, hospedou a comitiva composta por mais de 40 pessoas. Hoje o casarão sede do governo imperial à época abriga o Museu do Paço Imperial, pertencente à Fundação Raimundo Marinho, guardiã de muitas das imagens da família real. O Museu costa R$ 5, porém permanece fechado por conta da pandemia.
Percorrendo a avenida 7 de Setembro, o visitante observará os casarões e a praça do Barão de Penedo, o Oratório da Forca (onde os prisioneiros rezavam antes da forca), parte do Forte Maurício de Nassau (Forte da Rocheira), a catedral de Nossa Senhora do Rosário, todos os prédios merecedores de uma visita detalhada.
Ao final da rua, chega-se ao complexo arquitetônico são-franciscano fundado em 1739, onde em uma de suas paradas o Imperador participou do Te-Déum. Merece a visita, principalmente, a igreja de Nossa Senhora dos Anjos, descrita pelo imperador como “dourada com pinturas no teto e capela funda”. Há três capelas e mais o altar-principal da igreja, com pinturas que devem ser detalhadas em sua visita. Caso não possa entrar, já vale um bom registro à sua frente, na praça do convento onde fica o obelisco centenário da Independência e, mais a frente, na travessa João Pessoal, a igreja de Nossa Senhora dos Rosários dos Pretos, como em outras cidades coloniais, menos rebuscada e sutil, erguida no século XVII pelos negros.
Para finalizar os caminhos agora nem tanto do Imperador, mas que merecem ser observados, não deixe de percorrer a avenida Floriano Peixoto, com o hotel São Francisco, o prédio do Teatro 7 de Setembro, considerado oitavo mais antigo do país, fundado em 7 de Setembro de 1884; e a Igreja de São Gonçalo, com belo frontispício e pequenas torres.
O passeio de barco pelo rio São Francisco é mais uma opção como documento dessa história de beleza que resguarda a realidade, os mitos, as tradições. Até porque, o Caminho do Imperador não é só feito de realidade. O rio São Francisco faz parte dessa história e é mais um caminho a contar.
Dicas de viagem
Por muitos anos, os prédios históricos de Penedo estavam bastantes depredados, mas com um conjunto de ações envolvendo os poderes públicos municipal, estadual, federal e institutos, Penedo se revigora turisticamente e patrimonialmente.
O forte da Rocheira é uma boa pedida para ter uma visão panorâmica do rio São Francisco. Construído durante a invasão holandesa na região, abriga guaritas, muralha e um restaurante.
Uma das atrações também é o passeio de barco até a foz do Velho Chico. Por conta da pandemia, os passeios foram suspensos.
O hotel São Francisco funciona em um prédio antigo, mas que completa a atmosfera histórica da cidade, com diárias que giram em torno dos R$ 180. A pousada Colonial, a pousada Central e até o Convento Franciscano está aberto para hospedagem de turistas. Há também outras dicas de hospedagem, até mesmo na próxima praia do Peba e de Coruripe, para quem quer se hospedar a beira-mar. Em Piaçabuçu, à beira-mar a pousada Chez Julie é uma boa opção.
Penedo fica a 170km de Maceió e 122km de Aracaju via BR 101. Há também uma opção partindo da capital sergipano pela BR 101, sentido Neópolis e através de balsa o rio São Francisco para a cidade. É a melhor opção.
Gastroterapia
Sem sombra de dúvida, a cozinha de Penedo se baseia nos pratos à base dos frutos do rio São Francisco, a exemplo de pescados e camarões. Há também opções em um dos restaurantes onde se pode apreciar de pratos “de caça” como jacaré. Não deixe de degustar do peixe surubim, escasso e raro na mesa dos ribeirinhos, mas ainda presente. Ensopado ou frito é uma boa pedida para se ter a noção dos peixes de água doce do Velho Chico. Também há o pitu, um camarão graúdo servido ensopado ou somente cozido em água e sal. Seguindo mais para a direção do litoral, nas praias de Piaçabuçu, cidade vizinha a Penedo, a dica é comer o siri, um crustáceo parente do caranguejo de cor azulada.
Fotos: Silvio Oliveira Siga-nos no Instagram: @tonomundosilvio