PINDUCA, UM DÉBITO A SALDAR

Durante os festejos do Sesquicentenário de Aracaju, o prefeito Marcelo Déda concedeu a Medalha Cultural Inácio Barbosa a artistas, produtores e outras figuras destacadas da vida cultural aracajuana. Ele mandou inscrever na Ordem do Mérito Serigy gradas pessoas, que têm com a capital um contato digno do reconhecimento público, e distribuiu, ainda, a Medalha especial, mandada fazer na Casa da Moeda, comemorativa da efeméride. Não há o que discutir, com relação as escolhas e nem os méritos de cada um dos agraciados. Mas um débito que não pode calar que é o de reconhecer a contribuição que um artista sergipano dá ao Brasil, no campo instrumental, como músico e como teórico.

 

Luiz Almeida D’Ánunciação, ou simplesmente Pinduca, é percussionista, concertista, autor, compositor e pesquisador, com formação nos Seminários de Música da Universidade Federal da Bahia, de 1956 a 1959, fazendo estudos de percussão na Universidade do Colorado, em Boulder, Estados Unidos. Foi aluno, de vibrafone, de Phill Krauss em Nova Iorque, de marimba, de José Bethancourt em Chicago, tendo ainda estudado percussão cubana com José Helário Amat e Lino Neira Benthacourt, em Havana, em 1996.

 

Pinduca preparou o naipe de percussão da Orquestra Sinfônica Brasileira nas excursões da Europa, dos Estados Unidos e do Canadá, sob a direção do maestro Isaak Karabchewsky, sem deixar suas funções de professor/orientador na implantação do Curso de Percussão da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, depois de ter sido integrante, por 18 anos, do elenco da TV – Globo, como percussionista, arranjador e regente.

 

Autor do Manual de Percussão, em 4 volumes, divididos em 14 cadernos e 2 livros, assim distribuídos: Instrumentos da Rítmica Brasileira: Caderno 1 – O Berimbau, 2 – O Pandeiro Estilo Brasileiro, 3 – O Surdo de Repenique; 4 – A Ginga do Surdo no Samba; 5 – Tambores de Percussão Direta. A Técnica para Instrumentos Barrafônicos: Livro A – Técnica a 2 baquetas; Livro B – Técnica a 4 baquetas. Estudos de Técnica para a Caixa-clara: Caderno 1- Inicial, 2- Rulo; 3- Ornamentos; 4- Adiantados. A Técnica para os Instrumentos da Percussão Complementar: Caderno 1- Triângulo; 2- Pratos (Tam-Tam, Gongo, Crotales); 3- Bombo Sinfônico; 4- O Reco-Reco no repertório sinfônico; 5- o Pandeiro no estilo sinfônico. O próximo livro de Pinduca a ser lançado tem o título de Os Instrumentos Típicos Brasileiros na Obra de Heitor Villa-Lobos.

 

Como compositor, Pinduca é autor de diversas peças, como a Pequena Suite para Vibrafone,  Um Choro para Radamés (marimba), Divertimento para Pandeiro Estilo Brasileiro, Dança, para Pandeiro Estilo Brasileiro e Oboé, Primeiro Estudo, para Vibrafone e Violão, Toccata para Timpanos, Divertimento, para Berimbau e Violão, dentre muitas outras, que correm o mundo em CDs. É rica, muito rica, a biografia artística de Pinduca, sergipano nascido em Propriá, em três de maio de 1926, e que já mostrou todo o seu talento em Sergipe, durante os anos que organizou e dirigiu sua orquestra em Aracaju, animando bailes, fazendo apresentações, tocando nos auditórios do rádio, fazendo sucesso como atesta o memorialista Murillo Mellins, amigo e companheiro de geração do artista, em seu livro de reminiscência sobre a vida cultural e boêmia da capital sergipana, que já teve duas edições esgotadas.

 

João Melo, Carlos Tirso, Raimundo Melo, Carlos Dantas, o próprio Murillo Mellins guardaram, na melhor lembrança, os tempos em que as festas contavam com a animação da Orquestra de Pinduca, um destaque sem precedentes na música sergipana, especialmente na década de 1940, quando a Rádio Difusora iniciava as suas transmissões e apareciam, de forma organizada, os artistas e conjuntos regionais, revelando talentos que o tempo consagrou, como o violonista Carnera, os cantores João Melo, Raimundo Santos, Guaraci Leite França, Dão, e, mais tarde, Antonio Teles, Vilermando Orico,Dalva Cavalcanti, o Trio Atalaia, formado por Djalma,, Lisboa, Edildécio Andrade, além de outros nomes da música e da radiofonia de Sergipe. João Melo tornou-se cantor e compositor bem requisitado, na Bahia e no Rio de Janeiro, profissionalizando-se como produtor de discos, responsável pelo lançamento de grandes valores da MPB, como Djavan, MPB-4, dentre outros.

 

Carlos Tirso ficou aqui, sobrevivendo de outras atividades, mas com a voz sempre afinada para abrilhantar encontros. Raimundo Melo foi para Salvador, para o Recife e deixou sua voz imortalizada no Hino do Centenário de Aracaju e no Hino do Clube Esportivo Sergipe, que ainda hoje é um dos símbolos da torcida rubra. Carlos Dantas, também chamado de Chopin, foi, por muitos anos, no Rio de Janeiro o pianista do restaurante da Mesbla, acompanhante da cantora lírica Norma Bloch, e funcionário da Escola Nacional de Música.

 

Sergipe e Aracaju devem a Pinduca uma homenagem, que reconheça de público e agradeça a sua contribuição á arte e a cultura, e especialmente à música e mais especialmente ainda à percussão. E que faça a ponte entre Aracaju de ontem e as gerações de hoje, para que o artista brilhante possa rever as paisagens da sua terra, onde certamente aprendeu o ritmo, a ginga, a malícia, da música popular, tão expressiva em sua percussão nos grupos folclóricos que resistem, heroicamente, a tudo.

 

Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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