Pobre São Cristóvão

São Cristóvão é um município simpático, é amplo, é diverso de paisagem, possui história e modernidade. É abençoado pelo passado estático e estético da praça e convento de São Francisco e por um Cristo Redentor pioneiro no Brasil — de 1926, enquanto o do Rio é de 1931, segundo lembra o professor de história e filho do município, Thiago Fragata. Abriga o futuro laborioso e científico do Campus da Universidade Federal de Sergipe. Não tem tanta miséria, tem um desenvolvimento humano razoável para os padrões nordestinos, abundância de água, alguma riqueza no solo e subsolo, mas não é feliz.

Parece que São Cristóvão sofre da síndrome de João Bebe-Água, que desde 1855 chora inconformado com a mudança da capital.

O município não vai pra frente, não há alavanca para se erguer, nenhum produto primário que seja para definir o seu perfil econômico. Tornou-se um mero quintal para criação de galinhas. O professor, consultor e, acima de tudo, sancristovense apaixonado Mário Barros, explica que, depois do poder público, são as granjas que mais empregam a mão-de-obra local. Ainda bem.

Quando se fala em personalidade cultural ou histórica, é fácil lembrar que Estância nos legou Gilberto Amado, que Lagarto nos deu Silvio Romero e em Itabaiana nasceu o sujeito Oviêdo Teixeira. Que importante personagem herdamos de São Cristóvão? Cristóvão de Barros, que a fundou em 1º de janeiro de 1590, nem brasileiro era. João Bebe-Água, o saudosista que, dizem, era um emérito cachaceiro?

A quarta mais antiga cidade brasileira foi capital de Sergipe por um curto período de menos de 35 anos, entre 8 de julho de 1820, quando a província foi emancipada da Bahia, e 17 de março de 1855, quando o presidente da província, Inácio Joaquim Barbosa, transferiu a capital para Aracaju, atendendo a um antigo desejo dos produtores de açúcar.

Depois da mudança da capital, São Cristóvão passou por um processo de despovoamento e crise, em parte resolvido no início do século 20 com o advento das fábricas de tecido e a via férrea. Por lá passaram o industrial laranjeirense Augusto Franco, que convidou o colega médico baiano Lourival Baptista para trabalhar na sua fábrica. Nos anos 40, Lourival tomou gosto pela política, fez-se deputado estadual, depois prefeito, deputado federal, governador, senador… E Augusto Franco também cresceu politicamente e trilhou caminho parecido. Mas não eram sancristovenses.

O pólo industrial de fiação e tecelagem só sobreviveu até os anos 60, quando São Cristóvão começou a perder a identidade. Ficou olhando para o passado e esqueceu do futuro. Num solo desfavorável assim, brotam maus políticos.

ESSA CONFUSÃO TODA ENVOLVENDO A SUCESSÃO municipal é o desfecho de um problema recorrente que tem se repetido há vários mandatos. Não foi o finado Zezinho da Everest quem inventou a improbidade administrativa. Acusado de fraudar licitações em obras públicas e obter vantagens indevidas, o prefeito foi afastado do cargo e teve o desligamento mantido pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Raphael de Barros Monteiro Filho, que indeferiu o pedido para retornar ao cargo sob a alegação de evidente risco de dano à ordem pública.

Ao contrário do que dizem os aliados de Zezinho da Everest, havia sim acusação formal contra ele, apontado como responsável por um esquema de desvio de dinheiro público na Secretaria de Obras do município. Político de origem humilde, trabalhador, que foi eleito pelo povo de São Cristóvão como alguém que pudesse salvar a honra do povo local, ele parece ter caído na tentação dos seus antecessores e sucumbido às facilidades da administração pública.

No entanto, o deputado estadual Armando Batalha, inimigo que o antecedeu durante oito anos, tem uma ficha judicial infinitamente mais longa, mas continua leve, solto e apto a voltar a governar o município, já que é candidato com boas chances de se eleger.

Armando é acusado de improbidade administrativa por ter cometido irregularidades as mais disparatadas enquanto prefeito, tais como pagar sem identificar o credor, pagar diárias a quem nem era servidor e sem esclarecer o objetivo da viagem, pagar diárias em Miami (EUA) sem apresentação do certificado de participação de curso, dentre muitas outras. O Ministério Público calcula dano ao erário público superior a R$ 1,2 milhão.

Por isso, em março deste ano o juiz de São Cristóvão acatou a solicitação de indisponibilidade dos bens do ex-prefeito e o Ministério Público Eleitoral pediu a impugnação da sua candidatura a prefeito. Na ação, o promotor de Justiça Alexandro Sampaio Santana pediu que fosse expedido ofício ao Tribunal Regional Eleitoral, Tribunal de Justiça e Tribunal Regional Federal da 5ª Região solicitando as Certidões Criminais atualizadas de Armando Batalha, já que é detentor de foro privilegiado, por estar no exercício do cargo de deputado estadual. Mas não aconteceu nada, recorre-se como sempre e a vida continua.

Antes de Armando Batalha houve Lauro Rocha, pai do atual prefeito Alexsandro Rocha, que também sofreu processo por improbidade administrativa e chegou a perder o mandato. Foi cassado.

E como esquecer que depois do afastamento de Zezinho da Everest assumiu o desastrado presidente da Câmara Municipal, vereador Carlos Umbaubá? Ele logo acabou sendo defenestrado da cadeira de prefeito e, depois, afastado das atribuições na Câmara, acusado de fazer licitações fraudulentas.

É a sina do município. Pobre São Cristóvão!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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