Propriá, Fogos e Redenção

A parceria Universidade Tiradentes e Prefeitura Municipal, selada com o apoio indispensável da Diocese, deram a Propriá um alento, na reconstrução possível de uma cidade que já foi de todo glamorosa, com seus sobrados, seus prédios majestosos, hotéis, clubes, cinemas, retrato de uma realidade que não existe mais. O que denuncia a perda econômica e social de Propriá é o tamanho de sua população, menor que 30 mil habitantes. Na segunda metade do século XX o município de Propriá tinha uma população muito superior a que tem hoje, formando com Itabaiana, Lagarto e Estância um grupo das maiores e mais ricas cidades sergipanas, perdendo apenas para Aracaju, que ainda hoje cumpre o papel de ser, como capital do Estado, a caixa de ressonância, a cabeça do Estado, naquilo que fortalece, mas também naquilo que criava sérias dificuldades. Ainda hoje a saúde é um exemplo, com seus serviços, incluindo os de medicina de ponta, precários e insuficientes, mas, ainda assim, os melhores com os quais contam os sergipanos.

Há muitas considerações a serem feitas, na tentat6iva de buscar motivos para o declínio de Propriá e de sua população. O trem, que desde 1915, sacudiu seus vagões nos trilhos, já não existe mais. As estradas retiraram, praticamente, as canoas e vapores que singravam o velho Chico, indo e vindo. A BR-101, praticamente fora do perímetro central da cidade e a construção da ponte respondem, também, pelas perdas. O algodão não mantém mais a chamadas fábricas de desencaroçar, e o arroz perdeu, com o tempo, as usinas de beneficiamento, que eram setores importantes na formação da economia local, com todos os reflexos sobre a população. Os tecidos, panos crus e riscados,  da Empresa Industrial Propriá, de Britos, Menezes & Cia com seus 960 operários, sendo 657 mulheres, e mais 127 menores do sexo feminino, já não são produzidos.

A grande feira, regionalizada pelas potencialidades das margens do São Francisco, é hoje um retrato a menor, daquilo que teve no passado. Os curtumes, o artesanato de couro, e tudo o mais que representava a capacidade de produzir do baixo São Francisco, perderam importância e mergulharam na crise que retirou de Propriá a importância que teve, influindo na representação política. Tem rareado, por exemplo, os políticos com mandato estadual, na Assembléia Legislativa, o que contrasta com a década democratizante de 1940, quando os nomes de Martinho Dias Guimarães, João de Seixas Dória, Octávio Martins Penalva, Pedro Medeiros Chaves, disputavam, com outros, a representação propriaense na Assembléia Estadual Constituinte. Outros líderes, como José Onias de Carvalho, Volnei Leal de Melo, Cleto Maia, que souberam destacar a representação de Propriá na Assembléia Legislativa.

Propriá conta com seu passado, com a capacidade de adaptação do seu povo no curso da história e com uma juventude que lota as salas universitárias de aulas, buscando mais do que o conhecimento, despertar sua identidade. O retorno do Encontro Cultural de Propriá foi um notável aditivo ao interesse da população mais jovem, de buscar os meios de reerguer a cidade, vitalizar a economia e retomar o lugar que o município sempre teve no contexto do Estado de Sergipe. A presença e a participação dos estudantes e de professores e pessoas de influência cultural local, condiz com a ação da UNIT, da Prefeitura e da Diocese de Propriá. Um MEMORIAL, prometido como consequência da parceria UNIT-Prefeitura, será o lugar adequado para reunir as imagens e os textos, os documentos e os depoimentos, com os quais a cidade e o seu complemento territorial poderão buscar inspiração, refletindo sobre a realidade.

A festa de Bom Jesus dos Navegantes é outro indutor forte para revitalizar o papel de Propriá na vida sergipana e ribeirinha. Dezenas de barcos, de todos os tipos, muitos deles emplacados em Penedo, na representação da Capitania dos Portos, navegaram pelas margens sergipana e alagoana, pelo leito encrespado do rio, chamando as populações a demonstrarem fé, que é força, com os fogos crepitantes, louvando os Navegantes, como náufragos redimidos pelo compromisso do louvor. Todo o rio São Francisco celebra Bom Jesus dos Navegantes, cada um com sua particularidade, mas Propriá tem nos fogos, queimados em cerca de duas horas de procissão, o ponto alto da celebração, talvez um vínculo antigo e persistente, com o qual o povo e a cidade poderá recuperar o apogeu perdido. Propriá precisa de cada um dos seus filhos, os presentes e os que vivem fora, para reconstruir, com o mesmo bom gosto e a mesma esperança, a vida econômica e social das quais guarda notáveis exemplares. O belíssimo espetáculo da procissão de Bom Jeus dos Navegantes é uma senha, em busca do futuro.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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