Protesto em forma de canção: Lyndon B. Johnson e a Guerra do Vietnã

Isabelli Vieira Barreto

Graduanda em História pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

E-mail: isabellij4@hotmail.com

Orientadora: Prof.ª Msc. Raquel Anne Lima de Assis.

Protesto contra a Guerra do Vietnã em Washington, 27 de novembro de 1965. Fonte: Bettmann Archive / Getty.

O soldado foi enviado para o Vietnã do Sul, no sudeste asiático, para que lutasse contra o inimigo comunista. Ao descer do navio de guerra, seu corpo ficou coberto de lama até a cintura. Em um país majoritariamente rural, com florestas densas e muitas plantações de arroz, o soldado e seus companheiros sentiam como se estivessem andando em um campo minado. O inimigo conhecia melhor o território, vinha de noite e escondia explosivos no solo, camuflavam-se na mata e atacava de surpresa. No intervalo entre tiroteios, o soldado pensava em seu velho pai e em sua antiga vida. Estava lutando por seu país e confiava em seu presidente, mesmo ele tendo quebrado a promessa eleitoral de que não haveria uma escalada na guerra.

Essa é a história contada em algumas músicas sobre a Guerra do Vietnã. O sufoco e os horrores da guerra eram tópicos comuns em diversas composições, como a analisada aqui: Lyndon Johnson Told the Nation, lançada em 1965 e interpretada por Tom Paxton. Essa, além de trazer uma narrativa sobre a experiência de guerra, também traz uma visão dos acontecimentos políticos dos Estados Unidos, focando no discurso do recém-eleito presidente, Lyndon B. Johnson.

Quando os Estados Unidos se envolveram na Guerra do Vietnã (1955-1975), não esperavam que o conflito durasse tantos anos. Ao contrário das expectativas, as Forças Armadas estadunidenses, as mais poderosas do mundo no período, não conseguiram derrotar facilmente os guerrilheiros do Viet Minh (força organizada por Ho Chi Minh, líder nacionalista e comunista vietnamita). A guerra continuou, parte da sociedade estadunidense se posicionou contra ela e reagiu – episódio inserido no contexto da Contracultura.

Durante todos esses acontecimentos, Lyndon B. Johnson foi eleito presidente dos Estados Unidos em 1964. Seu discurso durante a corrida eleitoral foi o grande responsável por sua vitória, já que, nele, garantia que não haveria escalada militar, que o povo estadunidense não precisaria mais se preocupar em pagar as despesas da guerra e nem em enviar mais homens para o outro lado do planeta. Contudo, Lyndon Johnson Told the Nation mostra que o presidente não cumpriu o que prometeu.

O compositor se refere ao discurso de Johnson no trecho “Lyndon Johnson disse à nação/ ‘Não tenha medo da escalada’” e, logo em seguida, mostra o presidente tentando mascarar o peso das decisões que estava tomando quando continua sua fala: “Estou tentando a todo mundo agradar/ Embora não seja realmente uma guerra/ Estamos enviando mais cinquenta mil”. A guerra contra o Vietnã nunca foi devidamente declarada pelo Congresso dos Estados Unidos, mas, independente disso, o país continuava investindo no conflito. É possível ver a incompatibilidade do discurso do presidente com suas ações quando ele diz que, mesmo não sendo uma guerra, enviariam mais cinquenta mil homens. A justificativa para tal ato parece ainda mais contraditória: “Para ajudar a salvar o Vietnã dos vietnamitas” (Tradução nossa).

Esse verso transcrito aqui se repete mais quatro vezes durante a música. Tom Paxton utiliza da ironia e da licença poética para levar aos seus ouvintes suas críticas às decisões políticas da Casa Branca. Lyndon Johnson Told the Nation é, assim como outras músicas da década de 1960, uma reação às ações do governo. As chamadas músicas de protesto foram uma nova forma de contestação política que surgiu nessa década. Enquanto os militares lutavam nas selvas do Vietnã, dentro dos Estados Unidos ocorria uma Revolução Social, uma nova forma de mobilização e contestação, que rejeitava os valores estabelecidos e as instituições ocidentais – a música era um dos principais instrumentos de reivindicações públicas.

A Contracultura é um exemplo de como a arte é um meio pelo qual a sociedade propaga sua voz, suas reivindicações, seus sentimentos e suas propostas. Ela não só permitiu que um novo espaço para discussão fosse aberto, mas também foi uma das razões que levaram os Estados Unidos à sua primeira (e até então única) derrota militar. A partir desse momento importante da história contemporânea, é interessante pensar em quais outros momentos a arte mostrou ser grande fator de transformação e o que mais se consegue fazer a partir dela.

 

Para saber mais

GADDIS, John Lewis. História da guerra fria. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.

HOBSBAWM , E. J. Era Dos Extremos: o Breve século XX, 1914-1991. Companhia Das Letras, 2008.

MAGNOLI, Demétrio. Guerras da Indochina. In: História Das Guerras. São Paulo: Contexto, 2006.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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