Em algum momento da vida ficamos entediados com as obrigações cotidianas e não nos damos conta do quão somos frágeis. Sentimentos afloram segundo a segundo com o mesmo ardor de uma causticante dúvida. Comum entre dois gêneros, a decisão alimenta o que somos. E numa manhã de junho, em um dia qualquer – não lembro exatamente, o fogo laminou meus pés através de uma cálida massa asfáltica. Foi o dia em que comecei a correr.
No espaço de tempo entre o fragor e o ruflar, resolvi abandonar a ideia de ser apenas uma massa de gordura com vida, cérebro e consciência. A palavra obeso, que antes ecoava como um fantasma, aos poucos dilatou meu couro com insensatez e agonia, e o que me restou foi apenas uma esperança. Olhei para cada lado do ponto cardeal da minha existência e não vi ninguém, somente um vazio. Teria que ser eu contra o mundo. O ânimo para subir em uma bicicleta, por exemplo, não era mais o mesmo. Tudo que eu planejava, entre colocar o capacete, calçar a sapatilha, procurar a luva, a garrafinha com água e encher o pneu, passava pela cabeça em alta velocidade como um feixe luminoso.
Apesar da distância física e a relutância corporal para retornar à atividade física, mantive, ao menos virtualmente, uma aproximação pragmática com os assuntos esportivos. Continuei, como sempre, me interessando pelo conteúdo, por meio de reportagens, principalmente sobre o mountain bike. A leitura me levou aos vídeos sobre a mudança de pessoas através do esporte. Conheci magníficas histórias de superação. Esse é, sem medo de errar, o grande benefício da internet: a interação plural, diversificada e sem fronteiras que promove entre as pessoas.
Aprendi que um estímulo nada mais é do que uma autocrítica explorada. Foi exatamente isso que fiz. Cerrei punhos e dentes e explodi o universo dentro de mim. Antes, perdido na via láctea. Agora, atinado entre veredas. A verdade, contudo, estava debaixo do meu colchão, ainda que simbioticamente desconhecida. Tinha cor preta, ligeiramente empoeirado, e entranhas escurecidas, porém ventiladas. Não sabia que aquela era a minha chance. Então lembrei uma frase magnífica: Nunca é tarde para nascer.
Após 32 anos, nasci de um tênis. Não é exagero. Naquele dia, justamente aquele que não lembro, foi um dos momentos mais especiais da minha vida: saí para correr. Juro que não sabia até onde iria, mas sim o motivo. Suficiente. Dia após dias, correndo pela sombra, com a suavidade da madrugada e, por vezes, com o ruído das noites e tardes barulhentas, me tornei “inimigo” da minha própria limitação. Uma passagem de um livro marcou meu pensamento: o fim do mundo chega com o orvalho que se espalha sobre o travesseiro. Talvez, por essa razão, nós, corredores, sempre estamos em movimento, justamente para evitar que o mundo acabe.
Após muitos dias de treino e a participação em algumas provas, surgiu o projeto “Mil Corridas Antes de Morrer”. Foi a minha maneira de retribuir o estímulo que recebi de dezenas de pessoas espalhadas pelo país. Não poderia jamais deixar a corrente ancorada em meus pés. Disseminar uma ideia não é somente revolucionar a si próprio. Hoje, quando corro, não penso apenas em mim mesmo, mas em todos os corredores que acompanho pelas redes sociais, no dia a dia e outros que ainda irão adentrar nesse rumo. Essa é a coletividade da corrida. A história, porém, não se limita a apenas esse espaço textual. Ela acontece no asfalto, na praça, na praia, no calçadão ou em todos os lugares onde a sola do tênis consegue deixar o seu rastro, ou melhor, a sua significância.
Diariamente, após acordar, penso em uma colocação do escritor Martin Page: “Basta agarrar o dia na hora certa e aperta-lo bem forte na mão esquerda até as juntas ficarem esbranquiçadas; aí, então, somos conduzidos por um trem que avança por conta própria. O único esforço é o de começar o dia, insinuar-se dentro dele como sob os lençóis de chumbo e de lã de vidro”.
A simplicidade da corrida de rua me faz lembrar de um arranjo a uma frase do cineasta Glauber Rocha: um par de tênis nos pés e uma corrida na cabeça. Basta isso. Depois de muitos quilos perdidos, e a saúde sendo alinhada, confesso que não pratico mais atividade física por obrigação. Faço porque gosto. Corro por prazer.
Corrida Cidade de Aracaju
Esse ano, a tradicional Corrida Cidade de Aracaju, realizada no dia 17 de Março, data do aniversário da capital, vem com novidades. Além do percurso de 25 km entre o município de São Cristóvão e Aracaju, será inserida as distâncias de 10 km e 5 km. A diversidade de percursos é atualmente uma tendência mundial que visa agregar todos os níveis de corredores. Não há dúvidas, portanto, que a aposta da prefeitura renderá resultados positivos, com uma grande adesão daqueles que estão começando a traçar os primeiros passos na corrida de rua. De acordo com o assessor de comunicação da Secretaria Municipal de Juventude e Esporte, Danilo Cardoso, a corrida também terá um aumento no número de inscrições para 2.000 mil participantes. Dada a projeção nacional que a corrida conquistou e, mais ainda, pela inclusão dos novos percursos, é certo que teremos uma corrida com inscrições esgotadas.
Corrida de Verão em Pirambu
Com as merecidas ressalvas ao calor que insiste em aquecer o solo sergipano, acontecerá no dia 7 de fevereiro, em Pirambu, a Corrida de Verão. Serão 6km entre o povoado Aguilhadas e a cidade sede, com percurso seguindo pela rodovia SE 101, local com grande vegetação nativa e belas paisagens. A largada está prevista para as 16h. Haverá premiação em dinheiro e distribuição de troféus do 1º ao 5º colocado de cada categoria. Todos os corredores receberão medalha de participação. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas no site www.centraldacorrida.com.br, na Secretaria de Esporte de Pirambu e na Academia Bem Estar. Mais informações pelos telefones: 9947-7623 / 9644-7653.
1ª Meia Maratona de Revezamento do Colégio Salvador
Assim como está previsto no regulamento, a entrega dos kits de corrida acontecerá no dia 31 de janeiro, no sábado que antecede a prova, no Colégio do Salvador no horário das 9h às 18h. O percurso terá uma distância aproximada de 5.275 metros para cada volta, perfazendo o total de 21.100 metros em quatro voltas completas. Nas redes sociais, os corredores já estão animados com a realização dessa prova. Muitas equipes, com nomes curiosos, foram formadas e agora é aguardar o dia 1º de fevereiro para correr e colocar o treino em prática.
Divas
A Corrida das Divas está marcada para acontecer no dia 3 de outubro deste ano. A informação sobre a realização da prova, no entanto, já está alcançando o resultado esperado: estimular a participação das mulheres. Colegas de profissão, como as jornalistas Aldaci Souza, Mayusane Matsunae e Ana Dulce Melo, prometeram marcar presença na corrida. Foram além: não vão a trabalho, mas sim para correr. Quem mais irá aceitar o desafio? A corrida, que está sendo organizada pela Conceito Soluções Esportivas, acontecerá em dois percursos: 5 e 10km. Informações pelo site