No dia das eleições, domingo passado, Aracaju avermelhou. Jamais se viu alguma coisa igual. Na história política dessa cidade, nenhum outro candidato obteve percentuais tão elevados de aceitação pública. Do Bugio à praia de Atalaia, entrando pelos demais bairros da capital, o vermelho estava presente em todas as casas, bares, ruas, praças. A estrela ficou ferrada no peito de um povo que fez da disputa eleitoral, um verdadeiro carnaval. Por volta de meio dia, não se tinha mais dúvida de que a vitória seria bem acima das expectativas e, pela primeira vez, as pesquisas erraram para menos. A vitória foi muito maior do que informaram os institutos de pesquisas. Enfim, Déda virou moda, era a atração principal do jogo e continua sendo a bola da vez. Neste momento, até se pode perguntar: quem segura Déda, nesta arrancada política que modifica a estrutura de Sergipe?
A partir de agora as análises têm que ser feitas dentro da perspectiva do antes e depois das eleições municipais de Aracaju do ano de 2004.
Todos sabem que, em qualquer sentido, o que explode na capital, ecoa no interior. A vitória expressiva do prefeito Marcelo Déda invadiu todos os município do estado e ultrapassou as fronteiras, porque, proporcionalmente se trata do prefeito mais votado do Brasil. O mérito não é apenas do político Marcelo Déda, mas de uma estrutura bem montada, coesa e com objetivos claros de um bem estruturado projeto de poder. Essa vitória em Aracaju, diante das suas proporções, elimina as especulações sobre uma possível candidatura ao Governo do estado em 2006. Isso começa a se tornar realidade, porque o eleitorado de Aracaju já lhe deu régua e compasso para que ele defina o seu destino. Lógico que não é hora de falar em uma eleição que tem dois anos pela frente, mas há um indicativo de que não existe outro nome capaz de chegar tanto onde o povo está. Ninguém tenha dúvida que as eleições estaduais já vêm sendo tratada dentro do bloco oposicionista, porque será o próximo e definitivo passo que está programado para ser dado.
Lógico que todos sabem que não será fácil, mas dentro de um prognóstico precoce pode-se avaliar que se o prefeito Marcelo Déda manter a performance de 71,38% na capital, com a expectativa de um interior dividido, é muito difícil superar essa diferença.
Dentro de um balanço do que aconteceu nos municípios sergipanos, as oposições estão fortalecidas. É verdade que há pouca novidade em termos de mudança do esquema político que historicamente domina as médias e grandes cidades. No máximo cinco candidatos são nomes novos na política. O restante manteve um lado ou outro no domínio eleitoral, o que não houve um avanço, mas a passagem de poder para grupos rivais. É o caso, por exemplo, de Itabaiana. O grupo de Luciano Bispo perdeu para o de Chico de Miguel, mas há muitos anos eles sãos os responsáveis pela política viciada do município, embora Maria Mendonça sempre teve um comportamento absolutamente diferente. A mesma coisa aconteceu em Lagarto, onde os Reis mantiveram a Prefeitura nas mãos de Zezé Rocha. Em Estância ganhou Ivan Leite, do PSDB, mas indicado pelo governador João Alves Filho (PFL) e em Propriá Luciano tomou as eleições do grupo adversário, liderado por Renato Brandão.
Não se pode dizer que o Partido dos Trabalhadores impôs um modelo avançado no interior. Evidente que a oposição tem algumas cidades estrategicamente importantes, mas todas dentro do pensamento de apoio a quem o outro grupo não o fizer. Antes era João Alves Filho e Albano Franco. Agora, se mantém João Alves Filho e entra Marcelo Déda para dividir os grupos tradicionais que dominam o eleitorado no interior. Como o Governo se manifestou pouco nas eleições municipais, a vitória maiúscula de Déda já tomou conta de todas as cidades e povoados de Sergipe, transformando-o numa liderança estadual muito forte, que será um páreo duríssimo para qualquer outro candidato ao Governo do Estado em 2006. Durante um dos debates entre candidatos, diante da pergunta ao prefeito se ele cumpria os quatro anos de mandato, Marcelo Déda respondeu: “quem me escala é o povo”. Hoje, com a força eleitoral adquirida, ele já tem carta branca para escolher a posição que vai jogar e, no campo da disputa e das idéias, terá o apoio do eleitorado.
É bom que os adversários se preparem bem, retomem táticas de convívio com a população, de abrir mais os flancos para um trabalho com boas parcerias, para se fortalecer o máximo e conseguir posição para um bom enfrentamento. Sem dúvida, depois dessa explosão de votos e afetos, desse carnaval participativo, fez-se um líder hábil, inteligente, bom na televisão e de respostas afiadas, sem contar com a admiração que conquistou de um eleitorado feminino, que lhe fez ídolo. Por tudo isso é preciso trabalhar mais, reiniciar uma política dinâmica e inteligente, avançar nos projetos e ações. Enfim, se preparar para uma das disputas mais acirradas da história política sergipana. É só esperar, para constatar…
SUSANA
A deputada Susana Azevedo (PPS) disse que está se sentindo uma heroína, porque poucas lideranças chegaram a ela. Susana vai fazer um chec-up, cuidar de torções nos pés e de uma gastrite, para depois viajar. Só quando retornar é que vai definir sua posição política.
PERGUNTA
Susana lembrou que do lado do candidato Marcelo Déda estavam todas as lideranças que formavam a sua coligação, dando-lhe total apoio. “Do meu lado tinha quem?” Pergunta. “Sinto-me uma corajosa, porque nenhum homem do nosso lado topou essa disputa. Fui lá e tive quase 50 mil votos”, desabafou.
TELEFONEMA
O governador João Alves Filho (PFL) telefonou para a deputada Susana Azevedo e lhe disse que política é assim mesmo: “um ganha e outro perde”. Susana agradeceu, mas relatou ao governador das dificuldades que teve em campanha e insistiu que politicamente é uma vencedora.
VALADARES
O senador Antônio Carlos Valadares (PSB) disse que a vitória de Marcelo Déda foi o reconhecimento do seu trabalho à frente da Prefeitura de Aracaju. Como político, no entendimento do senador Valadares, o prefeito Marcelo Déda “é a bola da vez”.
JACKSON
Apesar de ter viajado muito pelo interior, o deputado federal Jackson Barreto (PTB) conseguiu fazer apenas um prefeito no interior: Zezinho da Everest, de São Cristóvão. Em Aracaju, os dois candidatos a vereador que tinha o seu apoio, Robson Viana e Ilza, ficaram na suplência.
CÂMARA
A Câmara Municipal de Aracaju tem uma renovação forte. Apenas quatro vereadores conseguiram se reeleger. Dos novos eleitos, quatro retornam à Câmara e o restante inicia sua carreira política com o mandato. Fábio Henrique (PDT) não foi uma surpresa a sua boa votação.
VIBRAÇÃO
O PFL está vibrando porque fez três vereadores em Aracaju e toda a coligação elegeu mais seis. São nove representantes na Câmara Municipal. Em 2002 a coligação que elegeu João fez 30 prefeitos, agora o PFL elegeu 28, chegando a 52 com as alianças. Mais de dois terços do estado.
GASTOS
Alguns candidatos a vereador gastaram mais do que quem disputou a Prefeitura. Um deles deu um barco a pescadores no Mosqueiro, no valor de 25 mil reais. Além disso, o que se viu de distribuiu de cestas básicas, camisas com 30 reais dentro, tijolos, tanques, telhas, enfim, o voto foi negociado a granel.
PLANO
O presidente do TRE, desembargador Artêmio Barreto, disse que o plano se segurança traçado pela própria Polícia, que não funcionou. Segundo ele, a falta de policiais para garantir as urnas fez com que fosse pedida força federal. Teve momento que “me sentir só”, disse.
BOICOTE
Quanto à possibilidade de boicote ao seu trabalho, o desembargador Artêmio Barreto disse que a Polícia Militar “merece meu respeito. O problema foi numérico”. Acrescentou que essa eleição demonstrou “que se pode fazer um pleito neste país com respeito ao eleitor e, sobretudo, com honestidade”.
ANULAÇÃO
A coligação que apoiou o candidato Reginaldo Andrade, em Canhoba, comunicou à corregedoria do TRE a presença de eleitores que não residiam no município. O pessoal está juntando provas para pedir a anulação das eleições naquela cidade, porque considera que houve fraude em relação à invasão de eleitores de outros municípios.
CANINDÉ
Nas últimas semanas, o candidato Orlando Andrade (PTB) vinha crescendo nas pesquisas e não surpreendeu com a sua vitória. Ele teve o voto dos pobres. A população não confiava mais nos Galindos e não aceitou a presença de Paulo de Deus, que veio de Paulo Afonso para administrar Canindé.
DETALHE
O grupo político de João de Deus, que comanda Paulo Afonso há vários anos, também perdeu as eleições na cidade baiana. Ontem o deputado Ulices Andrade debochou: “ele veio mexer na casa dos outros e terminou perdendo na sua”.
ALBANO
O governador Albano Franco (PSDB) vibrou com as vitórias de Maria Mendonça, PSDB, (Itabaiana), Ivan Leite, PSDB, (Estância) e Orlando Andrade, PTB, (Canindé). Domingo passado, Albano Franco viajou a Itabaiana para participar das comemorações da vitória de Maria Mendonça e ontem viajou a Brasília.
ITAPORANGA
A vitória de Gracinha Garcez (PSDB) em Itaporanga D’Ajuda foi uma reação da população contra a prisão do ex-deputado Antônio Francisco. O pessoal não acredita que ele foi o mandante do crime do deputado Joaldo Barbosa. Acha que tudo foi armação do seu filho Junior.
SEM DORMIR
Muitos prefeitos derrotados estão sem dormir, porque têm que organizar as suas Prefeituras até dezembro, principalmente em relação aos gastos. A maioria deles não imaginava perder o pleito a agora, já em dezembro, tem à frente a Lei de Responsabilidade Fiscal.
ARRECADA
Segundo uma fonte da Secretaria da Fazenda, a arrecadação no mês de setembro bateu, em relação aos demais meses dos quase dois anos de Governo. A mesma fonte diz que o secretário Max Andrade está animado, porque o ICMS tem apresentado um aumento a cada mês, o que é muito bom para Sergipe.
Notas
DEMOCRACIA
“Triste de um país que um juiz eleitoral não tenha força para dirigir uma eleição. Isso seria o fim da democracia”, quem pensa assim é o presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), desembargador Artêmio Barreto, que pediu forças federais para Sergipe 48 horas antes do pleito, por sugestão de alguns juizes. Artêmio Barreto ensina que “há um momento que o homem tem que se definir. E eu me definir, para que houvesse uma eleição limpa e, sobretudo, honesta, respeitando a vontade do eleitor e fortalecendo a democracia”.
COMANDO
Os candidatos do PT vencedores nestas eleições devem iniciar um movimento para reduzir o poder de políticos paulistas no comando nacional do partido. A vitória de Fernando Pimentel no primeiro turno, em Belo Horizonte, lança o novo o prefeito da capital mineira à liderança deste movimento.
Em Aracaju, Marcelo Déda reforça a “nacionalização” do comando petista.Obteve 71,38% dos votos e foi reeleito. “Está havendo um exagero nas avaliações. Não se pode pensar que o PT só vai ganhar as eleições se levar São Paulo”, disse Déda.
RESPOSTA
Os lojistas do shopping Jardins elegeram uma nova diretoria para Associação que congrega a classe. Os empresários Gilza Góes e Antônio Carlos Carvalho foram eleitos com 50 votos contra a chapa do atual presidente, Augusto Barreto, que obteve 34 votos. Venceu o time que não vai partidarizar os objetivos dos lojistas. “A gestão passada fez muitas promessas, pouca ação e muita barulheira. Ninguém quer isso e resposta foi dada”, disse Antônio Carlos. A gestão passada foi marcada por conflitos de interesses pessoais da presidência contra o estado.
É fogo
O juiz da comarca de Macambira, José Antônio de Novaes Magalhães, vai abrir inquérito pra apurar porque não foi enviado reforço policial para aquela cidade.
João Alves Filho (PFL) disse que não subiu no palanque da deputada Susana Azevedo (PPS) para não coloca-la na condição de chapa branca.
O candidato Farlinho, que investiu pesado na campanha, não conseguiu eleger-se. Não basta ter dinheiro, é preciso saber gastar.
O ex-governador Albano Franco (PSDB) disse que não deixaria no partido, porque não tinha motivos para isso.
A juíza de Riachuelo não permitiu comemorações do prefeito eleito, Antônio Carlos, porque estava havendo muita briga. Será no próximo domingo.
O prefeito Marcelo Déda disse que em time que estava ganhando não podia ser mexido e por isso manteve Edvaldo Nogueira (PCdoB) como o seu vice.
Segundo Marcelo Déda, não tem nada a reclama de Edvaldo e o considerou um companheiro leal de administração.
O superintendente da Polícia Civil, Paulo Ferreira, esteve em Macambira para por ordem em relação ao caso das urnas, mas assim que ele saiu da cidade, tudo recomeçou.
O Plano da Secretaria de Segurança Pública era para colocar 3.860 soldados para a seguranças do pleito. Um levantamento feito, não chegou a 1.500.
Em Lagarto, 22 pessoas foram detidas no dia das eleições, inclusive o secretário de Finanças do município.
O presidente da Petrobrás, José Eduardo Dutra (PT), passou o final de semana em Aracaju e outras cidades em que o PT tinha candidatos a prefeito.
A candidatura de Jorge Alberto (PMDB) valeu porque colocou o partido na disputa majoritária em Sergipe.