O sucesso dos livros de auto-ajuda é uma realidade que não se pode negar. Os espaços que ganham nas livrarias e palpites culturais dos amigos são provas deste crescente mundo editorial. Os livros de auto-ajuda ganharam tanto destaque que mereceram um ranking próprio nas colunas destinadas à pontuação dos livros mais vendidos na semana. Não só os livros se destacam, as revistas semanais e jornais diários sempre reservam artigos específicos sobre a melhoria da auto-estima ou da vida alheia. E quando os leitores acreditam que não precisam destas ajudas, sempre lançam mão de questionários para semear dúvida sobre a nossa normalidade.
É questionário para todos os gostos e desgostos. Auto-estima, satisfação sexual, competência educacional, descaso com a saúde e interação familiar são alguns destes questionamos que insistem em duvidar da nossa opção de vida. Embora não leitor deste segmento editorial, não posso dizer que estou alheio à sua influência. Agora mesmo, por exemplo, estou transcrevendo o questionário que distribui num debate sobre “controle social das políticas públicas”. Eu o denominei “Questionário de auto-ajuda social”. Esclareço que não precisa de muito esforço para o seu preenchimento, mesmo porque são apenas duas questões exigidas, inclusive com tantas respostas possíveis que foram utilizadas todas as letras do alfabeto. Eis o questionário:
QUESTÃO 1: Você sabe o que faz ou já participou das seguintes entidades: a) CONSEA – Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional; b) CNS – Conselho Nacional de Assistência Social; c) CMEs – Conselhos Municipais de Educação; d) CACs – Conselhos de Acompanhamento e Controle Social; e) CNS – Conselho Nacional de Saúde; f) CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social; g) Conselhos Gestores de Políticas Públicas; h) CONANDA – Conselho Nacional dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes; i) CONAD – Conselho Nacional Antidrogas; j) CONCIDADES – Conselho das Cidades; k) CNRH – Conselho Nacional de Recursos Hídricos; l) CNDM – Conselho Nacional dos Direitos da Mulher; m) CONDRAF – Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável; n) CNJ – Conselho Nacional de Juventude; o) CNPIR – Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racional; p) CAE – Conselho de Alimentação Escolar q) Conselhos Escolares e Unidades Executoras – Uex; r) Conselhos Estaduais ou municipais com nomes assemelhados ou com finalidades correlatas; s) associação de moradores t) conselho de classe; u) sindicato; v) conselho tutelar; w) associação de classe; x) ONG – organização não governamental; y) associação civil; z) cooperativa.
QUESTÃO 2: Quais ou qual atividade você já organizou ou compartilhou: a) passeata; b) orçamento participativo; c) conferência; d) audiência pública; e) fórum; g) protesto; h) abaixo-assinado; i) jornal; j) manifesto; k) assinatura de lei de iniciativa popular; l) comitê de combate a corrupção eleitoral; m) reunião com entidades de defesa da sociedade; n) defesa dos seus direitos de consumidor; o) ajuizamento de mandado de segurança coletivo, ação popular ou ação civil pública; p) reunião de moradores; q) centro acadêmico; r) movimentos sociais; s) comissão de direitos humanos; t) comissões de fábrica; u) denúncias de abuso; v) boicote a alguma empresa ou produto nocivo; w) campanhas de conscientização; x) grupos ecológicos; y) agentes voluntários; z) caravana da cidadania.
As entidades e atividades mencionadas no questionário são aquelas que garantem a participação da sociedade nas funções de planejamento, monitoramento, fiscalização, cobrança, acompanhamento e avaliação de resultados das políticas públicas. Todas elas são integradas por representantes das mais diversas comunidades, quase sempre com a competência e mecanismo legais para impedir o desvio de verbas públicas. Todas elas obrigadas a aceitar a participação direta da comunidade, ainda que como assistente ou ouvinte. Para exemplificar, a merenda escolar que foi devorada por estômagos gananciosos, a ambulância que foi sugada pelo furação da corrupção, as sementes públicas que irrigam terras privadas, a violência que barbariza os homens e o trabalho infantil que escraviza o lucro fácil são alguns dos temas discutidos nestas entidades.
Assim, conhecidas as respostas, bem assim a importância social das entidades e atividades arroladas, a conclusão do questionário se torna óbvia. Quem assim deseja, basta somar os pontos e concluir como está o seu padrão de consciência social. São várias as categorias, algumas agora sugeridas: a) “eu sou um agente social” b) “eu tenho coisas mais importantes para fazer”; c) “eu não votei nestas pessoas, portanto não sou culpado”, d) “não posso fazer nada, pois uma andorinha não faz verão”; e) “já fiz muito no passado, portanto estou desobrigado com o futuro; g) “quem se importa” h) “eu sou um omisso assumido, mas quero mudar, preciso de auto-ajuda social”.