REATIVIDADE X PROATIVIDADE: UMA QUESTÃO DE ESCOLHA (*)

“Os problemas significativos com os quais nos deparamos não podem ser resolvidos no mesmo nível de pensamento em que estávamos quando eles foram criados”.
Albert Einstein 

 

Sempre que analiso um problema procuro me imaginar observando-o de longe, como se não fosse meu e, ao mesmo tempo, vislumbrá-lo das mais diferentes formas e ângulos possíveis. Imagino que tenho o poder de colocá-lo em um vaso transparente e que posso ficar olhando-o de fora, como se estivesse exposto numa vitrine e fosse possível enxergar fatos, imagens, conexões, pessoas que podem ajudar pessoas, que podem atrapalhar e por aí vai… Isso poderá parecer bobo para alguns mais céticos e lógicos, todavia essa estratégia me permite ter a impressão de que estou fora dele a assim posso, muitas vezes, enxergar pequenas nuances as quais não tinha observado antes, ou então consigo vê-lo por outro prisma. Volta e meia esse exercício me surpreende.

 

Essa postura deixa bastante claro para mim que todo processo criativo começa de dentro para fora, ou seja, que muitas vezes preciso me afastar do problema (adiando o meu julgamento) para observá-lo de longe, e para isso acontecer isso é preciso tomar a decisão de fazê-lo.

 

No discurso organizacional da atualidade a palavra “proatividade” vem sendo intensamente utilizada. Os executivos querem subordinados proativos, as empresas querem gerentes e empregados proativos, queremos a proatividade nas comunidades, nas escolas, nas universidades, nas empresas e instituições. E agora?

 

Acredito que o primeiro passo é de justamente compreender o verdadeiro significado dessa palavra, tentando enxerga-la de longe, para em seguida, verificarmos onde poderemos aplicá-la de verdade e com sucesso.

 

Na maioria das explicações entendemos que a tão almejada proatividade é a “capacidade de tomar iniciativas”. Todavia, no nosso linguajar do processo criativo, a proatividade significa muito mais do que “apenas” isto. Primeiro, compreendermos que cada um de nós é responsável pela sua própria vida; segundo, que os nossos comportamentos são resultantes das decisões que tomamos através dos nossos pensamentos, logo não são os fatos externos que nos impelem a decidir; terceiro, precisamos ter a coragem fazer com que aquilo que desejamos aconteça.

 

Portanto, é evidente que o comportamento (ações externas) resultante dos pensamentos (ações internas), aliado à nossa responsabilidade (habilidade para escolher a resposta que buscamos) – que por sua vez é produto da nossa escolha consciente – deverá estar baseado nos valores humanos essenciais e não em sentimentos, pois estes são resultantes de um condicionamento. A natureza nos impele a sermos proativos, mas a nossa vida só é norteada por condicionamentos (ou sentimentos) se deixarmos que o nosso pensamento seja dominado por eles, seja por ignorância ou omissão.

 

Quando isso acontece deixamos de atuar proativamente e passamos a agir de maneira “reativa”. E o que significa ser “reativo”? Nada mais é do que nos deixarmos dominar pelo ambiente físico que nos cerca. Se o tempo está bom sinto-me feliz, se está chovendo sinto-me triste e melancólico; se estiver num ambiente de pessoas alegres fico alegre, se estou com pessoas tristes sinto-me triste. Em suma, as pessoas dominadas pela reatividade têm por hábito construir a sua vida emocional e profissional em torno do comportamento dos outros ou da situação que as circundam, em outras palavras nada mais é do que permitir que a fraqueza as domine e fiquem à mercê de sentimentos, acontecimentos e situações externas.

 

Isso não quer dizer que os indivíduos proativos não estejam à mercê dos estímulos externos (sociais, físicos ou psicológicos), é claro que estão, mas a diferença é que eles são capazes de transformar e não se deixar abater por esses estímulos.

 

Ou seja, é o nosso consentimento, a nossa autorização que faz com que as palavras de terceiros, muitas vezes próximos ou afastados de nós nos firam muito mais do que as suas ações propriamente ditas.

 

Embora seja uma maneira natural de reagirmos responsabilizando os outros pelos nossos erros, é importante considerar que é fundamentando em cada gesto de hoje que estamos construindo o nosso amanhã. E se o dia de hoje não tivemos oportunidades para construções sólidas que alicercem o nosso futuro, mais adiante, cedo ou tarde, alguma pilastra de sustentação poderá ruir e pode ser que o edifício que foi construído não venha a agüentar com a falta dessa pilastra e toda uma vida se esfacele em questão de segundos, apenas como conseqüência de um ato impensado.

 

Assim, as escolhas de hoje são fundamentais para a construção saudável da nossa vida. Percebemos isso claramente no nosso dia a dia, seja no campo pessoal, seja no campo profissional. Na maioria das vezes as pessoas são resistentes às mudanças porque elas atingem suas zonas de conforto, de “paz” aparente, de mesmice; todavia qualquer cenário de atuação em que estejamos vivendo as nossas vidas; poderemos afirmar que se trata – hoje em dia – de um cenário mutante.Tudo poderá estar se transformado o tempo todo; logo não dá mais para deixar de enfrentar e de conviver com essa realidade.

 

Em outras palavras, a carreira de uma pessoa tem que estar conectada com tudo o que poderá estar acontecendo à sua volta; o trabalho de um executivo precisa estar estrategicamente ligado aos diversos cenários da sua rede de contatos e atuação; a vida de uma empresa que deseja continuar no mercado por longos anos precisa estar focada no local e sabiamente interconectada ao global.

 

Decisões, gostos, desejos, anseios, novas maneiras de viver, novas maneira de atuar como cliente ou como fornecedor de produtos e serviços; novas maneiras de escolhas dos consumidores que estão sendo modificadas em questões de minutos. Esse é o mundo real da atualidade.

 

Percebemos muito bem isso nas empresas certificadas nas normas das ISO’s e outros processos similares; ou seja, não basta ter a certificação apenas, e preciso “vivê-la”, vivencia-la proativa e constantemente no seu dia a dia. Não se trata apenas de uma questão de “faz de conta que” temos, como muitos empregados chegam a pensar. As seqüelas e os desacertos poderão ser maiores e desastrosos se as atitudes dos empregados não forem conscientizadas e trabalhadas.

 

No mundo em que vivemos hoje, a reatividade é – na verdade – uma palavra em desuso, um mal do passado…

 

* Fernando Viana é diretor presidente da Fundação Brasil Criativo
fbc@fbcriativo.org.br

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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