Rita Lee: ainda?

Uma das críticas que me fazem é a de ser prolixo, difícil de ler e entender, e eu me lixo para isso. O meu papel não é ampliar leitores. Estes que me sigam por uma questão de qualidade, algo que garimpo nos meus textos. O português é um idioma muito belo para que sejam desrespeitadas suas regras, seu amplo vocabulário.

Outra coisa que detesto: a busca da unanimidade. Acho-a sobremodo burra e neste ponto estou a repetir Nelson Rodrigues, a "flor da obsessão".  Assim, ouso pensar diferente, mesmo em menoridade de opinião.

Democracia é assim, poder divergir, não seguir as maiorias burras. Por que a maioria, toda maioria é burra. Só a minoria é inteligente, sábia, capaz, confiável. Quem gosta de maioria é a demagogia, a mistificação, enganando moucos, tolos e preconceituosos.

Por acaso os hereges eram queimados na fogueira por minorias libertárias ou por maiorias intolerantes e biliárias?

Que o diga Galileu Galilei tornado figura perigosa porque descobrira uma Física onde o homem não era o senhor do mundo.

Que o diga a mãe de Johann Kepler escapando da fogueira, perseguida por multidões enfurecidas que a viam como bruxa, razão da peste, da pústula e da moléstia, como praga de seu rastelo em dita manipulação diabólica.

Que o diga também Rosa Luxemburgo, morta a cacete por quem não era de seu agrado.

Ora, com tantos exemplos próximos ou longínquos, aquilo que nos desagrada continua terrível! E o homem em sua natureza egoísta repele aquilo que o assusta, por diferente, desconhecido e divergente do seu modo de agir e pensar. Daí os Galileu, os Giordano Bruno, os milhares de arianos, os milhões de judeus, os pogroms, os cem milhões de mortos pelas democracias proletárias, todos executados por aplauso de maioria, mas que nunca são assumidos nem responsabilizados. Uma repetição costumeira da banalização do mal, de quem bem dissertou Hannah Arendt.

A julgar pela imensa maioria de bons cidadãos mais que tolos que se revoltaram contra o meu artigo anterior, a roqueira Rita Lee deveria ser moída a cassetete, só porque usara o usual, corriqueiro e comunal “filho da puta”, em defesa de seu auditório violentamente espancado.

Para estes, o pau tinha que cantar mais ainda. Espancamento que eles não viram por causa de um imenso fogaréu de baseados consumidos.
Não será isso um argumento abjeto ou mais um excremento expelido pela boca de um canalha?

Se havia tão farto consumo de maconha, coisa de quilos e mais quilos, toneladas, a produzir sufocante fumaceira, por que não foi realizada a assepsia preventiva, caçando o objeto do crime?

Não! Não houve fumaceira. Se esta existiu saia das fuças do infame que em postura irada de dragão, queria eliminar o que não lhe era espelho.
Ah! “Mas eu sou um cidadão de bem!” Grita outro. “Eu me incomodo de ser chamado de ‘filho da puta’”.

Pois eu, que não sou um “cidadão tão de bem” assim, não me incomodo que a mediocridade, por não possuir argumentação e raciocínio, prefira chamar-me de “filho da puta”, sobretudo em anonimato pouco corajoso e varonil.

Na verdade, um xingamento sem assinação sempre é parto da “nostalgie de la boue”, como dizem os franceses, nostalgia da lama. Ou o resquício da pocilga onde chafurda e reflete.

Que fazer então? Denunciar-lhes o mau odor, mesmo que venha do anonimato ou jogado como flatulência num elevador? Sim! Só para ver se a vergonha suplante a lama, o mau odor. É o que tento agora e sempre.

Por acaso o arroto anônimo deixa de ser nefasto e fedorento, só porque foi lançado sem testemunha, como os cachorrinhos de madame que se limpam no passeio do vizinho?

Escrevi sobre o affaire Rita Lee porque o achei uma tolice; um excesso de intolerância descabida contra a desafinação da roqueira. Se alguém por asneira quiser processá-la, que o faça! Cada um é responsável pelos seus atos. O meu será o de defendê-la, por seu direito sobretudo, sem busca de melhor argumento.

Agora, concluir com isso que eu sou adepto a um baseado?! É tão engraçado quanto ridículo! Que sou adepto das drogas ou que desejo estimular seu uso? Incluam-me fora dessa!

Desejar que meus netos, tão crianças ainda, inocentes e lactentes, se tornem futuros delinquentes? Só por isso, por desagradar um malevolente?!  Não! Praga não pega, ô meu! Praga é bumerangue, ó pigmeu!

O que desejo na vida é que as pessoas estudem, sejam amigas dos livros, se capacitem. Só assim nos libertaremos todos das nossas mediocridades. O mundo deve e pode ser melhor. Depende de nós. De aceitar o divergente. Jamais pensar em eliminá-lo como mal.

O mal está no homem como o bem. Se há alguém que usa droga, que o faça em bom proveito, sobretudo se isso não causar dano ou lesão a outrem.

Raciocinemos agora entre o absurdo e o abstruso: Tem gente que adora sexo anal. Que fazer com tal gosto já comum e não mais inusitado?
“De gustibus, coloribus et amoribus non est disputandum”, já diziam os latinos pregando a boa tolerância dos homens: gostos, cores e amores não se discutem.

Pode-se apenas lamentá-los, sem querer suscitar ofensas.

Coibi-los; jamais!

Devemos ser contra quem desejar um sexo assim? Não! Quem assim gozar, que o faça em bom proveito, sobretudo em excesso de comprimento e largura. Ora essa!

Ah! Você agora baixou o nível, dirão outros críticos. Argumentou com grosseria! Mas não é assim? Sempre o desencanto a quem desprezamos?

O que nos desagrada sempre suscitará a velha intolerância inerente a santos e pecadores. Dai os santos se juntando aos pecadores na ereção de novas fogueiras e patíbulos, como agora entre tantos querendo churrasquear a maviosa Rita Lee.

É contra estes intolerantes que eu luto. Contra esta democracia que é imaginada como pleito em maioria.

Democracia não é isso! Não é a maioria massacrando a minoria.

Democracia é liberdade! É você poder divergir desta maioria, sobretudo se ela for estúpida.

Por acaso uma maioria de tolos deixa de ser menos bocó e imbecil?

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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