Dos diversos locais de Salvador (BA) onde a baianidade é tão evidenciada, nenhum deles é tão cheio de vida como a Feira de São Joaquim, localizada entre os bairros Comércio e Calçada. A antiga Feira de Água de Meninos se debruça à beira da Baía de Todos os Santos. É referência para o povo de santo na compra de produtos religiosos; para a compra dos ingredientes que compõem os mais tradicionais pratos da culinária baiano; ou até mesmo somente flanar por vielas e bater um papo com Leonna, a Diva do Restaurante; Seu Milton do Bar de São Jorge; Evandro; João das Pimentas…
História viva do comércio de rua da Capital do Baianos, o aglomerado inicial era denominado de Feira do Sete, por ficar no Galpão 7 das Docas e abrigar um atracadouro para receber produtos vindos do Recôncavo Baiano. Nos anos 30 o comércio de rua foi acometido por um incêndio e ali surgiu novos personagens paralelos aos feirantes: os meninos órfãos da Casa Pia de São Joaquim que se banhavam no local. Não foi por acaso que o largo ganhou na década de 50 o nome de Água de Meninos. O comércio improvisado continuou, mesmo com sucessivos incêndios. De pequena venda, transformou-se na maior feira da região a época: a Feira de Água de Meninos de São Joaquim, ou simplesmente, Feira de São Joaquim.
As ruelas são um emaranhado de bancas de frutos, verduras, grãos, materiais de casa, de limpeza, artesanato em couro, plástico, mas são os protagonistas da feira os utensílios em barro, as ervas, os ingredientes da culinária baiana.
A exposição dos produtos tem todo um contexto social a depender do dia de santo, por exemplo, em setembro é comum ver a frente da feira se encher de vendedores de quiabo, por conta das festividades de Cosme e Damião, típico na Bahia e que é comum oferecer nessa época o caruru. Mas para um bom baiano, o prato à base de quiabo é servido em dia de batizado, de aniversário ou qualquer outro dia que seja especial. E foi facinho, facinho, chegar ao local e logo ouvir um sonoro “Chega aí, Meu Preto. Tem quiabo do bom vindo do Recôncavo”, disse Inácio, um jovem que desde cedo aprendeu o ofício do comércio nas feiras livres.
O dendê in natura e o azeite engarrafado junto com um camarão defumado e avermelhado, chamam atenção de quem passa pela quantidade e pela cor. São inúmeras bancas com os produtos expostos, e logo vem em mente que ali é referência das baianas para a compra dos ingredientes do acarajé.
Percorrer as ruelas setorizadas da feira que passa por readequação na infraestrutura é um banho de baianidade. Seu Paulo Calabresa aguarda o freguês numa prosa bacana, enquanto uma senhora se aproxima e pede pimenta chocolate, uma típica pimenta de cor escura, exposta junto a várias outras.
As quantidades de pimentas atraem os olhos pela variedade de cores, além do olfato do camarão seco da outra banca e da memória afetiva de quem sabe que comida baiana tem que ser “quente”, aguçada no vermelho do dendê e agraciada com as cores dos produtos frescos das feiras livres da Bahia.
E se os cheiros, cores e sabores in natura estão presentes na feira, não poderia faltar os restaurantes e bares para se poder apreciar um bom prato. Os restantes ficam à beira-mar, com uma vista chamativa da Baía de Todos os Santos e lá já tem sua rainha, a Lorrana, considerada a Diva dos Restaurantes, onde a cerveja bem gelada é servida por ela com um bom acompanhamento de manjuba (Pixixinga), um peixinho bem crocante, típico das águas salgadas baianas.
Não é por acaso que quando um turista passa pela Cidade Baixa e ver aquele aglomerado de carros parados e um tanto de gente indo e vindo, logo percebe que ali é o Templo das Baianidades, um espécie de templo cultural, filosófico e antropológico de Salvador. E para completar as baianidades, em 2017 o local ganhou um galpão que é o reduto do samba popular, com a criação do Samba da Feira. Completou: cheiro, cor, sabor e som. E no fim de tarde, aquele belo pôr do sol que so Salvador possui. Chegue aí que o Templo das Bainidades continua cheio de vida.
Dicas de Viagem
A feira funciona de segunda a sábado, das 6h às 18h, e aos domingos, das 6h às 14h. Quando aos domingos tem samba, os bares ficam abertos mais tempo. O uso de máscara é obrigatória e deve seguir os protocolos de segurança, como distanciamento e uso do álcool.
Salvador tem diversos pontos de apreciação do pôr do sol, por ser a única capital que se põe no oceano, ou seja, o sol se põe na linha de praia. Se preferir apreciar o pôr do sol, siga para a Feira de São Joaquim no turno que possa almoçar, percorrer as vielas e aguardar o Astro Rei se Despedir;
Há vários conglomerados de barracas e distribuídas em vielas. Para não se perder, conheça a parte de ervas, de utensílios de casa, barro, das especiarias e vá até o final da feira que fica na beira mar.
São poucos restaurantes e bares e, por consequência, há poucas mesas.
Os estacionamentos da redondeza cobram por hora. Se passar de um determinado tempo, eles exigem o pagamento da diária que custa até R$ 50, a depender do estacionamento. Fique atento. É bom estacionar em um lugar seguro. Há locais que cobram a partir de R$ 3.
Há turistas que conhecem a Feira de São Joaquim quando vão a Colina do Senhor do Bonfim ou a Ponta do Humaitá. A dica é regular bem o tempo, porque atrações são o que não faltam.
Não deixe de ver a vista do atracadouro com a igreja de São Joaquim, no largo do mesmo nome. A igreja passa por restauro e está fechada para visitação.
Gastroterapia
Os pratos nordestinos, mais precisamente os baianos, a exemplo de caruru, vatapá, acarajé, os peixes fritos (manjuba), os ensopados de carne, as moquecas, entre outros pratos caseiros da culinária do sertão e praiana estão presentes em todos os restaurantes da feira. Alguns à custo popular e outros nem tanto, já que são mais turísticos.
O restaurante São Jorge tem uma filial em outro bairro da capital baiana e oferece o sabor popular com um toque da boa mesa.
Fotos: Silvio Oliveira. Curta nossas redes sociais no Instagram @silviotonomundo