SEIXAS DÓRIA E O GOLPE DE 1964

Vibrante em sua oratória, Seixas Dória ainda hoje carrega um discurso emocionado, marca de sua carreira política, desde 1947 quando ingressou na política, assumindo o mandato de deputado estadual constituinte, repetido em 1951, até o Governo do Estado, para o qual foi eleito em 1962, passando pelo brilho extraordinário da Câmara Federal, nas eleições de 1954 e 1958. Era, então, um militante da UDN – União Democrática Nacional, com participação ativa no jornalismo sergipano (desde 1958 ocupa a Cadeira 32 da Academia Sergipana de Letras), presença no programa Resenha Política, da Rádio Liberdade, e destaque nacional como parlamentar progressista, sintonizado com a sociedade brasileira que clamava por mudanças. A eleição presidencial de 1960 destacou o Estado de Sergipe. Leandro Maciel, liderança udenista, que tinha governado o Estado, teve seu nome indicado para companheiro de chapa de Jânio Quadros, como candidato a vice presidente da República. Aracaju recebeu caravanas de políticos da UDN, ao lado do candidato a presidente, enquanto em outros lugares surgiam outras candidaturas. O mineiro Milton Campos terminou sendo o candidato, mas perdeu a eleição para João Goulart, ex Ministro do Trabalho, que compunha a chapa do Marechal Teixeira Lott. Naquele tempo o eleitor podia votar no candidato e presidente de um partido ou coligação e no vice de outro ou de outra. Mas, ainda assim, Seixas Dória participou da campanha, acompanhou Jânio Quadros, no Brasil e no exterior, sedimentando ainda mais sua imagem de orador e de político. Passado o efeito Jânio Quadros, que governou por apenas 7 meses, renunciando, Seixas Dória continuou atuante e em 1962 era o melhor nome para concorrer ao Governo do Estado, contando com apoios importantes do seu partido. A pretensão, no entanto, esbarrou no desejo de Leandro Maciel de voltar a governar Sergipe. O PSD, com seu aliado o PR, enxergaram em Seixas Dória o homem capaz de aglutinar as forças políticas e barrar o projeto leandrista de retorno ao Poder. O governador Luiz Garcia renunciou em maio de 1962, para ser candidato ao Senado, deixando no Governo o vice Dionízio de Araújo Machado. As duas principais chapas foram assim constituídas: Leandro Maciel/ Manoel Conde Sobral, pela coligação formada pela UDN/PTB/PST e Seixas Dória/ Celso de Carvalho, aglutinando o PSD/PR/PSB. Seixas Dória obteve uma vitória por cerca de nove mil votos, a maior de todas as eleições estaduais, desde 1946. O Governo Seixas Dória foi de pouco tempo e dividido entre viagens e ações administrativas. Coube a ele, por exemplo, instalar o Banco do Estado, criado para fomento no Governo Luiz Garcia, construir o conjunto residencial Cidade dos Funcionários, dentre outras atividades. Enfrentou onda de greves – estudantes e professores – e invasões de fazendas, como a Bica, no município de Pedrinhas. Tendo perdido um dos seus mais importantes aliados, o ex prefeito de Aracaju José Conrado de Araújo, Seixas Dória sofreu o desgaste de ver a polícia do Estado assassinar, em Itabaiana, o deputado federal Euclides Paes Mendonça e seu filho, o deputado estadual Antonio Oliveira Mendonça. Mas era no plano federal que o governador de Sergipe aparecia, requisitado para reuniões, comícios, festividades, mobilizações em favor das chamadas Reformas de Base, símbolo das mudanças que o País e a sociedade brasileira requeiram. Em recente pronunciamento na Academia Sergipana de Letras, a propósito dos 40 anos do movimento militar de 1964, Seixas Dória rememorou um encontro, no dia 12 de março de 1964, com o governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, um dos líderes civis do golpe, quando foi examinado o quadro nacional e a revolta militar em curso. Seixas Dória foi convidado pelo seu colega mineiro a levar as preocupações ao presidente João Goulart, o que ele fez no dia seguinte, durante almoço reservado. As conversas não tiveram qualquer efeito, pois o presidente, tanto quanto o governador Seixas Dória, estava empolgado com a campanha pelas reformas de base e na expectativa do comício que seria realizado, naquele dia, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Seixas Dória foi um dos oradores do comício da Central do Brasil, estopim para que crescesse entre os comandos militares a disposição de depor o presidente João Goulart. E assim foi feito. Seixas Dória estava fora de Sergipe quando o golpe começou, na noite de 31 de março de 1964, com a adesão do Governo do Estado de Minas Gerais. Os fatos foram crescendo por todo o dia 1º de abril, com notícias desencontradas vindas de Brasília, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul. Em Aracaju o deputado federal Euvaldo Diniz e lideranças de trabalhadores ensaiaram passeatas de apoio ao presidente João Goulart, enquanto havia uma expectativa em torno da chegada a Sergipe do governador Seixas Dória. No meio da tarde do dia 1º, acompanhado do Secretário de Segurança Pública, coronel do exército, professor e homem de letras sergipano Arivaldo Silveira Fontes, Seixas Dória desembarcou no aeroporto Santa Maria, mantendo um ar de preocupação, mas acreditando, ainda, na capacidade de resistência de comandos militares e da opinião pública nacional que apoiavam o presidente João Goulart. Assumindo o Governo e retomando as atividades palacianas, o governador Seixas Dória foi surpreendido, na madrugada de 2 de abril, com a presença de tropas comandadas pelo coronel Silveira, comandante do 28 BC, no Palácio Olímpio Campos, para defenestrá-lo do Poder, passando o cargo para o vice governador Celso de Carvalho. Seixas Dória foi deposto, preso e enviado para a ilha de Fernando de Noronha, convertida em presídio, onde passou algum tempo, tendo a companhia de Miguel Arraes, governador de Pernambuco, também deposto. O ex governador de Sergipe teve, ainda, os direitos políticos suspensos. Com a anistia de 1979 Seixas Dória tentou retornar à política, mas os sergipanos não prestaram a homenagem do reconhecimento. Candidato a deputado federal, em 1982, obteve votos para ser apenas suplente, tendo assumido, por algum tempo, o mandato, pela legenda do MDB. Seixas Dória exerceu algumas funções públicas, estaduais e federais, mantendo a mais absoluta fidelidade as idéias que tem defendido, ao longo da vida, com o olhar lançado sobre o futuro do Brasil, e interessado no desenvolvimento do Estado de Sergipe. Aos 87 anos, sempre acompanhado de sua esposa D. Meire Mesquita, a mais solidária das companhias, Seixas Dória mantém a oratória inflamada e empolgante, como um grande vulto da política sergipana e brasileira. Faz gosto ouvi-lo, como um patrimônio político e intelectual de Sergipe. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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