Sempre é tempo de louvar.

Por circunstâncias e medos da Pandemia, vivo em isolamento, mascarado quando saio, viajar, nem se falar, nem à Missa estou indo, o arreceio me assediando via TV e no noticiário.

No diário, faço as minhas orações, qual monge cartuxo envelopado: pela manhã rezo as Laudes, depois o Ofício das Leituras, o sequente das horas Médias, findando o dia com as Vésperas, e no final já à noitinha, oro as Completas vingando amparo à Virgem mãe-de-todos, Maria!

E nesse retiro, entreato de beato, ou quase isso; gosto disso, restando-me feliz, por sobreviver e viver, com quem eu sempre quis.

Não sinto falta se me rareiam homenagens.

Não desejo usar capa, capelo ou sobrepeliz, de qualquer espécie de confraria; seja ela monacal ou literária.

Sobra-me a alegria de uma juventude já distante, mas todo dia amanhecida e renovada.

Se não brilho como o Sol, aqueço quem me é próximo: a mulher que me escolheu, os filhos que ela me deu, e os netos que nos chegaram: seis, três a três, bem repartidos; três rapazes e três meninas.

Alguns, os já estudantes, são todos estudiosos, prêmio que me alegra o ser.

Porque no princípio de tudo deve vir o esforço pessoal, o denodo, para assim vencer os desafios, ou não os vencer, afinal os limites sempre existem, e resistem, igual a Aquiles prosseguindo, sem perder o passo, contra o consenso da doxa, e o contrassenso da paradoxal partida, sem vencer a infinda corrida frente a tarda tartaruga.

Digo assim, porque me vejo nos passos tanges e lentos reflexos um quase quelônio, um jabuti parecido, já me atardando no caminho, contemplando a paisagem com carinho, sem cansaço.

Agora mesmo estou a comemorar o aniversário de quarenta anos de meu rebento mais novo: o meu Junão; que está “correndo arriado”, como se dizia em outros tempos de aperreio, tendo que cuidar de Isabela e Luísa; minhas netas gêmeas,  em prévias de engatinho.

Junão, que é a minha segunda companhia predileta, como digo no meu entono sempre, porque a primeira é Dona Tareja.

Não há companhia melhor que Junão para tomar cerveja, comer caranguejo, viajar ao exterior, compartilhar um churrasco, essas coisas que alegram o viver e o conviver.

Com Junão sempre foi bom discutir um filme assistido, destrinçar os enleios e os volteios das viagens no tempo na trilogia de “De Volta para o Futuro”, só para lembrar destes, e do épico “O Senhor dos Anéis”.

E por que não falar de Sylvester Stallone, como Rocky Balboa, subindo a escada do Museu de Arte da Filadélfia, na Pensilvânia, roteiro usado por ele, Junão, posando igual, em filmete a mim enviado, em som igual e em mesmos gestos, em viagem que ele realizara em tal desejo?

Junão pré-adolescente, que ligou pra mim choroso, com a morte dos “Mamonas Assassinos”, e também com as apreensões de um mundo ameaçado pelos bombardeios do World Trade Center, sem falar das apreensões, enquanto eleitor, com a facada de Bolsonaro em prévia eleitoral.

Ele sempre, e sempre ele, a me contar essas coisas.

Junão que só se afinou comigo nas aulas de direção de automóvel.

Junão professor também, e bom preparador de concursos.

Junão concursado, vencendo na prova e na raça, conquistando seus cargos e funções, sem vício de mancha ou jaça, igual aos seus irmãos, todos vitoriosos nos duelos da vida, e por isso; meus atletas, como os chamo!

Nenhum deles sendo um Pelé ou Maradona! Nem um Messe, Ronaldinho ou Neimar, mas sendo campeões na luta do existir!

Sem nunca precisar falsear, nem denegrir!

Porque o duelo vencido na fraude, sempre resta nodoso, encardido, com um brilho falso, entranhado, de um riso imerecido.

E em outro sorrir verdadeiro, como não lembrar da viagem que fizemos a Paris, ele e Maíra, sua esposa, comigo e Tereza, a “flâner le long des rives gauche et droite de la Seine, également en bateau, sans oublier les nombreuses visites de librairies, come L’Ecume de Pages”, quase colada a “Le Deux Magot”, restaurante de nossa boa pedida, e uma loja preferida por Tereza, das bolsas Luis Vuton, defronte à terna “Église de Saint Germain de Prés”, cenário de Jaques de Vorragine, tema de três textos meus, aqui lançados, em reflexos do Crime de Sylvester Bonnard, de Anatole France, só para dizer que ali próximo, situa-se também “Le Relais de L’Entrecote”, cujo contrafilé em molho único, é segredo nunca a ninguém confiado, um desconfio, que me parece ser mistura, com “foie gras” bem preparado, ou de “foie de volaille, coq, chapon ou poulette”, coisa de melhor esquete, que visitamos, experimentamos e bem degustamos.

Falo assim por lembrança, porque foi muito boa a viagem que fizemos naquele frio ameno de “février”, isso em 2017, cinco anos passados.

Como não falar, e consignar, que nessa viagem, ele e Maíra, às expensas deles, nos presentearam com um jantar inesperado, no cimo da Tour Eiffel, justo no dia três de fevereiro, quando Tereza e eu completávamos “quarante quatre ans de mariage heureux”, com direito a brinde de champanhe e a “éteindre des bougies”, tudo por eles preparado e organizado, para surpresa nossa?

Nessa viagem assistimos o show do Lido, vadeamos Paris de Metrô, passeamos de bateau , compramos especiarias na Ilê de lá Cité, por detrás de Notre Dame, no Quais de l’horloge.

Vimos também o cubículo final da infausta rainha, Maria Antonieta, parenta próxima da nossa Imperatriz, Leopoldina, isso na Sinistra Conciergerie, quando invadimos o prédio vizinho sem o saber, eu na frente, farejando e “en demandant des informations ”, justo na sede do Parquet Nacional, querendo usar um toilette privativo, mesmo que fosse “d’un procureur supérieur  de justice incertain, de tout avocat ou procureur, n’importe qui, car lors d’un voyage les tripes se battent, ils ne sont pas d’accord”.

E nessa briga das tripas, insolentes à lactose, o cabra sofre um aperto danado, só vingado pelo riso depois.

Daí ser bom contar, embora seja besteira somente, e tem gente que não gosta que assim eu faça e escreva…

O que me faz lembrar de uma menina que a um amor rejeitado assim cantava: “tem quem goste, tem quem queira, e por mim faça besteira”.

Digo assim, porque diante de meus textos, poucos ficam indiferentes…

É como se aplicasse no meu rascunhar o conselho do Evangelho: “Seja quente ou frio! Morno, eu te vomito!”

E nesse vomito alguns se exasperam…

Uma vez uma amiga ao ler um dos meus escritos, confessou o seu repúdio a minha esposa: “Tereza, minha querida, vamos respeitar!, Odilon só mesmo você, para aguentar!”

Logo Tereza, aquela que me faz felicitar, dia a dia, quando há tantos que não conseguem encontrar na vida o seu par, seu complemento…

E nós estamos, Dona Tareja e eu, em vésperas de completar quarenta e nove anos de união graças à Deus!

É quando eu volto às minhas preces, louvando a vida no nosso entorno, agora exaltando o nome da Professora Rosália Bispo dos Santos, falecida na semana que passou, conforme a prece dos fiéis defuntos, na Missa que assisti via internet.

Rosália que foi, por um tempo, minha professora de português no velho Atheneu Sergipense.

E que depois, quando eu ainda era estudante do Curso Colegial, foi nomeada Diretora do Atheneu, pacificando com seu riso terno e seu olhar azul, puríssimo, a discórdia vigente nas perseguições desferidas contra alguns estudantes, só por simples e puro proselitismo ideológico.

Hoje tudo é história, cada um contando a sua.

Na minha história, em outra via, encontro Rosália arguindo-me na dissertação e na prova de Português, no Concurso Vestibular da Escola Superior de Química de Sergipe.

E depois, já acadêmico da Escola de meu Mestre, Leonidas Tancu, fui convidado pela Diretora Rosália a lecionar Física no velho Atheneu, isso no distante 1968.

Relato assim, e destaco sobremodo, porque na primeira aula que ali nervoso ministrei, troquei olhar com uma bela garota, atração que me sustenta e acompanha, desde aquela data: 4 de março de 1968.

Pelos incontáveis méritos da Professora Rosália Bispo dos Santos, e por essa sua involuntária ação, me fazendo feliz, para sempre, possibilitando o encontro com a mulher amada, ergo uma prece de réquiem, por essa vida notável, que ao se extinguir, também me apequena!

Para concluir e à guisa de explicação, volto-me ao leitor, repetindo-lhe, mais uma vez, que esse blogue sou eu.

Não é uma coisa impessoal ou coletiva.

Se agrado pouco, rimo rouco e pareço mouco, nos meus ecos inúteis, incomodados, e mal aliterados, pretendo permanecer assim, broco e mouco, jamais oco, ou em multi recheios de vazios.

Aqui não se perde nada!

Nos meus desvios não existem singularidades de desbrios ou brechas que perturbem o contínuo e a suavidade, só para bem falar das funções ditas bem-comportadas, como bem deslindam a álgebra linear e a boa análise matemática.

Aqui, sempre se ganha algo de bom. Nem que seja alguma tolice, como destemperos diarreicos, sói comuns a todos nós!

No termo de agora, quis me alegrar com meu Junão, o caçula, por já um quarentão, e destacar a vida da Professora Rosália Bispo dos Santos, pranteada mestra de muitos em Sergipe.

Que Deus me conserve e aos meus, e receba nos seus braços a alma da Professora Rosália!

Sempre é tempo de louvar e agradecer. Deo gratias!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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