
Entre a Bahia e Pernambuco, no município de Glória (BA) fica um paraíso que tem atraído o olhar de visitantes ávidos por banho de águas transparentes, passeios sob dunas de areias finas e contato com a natureza: a Ilha de Rarrá, um paraíso entre as águas do São Francisco, represadas para dar espaço ao Lago de Itaparica. O local é um desenho onde a mão humana interviu e, junto com o natural, o Lago artificial de Itaparica convive harmoniosamente com a beleza são-franciscana da localidade.
O passeio começa ainda no embarque em catamarãs na orla da pernambucana Petrolândia. Depois de pouco mais de meia hora de brisa, sombra e muita água, o turista verá uma paisagem de montes e elevados ao longe e, mais perto, a primeira parada para contemplação: a igreja semissubmersa do Sagrado Coração de Jesus. As torres da antiga igreja da cidade de Petrolândia é símbolo de resistência e se transformou num ponto turístico da região do Médio São Francisco.

Conta a história que a cidade de Petrolândia foi submersa pelas águas do rio São Francisco em 1988, após mais de 11 mil habitantes terem que deixar suas casas e partirem para a localidade onde hoje está a Petrolândia. As águas deram espaço ao Lago de Itaparica, que abastece as turbinas da Usina Hidrelétrica Luiz Gonzaga. Em 2014 parte da igreja emergiu ao público e se transformou num ponto turístico nordestino, símbolo de resistência da antiga cidade para a passagem a uma nova Petrolândia.
Paralelo a toda essa efervescência de novidade para a região, Petrolândia e outras cidades submersas não voltaram a ser a mesma e tiveram que se reerguer. Conta Ilzon Souza, um dos filhos do vaqueiro de Israel Souza (1948-2018) e proprietário da Ilha Rarrá, a história da ilha está intrinsecamente ligada a esse tempo, em que as a construção da hidrelétrica mudaram as rotinas das cidades.

“A história vem lá de trás, com a construção da hidrelétrica. Meu pai era um cara imperativo, era o mais novo, o caçula de todos os filhos dos meus avós, todos eles cresceram aqui e meu pai Israel se destacou na habilidade do cavalo. Minha avó mandava ele ir num rá e voltar num rá. Então a vizinhança colocou o apelido de Vaqueiro Ra rá, depois fazendeiro e boiadeiro por fornecer gado nos anos 80 90”, conta Ilzon Souza, acompanhado da mãe Elizabeth da Silva Souza.
O banco de areia com águas propícias ao banho onde antes era tinha uma simples casa de fazenda de gado foi aos poucos ganhando impulso para o turismo. Não poderia ser diferente. Águas calmas para a navegação e cristalinas para o banho. Delas também, pescadores tiram as maravilhas da cozinha são-franciscana com apoio do sertão nordestino. A combinação não poderia ser outra: um peixinho frito à beira ao se refrescar nas águas do São Francisco, com a brisa do sertão nordestino.

Os proprietários há dez anos vêm convergindo os olhares para o empreendimento e disponibiliza além de receptivo de bar, redários dentro e fora da água, têm banheiros privativos para banho, restaurante, salão de jogos de mesa, espreguiçadeiras à beira-rio, caiaques, passeios pela ilha, além de quiosques e serviços, além de massoterapia e contato com a natureza em locais instagramáveis.
Ali também fica a Ponta de Rarrá, um local de dunas quase móveis, que consiste num berçário de aves do sertão. É ali onde a natureza se faz presente em sua magnitude com paisagem bem interessantes e encantadoras. Para ir até lá partindo do restaurante é fácil e rápido por trilhas à beira-rio. A palavra-chave é só contemplar. A Ilha de Rarrá é um paraíso entre as águas do São Francisco.
Na Bagagem

Para chegar até lá partindo de Aracaju são mais de 330 km no sentido Norte, pela Rota do Sertão até Paulo Afonso, já na Bahia, e mais 46km até Petrôlandia, em Pernambuco.
O embarque é feito na orla da cidade, custa R$ 70, por pessoa, e dura em média 5h de passeio. As embarcações, normalmente, iniciam por volta das 9h30, e deixam os visitantes para passar o dia. O almoço é feito no único restaurante da ilha.
A ilha tem acesso somente fluvial, curiosamente funciona bem somente com energia solar e eólica e compõe um conjunto de atrativos de Petrôlandia, sertão pernambucano, apesar de ficar em Glória (BA), já próximo de Paulo Afonso (BA).
Cuidado com a localidade. Por ser um berçário natural de aves não deve intervir na natureza mais do que já foi, somente contemplá-la.

O pôr do sol é uma boa pedida no retorno do passeio que dura cerca de uma hora. Para quem quiser pernoitar no local, o restaurante oferece infraestrutura de camping que, no entanto, deve ser agendada com antecedência.
A ilha não é habitada. Tudo chega até ela via barco. Por Glória, o visitante deverá seguir pela estrada BA 210 no sentido Projeto Glória – Agrovila 1 e de lá em diante, a continuação é através da travessia de Catamarã, pagando uma taxa de R$ 20, por pessoa.
Gastroterapia

Como em outras localidades balneáveis à beira do rio São Francisco, não titubei em escolher os pratos à base dos peixes da região, a exemplo da tilápia ou do surubim. Apensar da tilápia ser de outra localidade, o peixe é facilmente criado em tanques. O surubim é nativo do rio São Francisco, como o piau e outros. Há também os sabores sertanejos, como a carne de sol e a carne de carneiro.
Fotos: Silvio Oliveira
Leia Também