Não tem jeito. Chega eleição e tudo se repete. Candidatos, talvez achando que estão usando fabulosas técnicas de Marketing, colocam slogans( se é que se pode chamar assim) em faixas, cartazes, santinhos, muros e por aí vai. Alguns chamam a coisa de lema ou marca.
Tem para todos os gostos. Alguns são até interessantes, mas a maioria é de dar dó. Vulfânia, a minha assistente free-lancer( que, obviamente, faz free-lance, para mim), que, entre outras qualificações, gosta de dizer que é especialista em assuntos de marcas, genéricos e tópicos gerais( nunca entendi o que é isso), fez um rápido levantamento. Eis algumas pérolas.
– O deputado dos pobres
– Coragem para mudar
– Emprego aqui, fulano( o candidato) lá
– Todo mundo fala bem
– O voto de confiança
– O deputado da gente
– Não deixe calar essa voz
– Firme e determinado
– Competência e trabalho
– Sua luta faz a diferença
– Sou de coração
– Nesse você pode confiar
– Firmeza e trabalho
– O deputado amigo
– Coragem e seriedade
– Trabalho e experiência
– Responsabilidade e trabalho
Como se pode ver, alguns não têm nem um tantinho de originalidade e em nada contribuem para conquistar votos. Por isso, sugiro que os partidos contratem pessoas capazes para criar slogans e oferecê-los aos candidatos. E já dá para imaginar um cidadão que chega ao QG do partido.
—- Por favor, eu quero escolher o meu slogan.
—- Pois não. Temos três de resto: “ O pai dos menores abandonados”, “ O gladiador do povo” e “ O deputado cabra-macho”.
O candidato pensaria um pouco.
—- Fico com “ O pai dos menores abandonados”. É mais comovente.
Pensando no assunto, varei a noite com Vulfânia para criar slogans para candidatos. A princípio, pensamos em vendê-los, mas resolvemos oferecê-los gratuitamente, como uma pequena contribuição à democracia.
Vulfânia estava inspiradíssima ( depois de beber 2 litros de vodka, 1 litro de uísque e meio litro de 21 – eu apenas bebi suco de laranja, pois não toco em bebida alcoólica quando estou tratando de coisas sérias). Mas só admito os seus horríveis hábitos etílicos/pinguçosos porque ela é muito competente. Foi ela, por exemplo, que convenceu Parreira a mudar o time que venceu o Japão na Copa deste ano, criando uma nova máxima para o futebol: time que goleia tem que ser mudado. Ela também o convenceu a escalar Cafu e Roberto Carlos no jogo contra a França, com o argumento de que a velhice, preguiça e moleza deles eram mais importantes do que a juventude e a garra de Cicinho e Gilberto Silva.
Ela não me contou, porque é muito modesta, mas eu soube que Geraldo Alckmin brigou para ser o candidato do PSDB depois que ela provou, com gráficos, tabelas, fórmulas e previsões profundamente científicas, que Lula não tinha a menor chance de ser reeleito, porque o povão odeia o bolsa família. E tem mais: depois de conversar demoradamente com ela, Adelson Alves – o nosso guerreiro – botou na cabeça que vai ganhar de Marcelo Déda e João Alves, no primeiro turno.
Mas, voltando aos slogans, de todos que criamos, selecionamos 15, que agora passam a ser de domínio público.
– O pai da honestidade
– Esse não é sanguessuga !
– Pra lutar contra os corruptos
– O deputado dos desvalidos e desmilinguidos
– Honesto até sob tortura
– Comigo não tem mensalão
– O destruidor da corrupção
– Comigo o seu dinheiro(do contribuinte) estará seguro
– O predador de maracutaias
– Agora o povo vai ser feliz
– Para o fim da safadeza no Legislativo
– O guerreiro da moralização
– Doido pra trabalhar pelo povo
– Muito trabalho e suor pelo povo
– O incorruptível
Quem já tem slogan, pode mudar, evitar constrangimentos e conquistar eleitores. Quem ainda não tem, é bom escolher um e registrá-lo depressa. Soube que muitos candidatos estão há vários dias em frente ao computador, esperando as nossas sugestões – certamente Vulfânia deu com a língua nos dentes antes da hora, depois de tomar umas pingas no mercado Albano Franco. Ah, já ia esquecendo. Estão dizendo por aí que a minha impagável assistente garantiu ao deputado Heleno Silva que não havia nenhum risco no negócio de compra superfaturada de ambulâncias.