Sobre a entrevista

Na abertura da entrevista de Floro Calheiros, domingo passado, o Jornal da Cidade diz o seguinte: “não cabe à editoria deste jornal (o JC) julgar se o que está gravado é verdadeiro. Neste caso, avalia-se apenas que é a versão de um dos lados envolvidos neste complexo problema que se transformou o assassinato do deputado Joaldo Barbosa”. É exatamente dentro deste mesmo conceito, que Plenário analisa as denuncias graves expostas por um detento, que teve sua fuga facilitada pela Polícia e resolve revelar, em doses fortes, todo um projeto para elimina-lo e a forma como subornou pessoas para deixar a Primeira Delegacia de Polícia, pela porta da frente, vestido com uma farda da briosa Polícia Militar de Sergipe, que também passa a ser respingada por este lamaçal que se criou em torno de um acusado, que deveria estar em presídio, mas fora colocado em uma delegacia de ponta de esquina. Antes mesmo de acontecer a fuga de Floro e de se comentar sobre os planos para assassina-lo, esta coluna foi taxativa: “Floro está na Primeira Delegacia para fugir ou para morrer”. Aconteceu a primeira hipótese. Neste ambiente de Polícia e bandidos não cabe virgens, nem santos. Com grandes e honrosas exceções, existe até um envolvimento natural entre as duas bandas do crime – a que apura e a que pratica – na busca de informações que cheguem a elucidações. Como também essa convivência, que faz parte da profissão, com a marginalidade, até levar o policial para a criminalidade porque, em alguns episódios, e diante do alto índice de impunidade, o crime compensa. O secretário da Segurança Pública, procurador Luiz Mendonça, é um cidadão que merece todo o respeito, mas, lamentavelmente, deve explicações à sociedade. Não pode calar porque se trata de “palavra de bandido”. A sociedade brasileira está prenhe de indignações e se o Governo fizer uma pesquisa, verá que a forma detalhada, minuciosa e precisa com que Floro Calheiros relatou todos os fatos, deixa a impressão que ele está falando a verdade. Evidente que Floro terá de provar, mas Luiz Mendonça tem que se isentar do campo das apurações, para que o trabalho da Polícia tenha credibilidade. A apuração de uma denuncia que envolve qualquer Secretário de Segurança, feita pela Polícia Civil, é uma piada do mais péssimo gosto. Por que Floro mente e Luiz fala a verdade? Só uma apuração criteriosa passaria tudo isso a limpo e derrubaria a suspeita que contamina a sociedade. Um trecho da entrevista favorece ao secretário Luiz Mendonça: em nenhum momento Floro Calheiros deixou claro que tinha absoluta certeza de que havia um esquema previamente preparado para assassina-lo. Ele disse que suspeitava de que, sendo considerado como pessoa de alta periculosidade pelo secretário, não entendia porque estava começando a ficar desprotegido de policiais na Delegacia. A trama da morte foi contada pela delegada Meire Belfort, no seu depoimento à Polícia Federal. Mas Floro também falou uma verdade absoluta: na conclusão final do relatório, assinado pelo delegado Arquimedes, o seu nome foi isentado de qualquer participação no assassinato de Joaldo Barbosa. Mesmo assim permaneceu preso 56 dias e foi ouvido uma única vez sobre o crime. Também foi verdade que nenhum delegado de outro Estado apareceu para ouvi-lo em processos existentes fora de Sergipe. Mas, com isso, não se pode dizer que Floro Calheiros seja um inocente, mas seu processo está sub-júdice e ele continua acusado da prática dos crimes que lhe foram atribuídos, até que seja condenado pela Justiça. O ex-deputado Nelson Araújo insiste que o grande problema de setores do Ministério Público com Floro Calheiros está na intervenção da Prefeitura de Canindé do São Francisco. Nelson acha que o pessoal foi com muita sede ao pote e não resolveu o problema da cidade. Segundo Nelson, o interventor declarou que havia um rombo de 50 milhões de reais na Administração Municipal, mas em nenhum momento revelou “quem comeu ou como ele desapareceu”. Não seria difícil, através de uma inspeção do Tribunal de Contas e do próprio Ministério Público, descobrir quem ficou com valor tão alto. Será que o rombo não era de 20 milhões de reais? Se a intervenção foi feita para denunciar culpados, esses 50 milhões de reais desapareceram e ninguém foi preso. Só Galindo, assim mesmo acusado de ter mandado matar o radialista Cazuza. Tudo isso são denuncias que ninguém responde e a impunidade se mantém em nome dos homens de bem. Mas, Canindé à parte, um influente membro da Polícia disse ontem que o Ministério Público já deveria ter chamado para si a apuração das denuncias: De acordo com a lei, qualquer indício de crime envolvendo representantes do MP, a instituição tem que instaurar inquérito para apurar. Nem a polícia pode faze-lo. De qualquer forma foi jogada lama no ventilador e a sociedade não pode ficar comendo gato por lebre. Tem que se chegar à realidade dos fatos. ALMOÇO Setores da Polícia estranharam um almoço entre a jornalista Kátia Paim, a delegada Meire Belfort e seu advogado Calumby. Aconteceu semana passada no shopping Jardins. Kátia foi quem conseguiu a entrevista com Floro. Se fosse alguma coisa sigilosa, o almoço não seria tão público. LICO Eliene Silva de Oliveira (a Lico) é uma das pessoas que tinha a chave da cela e cuidava de Floro. Foi ela quem teria passado para ele um colete à prova de balas e uma pistola. Quando depôs pela primeira vez disse que não sabia de nada. No segundo depoimento revelou que Floro dera um agrado à delegada Meire Belfort. NAILTON Nailton da Graça é um cabo da Polícia Militar e também prestou depoimento, dizendo apenas que viu floro de colete a provas de balas e com uma pistola. Com a entrevista publicada ontem pelos jornais, a Polícia quer saber sobre a fuga, os 50 mil reais e a farda utilizada por Floro Calheiros. ARQUIMEDES O delegado Arquimede, relator do inquérito de Joaldo Barbosa, disse que Meire lhe tinha confessado que Floro iria fugir. Ele deveria ter prestado depoimento ontem, mas apresentou atestado médico. Foi adiado para a próxima segunda-feira. DOMICILIAR Os amigos do ex-prefeito Genivaldo Galindo comemoravam, domingo, em Canindé do São Francisco, o seu retorno, na segunda-feira, para casa. Galindo teria sido beneficiado com a prisão domiciliar. O secretário da Justiça, Manoel Cacho, disse ontem, que não havia sido comunicado, oficialmente da decisão judicial. VIAGEM Setores importantes da Polícia Civil ficaram atentas à viagem que o superintendente da Polícia Federal, Kércio Pinto, fez a Brasília durante a semana passada. O pessoal estava imaginando que ele fora tratar de entendimentos para que Floro Calheiros se entregasse, mas fosse preso em outro Estado, embora tenha que ser ouvido em Sergipe. CONVERSA O prefeito de Porto da Folha, Júlio Santana (PMDB), tem agendada conversa com o governador João Alves Filho, hoje ou amanhã, sobre a sucessão municipal em seu município. Vai anunciar que PMDB não vota no nome indicado pelo PFL para a Prefeitura e sugerir que o Governo reaja à organização que o bloco das oposições está fazendo para fechar o sertão. VISANDO 2006 Segundo Júlio Santana, o bloco da oposição, formado por Albano Franco, Marcelo Déda, Jackson Barreto, Jerônimo Reis, senador Valadares e Heleno Silva já se reuniu para escolher candidatos. Está com os nomes de Monte Alegre a Canindé, todos com o compromisso de apoiar a candidatura do prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, ao Governo do Estado, em 2006. ESCOLHIDOS Os nomes dos candidatos destes municípios já teriam sido escolhidos, segundo Júlio Santana: vereador Zico (Glória), comerciante Aragão (Monte Alegre), vereador petista Manuel de Rosinha (Porto da Folha). A vice-prefeita Edileusa (Poço Redondo), frei Enoque, que renunciaria a Prefeitura de Poço Redondo para disputar Canindé do São Francisco. VEREADOR Uma liderança da região, aliada do prefeito de Poço Redondo, Enoque Salvador, disse que a especulação dele tentar a Prefeitura de Canindé do São Francisco é absurda. Confirma que Enoque renunciará à Prefeitura, mas será candidato a vereador de Poço Redondo. Seu objetivo é continuar ajudando ao município. PAULO O candidato à Prefeitura de Canindé do São Francisco, com o apoio do governador João Alves Filho, será o atual prefeito de Paulo Afonso (BA), Paulo de Deus, que já está transferindo o título e renuncia à Prefeitura daquela cidade. Paulo de Deus é sergipano de Brejo Grande, engenheiro da Chesf e foi o homem que transformou Paulo Afonso em um grande município. ALENCAR Na opinião de um fortíssimo empresário sergipano, enfronhado na política, o vice-presidente José Alencar (PL), é um homem que tem conhecimento profundo dos problemas do país. Apesar de industrial, integrante da elite capitalista, vem tendo uma visão mais socialista e democrática do que o presidente Lula e os barbudinhos que formam seu Ministérios. MODERADO O ex-governador Albano Franco, que é amigo próximo de José Alencar, acha que Lula lhe deu a missão de discutir a transposição do rio São Francisco, porque sabe que ele é moderado. Segundo Albano, o José Alencar se articula bem com todos os segmentos e vai resolver essa questão sem problemas. Alencar foi vice-presidente de Albano Franco na CNI. MELHORA O FPM deu uma melhorada em julho e aliviou os município. Mas, segundo o prefeito de Porto da Folha, Júlio Santana, a previsão é de que em agosto haja uma queda de 30%. O prefeito acha que se essa previsão se consolidar, muitas Prefeituras, principalmente do Nordeste, vão fechar. ALMEIDA O senador José Almeida Lima (PDT) já está inscrito para fazer pronunciamento político, hoje, no Congresso Nacional. Ele garante que vai mexer as estruturas, como aconteceu com o anterior. Almeida Lima disse que o conceito dele no Congresso Nacional não é esse que os seus adversários tentam passar em Sergipe. EM AÇÃO O ex-deputado Gilton Garcia (PTN já fez 22 Diretórios do partido em todo o interior. Anunciou, ontem, que fará uma chapa puro sangue para disputar a Câmara Municipal de Aracaju. Garante que o partido vai dar oportunidade igual a todos os candidatos, para evitar que se crie uma elite que tenha de eleger-se. HÁBEAS A Justiça negou o pedido de hábeas corpus para relaxamento da prisão do acusado Junior. Agora seu advogado está pedindo prisão especial ou domiciliar. O advogado está juntando documento de que a Penitenciária não tem prisão especial. Como isso não é problema do acusado, está sugerindo a prisão domiciliar. FRANCISCO O pedido de hábeas corpus, para cassar a preventiva de Antônio Francisco, foi enviado para a Procuradoria Geral de Justiça, quinta-feira passada, para dar parecer. Como a PGJ tem 48 horas para responder, hoje ou amanhã é possível que saia a decisão da Justiça concedendo ou não o hábeas corpus a Antônio Francisco. Notas PETROBRAS O presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, está começando a fazer política em Sergipe, utilizando os programas da empresa. Agora vai financiar projetos culturais em Japaratuba, cidade administrada pelo Partido dos Trabalhadores, cujo prefeito não está em situação eleitoralmente confortável para disputar o próximo pleito. Evidente que o fato da Petrobras patrocinar a cultura é muito importante, mas por que não estender esse projeto para cidades importantes, culturalmente, como Laranjeiras e São Cristóvão, que não são administradas por prefeitos petistas? CUIDADO Todo o cuidado da Petrobras em investir, culturalmente, em Japaratuba é porque o prefeito Gerard Olivier (PT) está mal nas pesquisas e o seu adversário, naquela cidade, é o prefeito de Pirambu, André Moura, que está em ampla vantagem sobre os demais nomes que desejam disputar a Prefeitura daquela cidade. Outra sinalização de que se trata de um ato político é o fato dos royalties pagos pela Petrobras terem caído drasticamente em Pirambu, enquanto os de Japaratuba, na mesma região, terem aumentado consideravelmente, sem que houvesse redução ou aumento de produção. E-MAIL O leito J.Augusto manda e-mail para a coluna dizendo que leu “estampado em um matutino: Polícia prende ladrão de bicicleta. Não é fantástico? Até ladrão de bicicleta a Polícia prende. Esta varrendo a criminalidade. Prende detento e amputa a perna. Prende ladrões de gado no interior, prende ladrões de roupas nos varais e de gás”. E pergunta: “E Antônio Francisco? E o caso Carlos Gato? E a fuga de Floro? E o dinheiro falso? E a tentativa de assassinato de Floro na prisão? Ah! Isso pode ser até importante mas…” Conclui dizendo que “muita gente importante está por trás disso”. É fogo A entrevista de Floro Calheiros, publicada em vários jornais da capital, mexeu com a sociedade. Havia muito detalhe sobre a fuga. Os políticos sergipanos estão querendo detalhes de como será feita a transposição do rio São Francisco, através de uma ligação com o Tocantins. A maior exigência dos sergipanos é que a transposição seja feita depois da recuperação total do rio São Francisco. O deputado estadual Belivaldo Chagas (PSB) diz que vai esperar mais um mês, para ver qual o mostro que vai nascer na administração estadual. O secretário de Justiça, Emanuel Cacho, fará uma palestra na Assembléia Legislativa. Vai dizer aos deputados como está, atualmente, o sistema penitenciário sergipano. O prefeito de Estância. Jovani Bento, é estudante da Uva e mostrou que seu nome constava da lista de inadimplentes daquela Universidade, porque seu salário também estava atrasado. O gesto de Bento foi para mostrar aos servidores que estão em greve, na sua cidade, que ele também não pode pagar o seu próprio salário. Essa história de que Floro Calheiros pagou sua fuga com notas falsas é uma falácia para provocar sensacionalismo na imprensa. Quem recebeu o dinheiro para a fuga não revelaria que a grana era falsa porque confessaria um crime. E Floro também não diria que deu dinheiro falso. Seria outro crime. O aniversário do sub-secretário de Comunicação, Francisco Ferreira, foi muito concorrido por colegas e amigos. Apenas um secretário compareceu: Ivan Paixão, da Administração. O governador João Alves Filho continua firme para tentar mudar a Reforma Tributária, em favor do Nordeste. Áurea Ribeiro (PDT) está trabalhando, em contato direto com os eleitores, para disputar a Prefeitura de Lagarto. Está animada com a receptividade do eleitorado. Dentro destes próximos 30 dias, Áurea vai intensificar o seu nome, para coloca-lo em pesquisa de opinião pública naquela cidade. Por Diógenes Brayner brayner@infonet.com.br

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