Sobre pais e filhos

Encontrava-me no centro da cidade e, a pretexto de trocar dinheiro, para pagar o parquímetro do estacionamento, resolvi comprar um copo de água de coco numa barraquinha que fica na esquina da rua.

 

Ao chegar lá, encontrei um rapaz, – com aparência de 17 anos – vendedor de CD piratas, conversando com o dono da banca de água de coco.

 

O diálogo era sobre filhos e pais, o que, de imediato, me interessou. O dono da barraquinha falava de seu filho e o vendedor de CD falava de seu pai.

 

Enquanto aguardava que ele abrisse o coco e me servisse a água, escutei o seguinte:

 

Dono da banca:

 

– Faço tudo para que meu filho tenha sempre o melhor: converso muito com ele, elogio as suas vitórias, sofro com as suas derrotas, incentivo-o ao estudo, ao esporte e a Deus. Não quero que aconteça com ele o que aconteceu comigo. Não estudei, olha o que estou fazendo… Mas, com ele não. Com ele vai ser muito diferente. Ele vai ser militar. Coronel. Já pensou meu filho um Coronel? Esta será a minha glória. Tenho 36 anos, mas quero viver muito para compartilhar do sucesso do meu filho.

 

O vendedor de CD piratas:

 

– Pois é. Eu gostaria muito de ter um pai assim: que me valorizasse, que se preocupasse com o meu futuro, que me incentivasse, que brigasse menos comigo. Mas, infelizmente, meu pai é um grosso que só sabe beber cachaça e brigar com todo o mundo. Eu faço este trabalho, por não ter conseguido, ainda, outro melhor. Este, embora ruim, pois quase não sobra nada, é de onde consigo ganhar alguma coisa e, do pouco que ganho, tiro uma parte para mim e dou o restante à minha mãe.

 

Intrometi-me na conversa e, dirigindo-me ao vendedor de cocos disse:

 

– Eu estou muito feliz por escutar um pai falar tão bem do filho. Estou tão contente que não posso deixar de parabenizá-lo. Você está fazendo a melhor coisa pela sua família. Incentivar, valorizar, validar as atitudes dos filhos, é obrigação de todos aqueles que se aventuram nesta sagrada missão de gerar e criar pessoas.

 

Ao vendedor de CD piratas disse que ele também estava no caminho certo. Trabalhar não é desonra, mesmo vendendo CD piratas. Errado mesmo é fazer outras coisas, inclusive o que o seu genitor faz. Todavia não se aborreça com ele. Procure contornar as situações, pois ele está demonstrando aquilo que aprendeu. É errado? É. Mas, lastimavelmente foram aqueles os valores que ele conseguiu aprender de seus pais. Portanto, ele, o filho, é quem deveria assumir a situação e, dentro das possibilidades e oportunidades, tentar reverter o quadro; pois você já concluiu que não quer seguir o caminho trilhado pelo seu pai, por óbvias razões. Ele não teve a felicidade de encontrar, no tempo próprio, alguém que o avisasse de que tais estilos são equivocados.

 

Infelizmente, estes avisos não são dados, no tempo certo, e, quase sempre, acontecem estas lamentáveis situações. Quando chega o momento de eles serem úteis, as pessoas, como seu pai, por exemplo, não os têm.

 

Ao contrário do que deveria ser, nossas escolas não ensinam a criar e nem educar. Estou convicto de que, dada a relevância de que se reveste o encargo de formar uma pessoa, deveria ser disciplina obrigatória em todas as nossas escolas. Ou, até mesmo, e talvez muito mais importante que existisse uma escola obrigatória por onde deveriam passar todos aqueles e aquelas que pretendessem assumir o sublime encargo de criar e formar pessoas.

 

Infelizmente, estou também convicto da quimérica ideia que aqui exponho. Mas, pensemos, só por um instante, nas atividades bem mais simples, naturalmente que comparadas com a formação de um ser humano. Existem cursos de longa duração, 4 ou 5 anos, com todos os rigores de que se revestem as graduações ou as licenciaturas. Porém, um curso superior, com disciplinas dirigidas para a família, para a preparação dos que irão ser pais, não existe.

 

Por favor, pare um pouco, pense com isenção, reflita na utilidade, no benefício, no desenvolvimento de uma sociedade mais justa, mais ética, mais honesta e mais rica, que uma preparação cuidadosa neste assunto iria trazer para todos.  Imagine a importância que isto teria para a melhoria da qualidade de vida da nossa sociedade como um todo!

 

Cenas como a que presenciei demonstram claramente, além dos dois lados de uma mesma situação, também a carência e o pouco caso como é encarado por quem de direito: os governos, as autoridades, a sociedade, eu e você. Não tenhamos dúvidas, com um pouco de esforço,    poderíamos minimizar esta tão delicada situação que miseravelmente permeia toda a nossa coletividade em todas as camadas sociais. O resultado deste descaso nos é mostrado diariamente através dos meios de comunicação, dos comportamentos das pessoas, no convívio e relacionamento, repercutindo no rumo que tomam as nossas vidas.

 

Atitudes como a do dono da barraquinha de coco, infelizmente, é uma exceção, quando deveria ser regra. A do vendedor de CD piratas, ao contrário, lamentavelmente, é a regra, quando deveria ser exceção.

 

Auxiliar nas dificuldades, incentivar a responsabilidade, adequar padrões sociais, ensinar o certo, o ético e o honesto, apoiar na resolução dos problemas, validar as boas e desestimular as más atitudes, deveria constituir obrigação dos pais. Mas, como? Se eles mesmos não sabem disso.

 

PENSEM NISSO E DEEM AS SUAS OPINIÕES. SE NECESSÁRIO, TEREI PRAZER EM RESPONDER OU DEBATER SOBRE O ASSUNTO, SEJA NO BLOG, POR E-MAIL  OU ATÉ MESMO PESSOALMENTE, BASTANDO QUE HAJA INTERESSE E COMUNICAÇÃO.

Tenham um bom fim de semana.

 

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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