Terror ao Sul: O Caso Amia (1994)

Msc. Paulo Roberto Alves Teles

Doutorando em História pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – (PPGHC / UFRJ)

pauloteles_aju@hotmail.com

Julho de 1994, a Argentina é surpreendida com mais um ataque contra a sua comunidade judaica (dois anos antes, a Embaixada Israelense em Buenos Aires também sofrera um ataque terrorista), a maior da América Latina. Dessa vez, o ataque ocorrera contra a Associação Mútua Israelita Argentina (AMIA) e fora responsável pela morte de 85 pessoas, além de ter deixado centenas de feridos.

O atentado se configura como o maior ataque terrorista ocorrido na América do Sul e a sua investigação tem sido marcada por uma série de polêmicas que vão desde a suspeita de encobrimentos promovidos por autoridades policiais, juízes e até mesmo o governo Kirchner à morte do Promotor Alberto Nisman encarregado da denúncia contra o governo. Movida por grandes pressões sociais, das quais o ex- cardeal Jorge Mario Bergoglio e atual Papa Francisco I destacou-se com o manifesto “85 vítimas, 85 assinaturas”, a investigação deixou em aberto inúmeras perguntas e principalmente suspeitas. O que teria transformado a Argentina num palco para tamanha atrocidade?

Durante o governo de Carlos Menem (1989-1999), descendente de imigrantes sírios, o qual teria obtido financiamento do governo de Hafez al-Assad (presidente Ditador da Síria) em sua campanha presidencial. As relações diplomáticas entre a Argentina, Síria e Líbia teriam se intensificado, sobretudo, em virtude dos interesses argentinos no projeto de mísseis balísticos Condor II e no desenvolvimento de tecnologia nuclear. Essa parceria geopolítica teria sido possibilitada em virtude da retirada do Iraque de acordos com a Argentina devido à Guerra do Golfo (1990-1991).

Apesar da proximidade entre esses países árabes e a Argentina, o projeto Condor II fracassou, assim como, o projeto de desenvolvimento nuclear entre Argentina e Síria. Uma das razões que poderiam explicar o fracasso, está relacionada às pressões estadunidenses e a implantação da sua hegemonia político-militar no Oriente Médio. Vitoriosos após a Guerra do Golfo (1990-1991), os EUA buscaram isolar países árabes contrários a sua política externa, além de pressionar a Argentina para aderir ao Tratado de Não-proliferação Nuclear realizado o encerramento do conflito no Iraque.
Desse modo, devido a adesão da Argentina ao acordo, as relações entre este país e a Síria se deterioraram, o que motivou o governo sírio retirar a Argentina da lista de países proibidos de ação do Hezbollah, organização terrorista libanesa pró-iraniana e sob proteção militar síria. O estopim da crise entre esses países se deu com a morte de Abbas El Mousawi, secretário geral do Hezbollah, por forças militares americanas. A morte dele pode ser considerado o estopim decisivo para o ataque contra a embaixada israelense em Buenos Aires, o qual teria sido foi co-patrocinado pelo Irã e Síria e executado pelo Hezbollah, com o apoio logístico de mercenários locais de direita e anti-judeus suspeitos de possuírem ligações com as forças de segurança do Estado argentino. Mas esta é apenas uma parte da história, e muito possivelmente, teria sido apenas um ensaio para algo ainda mais bárbaro e violento: o ataque contra a AMIA (Associação Mútua Israelita Argentina) em 1994.

No dia 08 de julho de 1994, dez dias antes do atentado, um cidadão brasileiro (Wilson dos Santos) comunicou ao Consulado da Argentina em Milão  sobre a possibilidade de um novo ataque contra a comunidade judaica em Buenos Aires. Wilson do Santos aparentemente havia mantido relações criminosas com indivíduos provenientes do Oriente Médio na Tríplice Fronteira (região que integra as fronteiras do Brasil, Paraguai e Argentina) e com isso, teria tido acesso a pessoas que o informaram sobre o novo ataque.

A região tem sido alvo de preocupações das autoridades dos três países já a algum tempo. Marcada por uma intensa atividade criminosa, tráfico de drogas e armas, lavagem de dinheiro, entre outras, a Tríplice Fronteira pode ser muito facilmente utilizada como região que forneceria subsídios necessários para o planejamento de um atentado em quaisquer regiões do globo. O caso AMIA ainda está longe de ser esclarecido e após o pedido de prisão preventiva da ex-presidente e atual senadora Cristina Kirchner, acusada de acobertar terroristas, demonstra que ainda há uma longa e obscura história a ser revelada.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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