The Fake Cake

Eu vi um homem tarde da noite levando um bolo de casamento grande, e fake. Ele saia de uma casa de festas e pela roupa parecia trabalhar de garçom para alguma empresa de festas. Não fazemos mais nem bolos de verdade. Estamos vivendo num mundo de Instagram e filtros onde não cabe ser verdadeiro. Em tempos de levante das lutas sociais, até isso às vezes, parece falso, feito pra foto. Fico pensando o que leva uma pessoa a comprar algo que esteticamente é bonito, mas que na real não servirá pra nada? Nem é comestível.

Esses dias me chamaram de medíocre e eu recebi isso como elogio, porque medíocre segundo o dicionário é de qualidade média, comum, mediano, modesto, pequeno. E meu bem, ser chamado de medíocre num mundo onde o nada impera, já é grande coisa. O engraçado é que a pessoa em si achava que inicialmente ia me elogiar, comparando algo que fiz antes ao que estou fazendo hoje, dizendo que já fui melhor. Na verdade queria dizer que eu não estava escrevendo bem, mas a gente sabe que nem sempre escrevemos bem. E não sou obrigado a escrever sempre bem. Isso me fez parar por uns instantes e repensar o que é escrever bem? Pra quem eu escrevo? E voltamos lá pro início onde eu precisava me justificar das coisas, algo que não tenho interesse de repetir.

Nem sempre estou disposto a escrever. Se não for pra escrever algo que acredito, que sirva pra mim, não escrevo! Quem escreve de verdade não o faz para conquistar likes, ser reconhecido na rua, ir pro programa da Fátima Bernardes. Quando isso acontece, ótimo. Se não acontece, ok também. Nunca recebi um real pelos textos que fiz (fora os jornalísticos), e também nunca cobrei de ninguém nenhum centavo. Como capitalizar o que faço? Só condensando num livro, algo que talvez um dia eu faça, mas que hoje não me cobro mais urgência de ser.

Quem escreve o faz para livrar a cabeça de algum pensamento, de algum incômodo, de alguma pessoa amada ou não, por mais medíocre que esta seja, porque a mediocridade é inerente, é pessoal e deve ser respeitada também. Eu mesmo já tive uma época em que queria provar sabedoria. Hoje, sobreviver a esses tempos loucos já me basta, porque vivo lúcido, consciente de quem sou, de quem construo enquanto adulto. Tudo é um processo vivo. É tarefa fácil se perceber constantemente? Claro que não. Vivemos em fuga, não pensando no outro, não pensando na vida, agindo pelo impulso, comprando o iphone novo, barganhando trabalho em troca de roupas e ingressos de shows. E não aponto errados nisso, só posso remar com meu barco e às vezes meu barco quer ir pra longe e eu não tenho forças pra remar um minuto. Então ficamos ancorados e encostados no nada, eu e meu barco.

Evoluímos tanto, e em tantos aspectos, mas como disse uma amiga minha esses tempos: ainda vemos pessoas dormindo nas ruas, crianças dormindo nas ruas. Então não adianta tanta evolução material e intelectual se não conseguimos resolver o básico. Passamos fomes, trabalhamos para sobreviver e pagar 18 reais numa fatia de torta no shopping, porque condicionamos nosso gostar ao que é bom. Então quando lemos algo que não basta pra gente, só precisamos pensar um pouco se vamos enaltecer ou deixar passar. Já comprei cada livro caro que não me acrescentou nada, nem mesmo uma frase de impacto consegui extrair, nem por isso postei falando mal do autor, ou liguei pra editora pra reclamar, porque o problema de comprar e de ler até o fim foi meu, e devo essa satisfação apenas a mim.

Na mediocridade da nossa sociedade, quando temos um lampejo de genialidade, e somos reconhecidos por isso, já se vale um Oscar. Quem quer viver pra sempre no topo do ser brilhante, aparecer super bem com o sorriso de prótese branca, suéter de linho e cara de quem acabou de sair de um SPA uma hora não conseguirá manter isso tudo, porque além de caro, o não ser real enjoa mesmo lá no final da conta. Acostumamos o outro a ter uma imagem nossa que é a ideal, a certa e a coerente. E quando nos mostramos fraco ou sem graça isso choca. Por essas e outras que na maioria dos dias estou com roupas maiores do que meu número, eu prefiro ficar de boa comigo. O elogio mais legal que recebi dia desses foi: “suas roupas parecem tão confortáveis. Tenho inveja de você por se vestir assim”. Eu ouvi isso e compreendi que a pessoa tinha me percebido quase que em minha totalidade. Eu no alto dos meus quase 39 anos sei me vestir de acordo com o meu conforto. E tem coisa mais bonita de sermos quem somos?

Na maioria dos dias ando mais confortável em minha pele. Claro que tem dias que não, e nestes dias, na minha mediocridade, prefiro ficar em casa ou na casa de algum amigo, sendo quem sou: …

E você, como está se sentindo hoje?

Pode me contar pelo Instagram: @jaimenetoo (lá no direct podemos conversar mais).

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais