Sergipe conhece pouco os seus filhos mais ilustres. Tanto aqueles que deixaram a terra berço em busca de oportunidades, construindo em outros Estados as suas biografias, quanto os que aqui permaneceram, no cotidiano do trabalho, mantendo acesa a chama da sergipanidade, conjunto de traços que identificam, em qualquer lugar, quem nasce ou vive no dorso desse pequeno território entre os rios São Francisco e Real, entre o mar oceano e as fraldas das serras da Tabanga, de Itabaiana, da Miaba, do Canine, elevações que mantém à vista e íntegros os limites, que já foram maiores. Há quem procure comparar, por exemplo, a constelação de vultos que Sergipe deu ao Brasil entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX, como a querer identificar igualdades. Cada tempo responde por gerações, sem que se possa cobrar os mesmos destaques. A continuidade existe. Nesta mesma semana três figuras atuais de Sergipe completam anos, permitindo que se faça, em torno deles, uma viagem interessante, que ateste a contribuição de cada um. José Silvério Leite Fontes, no dia 6 de abril completa 80 anos, Francisco Guimarães Rollemberg, no dia 7, 70 anos, e João Gomes Cardoso Barreto, no dia 8, 75 anos. É preciso, de logo, constatar que hoje se vive mais e se vive melhor, na comparação inevitável com o os séculos passados, quando morreram velhos Tobias Barreto, aos 50 anos, e Silvio Romero, aos 63. Ou, ainda, mortos novíssimos, como o poeta José Jorge de Siqueira Filho, colega de Sílvio e de Tobias, irmão da professora Etelvina Amália de Siqueira, que pouco passou dos 20 anos. O exemplo local é a menor, o mesmo do Brasil, que viu morrer Castro Alves aos 24 anos, e assistiu a uma geração inteira se despedir da vida na casa dos 20 anos. Referência viva, com uma memória agigantada pelo interesse de guardar tudo o que tem relação com Sergipe, João Gomes Cardoso Barreto envelhece reconhecido pelo círculo grande de amigos e de admiradores que amealhou ao longo dos anos. É possível, portanto, distinguir dentre muitos homens e mulheres ilustres, figuras que exercem suas vidas vitoriosas, como outros o fizeram no passado.
José Silvério Leite Fontes, nascido em Aracaju, em 1925, aqui estudou até seguir para a Bahia, onde fez o curso jurídico, formando-se na turma de 1946. Tornou-se professor do ensino médio, em vários colégios, e do ensino superior, sendo um dos fundadores da Faculdade de Direito de Sergipe, em 1950 e um dos mais destacados professores do ensino universitário, passando a compor o quadro do magistério da Universidade Federal de Sergipe, a partir de 1968. Advogado, Conselheiro da OAB, notabilizou-se pelas lutas em defesa dos direitos humanos e do Estado democrático. Funcionário federal da Inspetoria Seccional do Ministério da Educação exerceu cargos públicos, colaborou com a administração do governador Arnaldo Rollemberg Garcez. Jornalista, colaborador assíduo da imprensa, especialmente da Gazeta de Sergipe e de A Cruzada. Escritor, com obra afortunada de boas críticas, destacando Razão e Fé em Jackson de Figueiredo. Escreveu outros livros, sobre a formação de Aracaju, a historiografia marxista, o pensamento jurídico sergipano, emprestando visões interpretativas singulares aos seus trabalhos. José Silvério Leite Fontes integra a Academia Sergipana de Letras, sentado na Cadeira nº 5. Acometido de uma doença que vem reduzindo os seus movimentos, enfrenta, resignadamente, como homem de fé, a adversidade e atinge hoje 80 anos. José Silvério Leite Fontes
Francisco Guimarães Rollemberg, natural de Laranjeiras, tem uma biografia de êxitos. Aliou, como poucos, sua profissão de médico, conquistada em 1959 na Faculdade de Medicina da Bahia, com a vocação política, obtendo mandatos seguidos para a Câmara Federal, desde a primeira eleição em 1970, seguindo-se 1974, 1978, 1982, sempre com votações explêndidas de um verdadeiro campeão de votos. Em 1986 elegeu-se Senador da República e em 2002 disputou o Governo do Estado. Com uma atuação parlamentar antenada com a atualidade brasileira, reservou parte de sua energia para oferecer uma contribuição especial a Sergipe, fosse na organização do Perfil Parlamentar de Fausto Cardoso, obra grandiosa e essencial, fosse na defesa dos limites de Sergipe, confiscados pela Bahia e jamais repostos. Homem de sensibilidade artística ingressou na Academia Sergipana de Letras para ocupar a Cadeira nº 15. Enquanto exercia os seus mandatos ligou-se a outras entidades culturais, especializou-se em vários campos da vida brasileira, fez o curso de Direito, e se tornou, pelos seus pronunciamentos, num dos mais completos políticos sergipanos. Aos 70 anos, em plena atividade profissional, curte a maturidade política e cultural, ciente do que representa para o Estado e para o povo sergipano. Francisco Guimarães Rollemberg
João Gomes Cardoso Barreto, nascido em Maruim, viveu grande parte dos seus 75 anos a completar no dia 8 de abril, em Aracaju onde fez de quase tudo, com perfeição. É um homem que a modéstia tem impedido de ser dos grandes sergipanos, pela capacidade de observação, pelo preparo, pelo volume de informação, pela cordialidade no trato e civilidade na convivência. Tem a experiência do servidor público, no melhor sentido, dando à Assembléia o seu talento como Redator de Debates, função que vai além da técnica, para exigir conhecimento das nuances políticas e administrativas do Estado. Foi, por várias oportunidades, Secretário de Estado, na Prefeitura com Cleovansóstenes Pereira de Aguiar, na Administração, no Governo estadual com Djenal Queiroz na Casa Civl, ao lado de Djalmir Queiroz, com João Alves Filho, na principalmente na Educação, repetindo o esforço em prol da escola pública. João Gomes Cardoso Barreto
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários