Um brado de revolta, antes que seja tarde!

O quase centenário prédio onde funcionou o Instituto Parreiras Horta está próximo do tombamento! E vai ser um tombo feio, deprimente, que solapa a nossa dignidade e abala os alicerces da decência e da responsabilidade!  O órgão federal, criado para cuidar do patrimônio histórico e que atende pelo pomposo nome de IPHAN ( com ph de farmácia), pela sua inépcia e letargia, será o único responsável pelo “tombamento” desse monumento arquitetônico de Sergipe e do Brasil, que abrigou o primeiro centro nordestino de produção de insumos básicos para combater a hidrofobia (raiva humana), produzir vacina antivariólica, realizar exames de análises clínicas, bacteriológica e química, além de funcionar como centro de pesquisas médicas. Obra visionária e arrojada, como tantas outras, do então governador  estado Maurício Graccho Cardoso, foi inaugurado em 5 de maio de 1924. O IPH, como é mais conhecido, teve um papel preponderante na saúde pública de Sergipe no Século XX.

Óleo sobre tela do artista plástico Tintiliano.

A Academia Sergipana de Medicina e a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores conseguiram com o Governo de Sergipe, em 2015, na administração do governador Jackson Barreto, a cessão de uso do prédio para a abrigar a sede das duas entidades e para a viabilização do Memorial da Medicina Sergipana, sucedâneo do Museu Médico Dr. Augusto Leite, localizado na sede da SOMESE e atualmente desativado por falta de espaço que abrigue o seu acervo. Vale ressaltar que a área cedida é apenas a do prédio principal, o mais antigo, que estava desativado há anos e não mais acolhia os setores administrativos. Ao longo do tempo, em torno do prédio, foram sendo construídas outras edificações, entre as quais as primeiras salas que abrigaram a recém-fundada faculdade de Medicina de Sergipe, no governo Luiz Garcia. Os laboratórios de saúde pública, hoje sob administração da Fundação Parreiras Horta, funcionam em outras dependências na extensa área que se limita com a Arena Batistão.

Pois bem, desde a entrega simbólica das chaves pelo governo às entidades, em solenidade muito concorrida nas escadarias do prédio, a Academia e a Sobrames não vêm medindo esforços para conseguir a recuperação emergencial do prédio, cuja estrutura física hoje se encontra seriamente danificada. Contrataram projeto ao arquiteto Rui Almeida, mantiveram diversas reuniões produtivas com a SEDURBS (Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Saneamento do Estado de Sergipe), na busca de soluções e finalmente conseguiram recursos federais e estaduais de emendas parlamentares, suficientes para dar início à obra para a recuperação emergencial do prédio.

Infelizmente, até o momento, final de julho de 2021, não conseguimos a liberação do IPHAN, para que a SEDURBS possa licitar a obra. Várias foram as tentativas. As alegações do órgão, para tamanha inércia e desinteresse pela preservação do histórico prédio, são estarrecedoras, desde uma alegada falta de pessoal a problemas operacionais do órgão em função da pandemia. Ficamos de mãos amarradas, na total dependência desse órgão. Alguns acadêmicos de Medicina, notadamente os nossos antigos professores da nossa Faculdade, preocupados com a situação e suas consequências, chegaram a sugerir a devolução do prédio para o Estado. No entanto, medidas drásticas dessa natureza não resolvem o curso da tragédia e deixam para nós uma sensação muito grande de derrota. A utilização desse prédio sempre foi um sonho da classe médica sergipana, para preservação da sua história.

Faço um apelo a todas as instancias, às entidades culturais do Estado, aos parlamentares sergipanos, municipais, estaduais e federais, principalmente para os que destinaram recursos financeiros, membros do Ministério Público estadual e federal e à imprensa sergipana, para que nos ajudem a encontrar uma solução. Nesse momento de indignação e revolta, peço socorro!

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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