Um grande amor

Alimentado de ilusões e sonhos, acheguei-me. De mansinho, como quem não quer nada, com os olhos ajoelhados em direção a uma moça. Pensei em histórias de amor, que começam assim, um rapaz, bem composto rapaz, aproximando-se da moça que será, para todo o sempre ou por um grande tempo, o seu grande amor. Tudo sublimado por um fundo musical: Chopin, Ravel, Litz…

Ela sorriu para mim, eu sorri para ela. Pronto, coloquei-a em um pedestal de nuvens sonhadoras, elaborando uma grande história de amor. Comparei a moça a uma artista de cinema, Giulietta Massino, pequenina, eu não exigia nenhuma mulher-vamp. Eu disse “boa tarde”, ela retribuiu com um “boa tarde, moço”. Não gostei do moço. Dispensável para quem viveria comigo momentos de amor no futuro. Pensei em filmes de Felinni e Bergman, eu era dado a umas complicações amorosas. A moça estava ali, esperando não-sei-o-quê.

Esperava por um grande amor, com um rapaz como eu? Ah! A minha cabeça de sonhador! Foi quando chegou aquele rapaz, troncudo, cabelos na testa e escorridos pelo pescoço, na maior intimidade, abraçou a moça, beijou-a nas faces e depois… nos lábios! Nos lábios que já eram meus! Levou-a pelo braço e ela me disse apenas: “até logo, moço”.

Fiquei parado, mas atônito, sem saber o que fazer, mas ainda na companhia de Chopin, Ravel, Litz, Bergman, Fellini e mais Giulieta Massini. “Até logo”, respondi, à espera da próxima estação de ilusões. Mas antes aspirei e suspirei o ar límpido daquela tarde de verão.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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