Um mês para esquecer

     Por quê não vai embora de vez, abril? Que mal lhe fizemos para que trouxesse tantos dissabores? Por quê essa compulsão em tirar do

Zé Peixe recebe o busto no Cantinho da Arte da Unimed em 2006

nosso convívio pessoas tão queridas e admiráveis? Tudo no seu mês, abril! Vá logo embora, deixe maio chegar, que por certo será mais benevolente.
     Primeiro foi tia Azilda Sobral, que se foi, serena, digna… em vida, exemplo de bondade e doçura. Depois, no dia seguinte, Luiz Antonio Barreto, querido amigo, uma vida inteira dedicada à cultura e à história de Sergipe. O maior historiador de Sergipe, o que sabia mais coisas e dividia tudo que sabia com todos, só não sabia uma coisa: como fazer para não ser explorado (e como foi!). Compartilhei com Luiz muitos cafezinhos e conhecimentos, ele sempre me completando. Se existe alguém insubstituível, esse é Luiz Antonio Barreto.
     Abril também leva Walmir, fotógrafo, cinegrafista, aviador, que registra com suas lentes os principais acontecimentos de Sergipe e o cotidiano da cidade, na segunda metade do século XX. Num gesto de decepção e desespero, ele destrói o seu maravilhoso acervo, por culpa da insensibilidade das autoridades desmemoriadas. Morre triste por não deixar a sua obra perpetuada.
    E o que dizer de Róbson dos Anjos, pioneiro do turismo em Sergipe, comandando as primeiras excursões turísticas através de sua empresa. Não é que abril também resolve levá-lo para outras paragens? Não satisfeito ainda, esse famigerado abril registra o falecimento do engenheiro civil Walmick Bomfim, filho do saudoso professor Lourival Bomfim e irmão do nosso confrade da Academia Sergipana de Medicina Vollmer Bomfim e, insaciado, a do  professor Cândido Pereira, um dos pioneiros no ensino da educação física em nosso estado. Tive o privilégio de ser seu aluno nos primeiros anos da Faculdade. Depois se tornou advogado, sempre amante das artes, um cavalheiro.
     Quando tudo fazia crer que as más notícias de abril parariam por aqui, eis que um novo registro abala a cidade: a morte de José Martins Ribeiro Nunes, ou melhor, de Zé Peixe, 85 anos, homem do mar, herói do povo. Tivemos a oportunidade de homenageá-lo em duas ocasiões, durante a nossa passagem pela diretoria da Unimed. Em 2001 publicamos o livro “Zé Peixe”, com texto de Ilma Fontes e fotografias do saudoso “amarte”  Dinho Duarte, na série "Os Danados". Em 2006, no Cantinho da Arte, presenteamos o nosso “peixe” com um busto em gesso, na cor dourada, em marcante solenidade que foi prestigiada pelo secretário Estadual da Cultura José Carlos Teixeira.
      Por isso peço-lhe, encarecidamente, detestável abril, vá embora logo, deixe maio chegar, trazendo alegrias e a esperança de dias melhores.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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