Mais um Natal se aproxima fazendo o amor e a solidariedade brotarem agitados nos mais gélidos dos corações. É realmente impressionante como o clima natalino parece contagiar a comunidade todo mês de dezembro, tornando-a mais sensível aos problemas dos demais integrantes do planeta, mesmo aqueles que não possuem rostos conhecidos ou definidos. É como se o conceito de irmandade pregado por Cristo atingisse o clímax do ponto de convencimento, fazendo com todos se sintam verdadeiros membros de uma mesma família.
Evidentemente o marketing do bom velhinho Noel, eficiente homem de propaganda de industriais e comerciantes, tem ajudado nesta compulsão coletiva para presentear os parentes e amigos. Da mesma forma ocorre com o aspecto da disponibilidade financeira, pois o dinheiro extra do décimo terceiro salário tem sido um bom elemento a auxiliar a solidariedade física. Colabora ainda o clima de férias, o amontoado de filhos sem a árdua tarefa escolar e as promoções de lazer prometendo acariciar a alma e repousar o corpo.
Mesmo assim, qualquer que seja a motivação, não se pode deixar de reconhecer que o mês de dezembro é mesmo de reflexão, gentileza e ação solidária. Reflexão sobre os conflitos coletivos e individuais havidos no passar dos meses, vários deles encarados como se acontecidos em planetas distantes. Gentileza repentinamente despertada, ávida em compensar a frieza adotada nos dias antecedentes, não raro se buscando recuperar a humanidade perdida. Ação solidária a absolver as infinitas horas em que o “eu” imperou com exclusividade, fazendo com que, mesmo pelo prazo de trinta dias, se eleja o “nós” como o astro-rei da estação.
Dezembro é mês oportuno, sem medo de errar, para aqueles que respiram diariamente a solidariedade, pois têm a chance de conquistar novos adeptos, ampliando, assim, o time dos que lutam por um mundo mais justo e igualitário. É o período próprio para as campanhas destinadas a difundir a certeza de que é possível mudar o mundo, fazendo com que o espírito do mês de dezembro inspire e invada os demais meses, natalizando-se o próprio Natal. É o início da temporada de caça aos solidários, diários ou não, conclamando-os para que participe das campanhas que pipocam em todos os cantos e, de quebra, divulgue as ações existentes ou mesmo façam da simples presença uma forma de estimular aos que se dedicam a ajudar ao próximo.
Eis porque foi com alegria que recebi o convite para a abertura da exposição “Misericórdia”, que acontecerá no dia 19 de dezembro, às dezenove horas, na Galeria Jenner Augusto. A exposição, que permanecerá à disposição do público até o dia 30 de janeiro de 2006, tem como proposta exatamente a reflexão, a gentileza e a solidariedade que brotam no mês de Natal. É um pouco da contribuição da Sociedade Semear, Caixa Econômica Federal, Dal Refeição, PETROBRAS, Ana Denise, Bena Loyola, Bené Santana, Ismael Pereira, Fábio Sampaio, Hortência Barreto, Jacira Moura, Benedito Letrado, Alan Adi, Camilo, Carlos Ruiz, Elias Santos, Marcos Vieira, Rui Andrade, Wille Valenzuela, Adauto Machado, Cláudio Vieira, João Santos, Joel Dantas, Jorge Luiz Barros, Karine Santiago, Marcelo Aragão, Marly Freitas, Melcíades Souza e Walburga Arns, todos unidos para incluir o poder da arte na ampliação do clima natalino, torcendo para que se multiplique nos demais dias do ano. Nada mais apropriado, portanto, do que se somar a este grupo que não se cansa de tornar este mundo mais plural e colorido.
Esta coluna, que tem recebido tantos convites, manifestação de apoio e solidariedade no passar das semanas, não poderia deixar de externar o seu agradecimento público, desejando que todos tenham um Natal realmente exemplar, tão especial que merece ser repetido noutros dias. E que o maior presente recebido seja a felicidade, embrulhada na esperança de que todos sejam dela merecedora, independentemente do tamanho ou dos enfeites da árvore natalina. Afinal, a felicidade é um bem que não se compra nos supermercados ou quitandas da vida, mas tão-somente é adquirida através da ousadia do compartilhamento, o grande gesto natalino.