Uma Copa européia

Não sem razão a Copa, como é carinhosamente chamado o Fifa Word Cup Germany 2006, tem dominado os noticiários, discussões e polêmicas das últimas semanas. O peso de Ronaldo mereceu mais destaque do que a rasteira fuga do infiel capital especulativo dos mercados emergentes, mas preocupado em jogar em um estádio de lucros certos e cartas marcadas.

 

Os bolões de apostas não se sentiram diminuídos ou abalados diante da revelação de que milionários recursos públicos foram desembolsados para pagar a desastrada convocação extraordinária do Congresso Nacional. As pesquisas eleitorais, as coligações partidárias, o relançamento da empacada candidatura Alckmin, a CPI do Fim do Mundo, os sanguessugas e outras vedetes da política nacional também foram jogados para escanteio. A Copa tem sido a grande campeã antecipada das atenções mundiais.

 

E não se atribua ao acaso ou mesmo à mera paixão futebolística este sucesso mundial. A Copa é um bilionário e organizado evento, previamente preparado por profissionais especializados na arte de fazer lucrativa a emoção dos homens. Tudo é planejado, tudo é pensado em termos de lucro. Uma verdadeira equipe de craques e seleções diversificadas.

 

Empresários de clubes e jogadores, indústrias de material esportivo, montadoras, empresas de comunicação, agências de viagem, hotéis, comerciantes, transportadoras, corporações de propaganda e marketing, são alguns destes times escalados. Tão envolventes e competentes que detêm, inclusive, prerrogativa de escalar e vetar jogadores.

 

Era de se esperar, portanto, a atração fatal que exerce a Copa sobre todos nós. Eu, como brasileiro e redundantemente apaixonado por futebol não poderia ficar imune a esta avalanche de informações. Antes mesmo do início da Copa, talvez motivado pelo clima e pela nostalgia dos tempos de criança, dei a minha contribuição diária para esta seleção bilionária.

 

Além de me programar para assistir e bebericar durante os principais jogos, estimulei o meu filho mais novo (Ruan) a colecionar o álbum de figurinhas da Copa. Um álbum com mais de quinhentos espaços para colar figurinhas e com perspectivas de grandes gastos para ser preenchido. Coisas do mundo bilionário da Copa.

 

Aliás, foi exatamente quando colávamos as cobiçadas figurinhas que surgiu o título desta coluna e a observação das cifras envolvidas. Em termos mais precisos, o assunto surgiu diante do comentário de Ruan, após decorar os nomes das seleções, grupos, fardamentos e principais jogadores de cada país em disputa. Ele percebeu que quase todos os craques, especialmente os mais destacados, jogavam em países europeus. Todos eles tinham os seus passes vinculados a algum empresário ou time europeu, poucos jogavam nos continentes em que nasceram.

 

Partindo das informações do colorido álbum, chegamos à seguinte contagem, obviamente excluindo os próprios times europeus. Com a maioria ou todos os  atletas jogando na Europa: Argentina, Brasil, Trindade e Tobago, Costa do Marfim, Gana, Angola, Togo, Tunísia e EUA.  Com cinco ou mais jogadores: Paraguai, Irã, Japão e Coréia. Com atletas apontados como especiais em seus países de origem, em número à cinco: Costa Rica, Equador e México. Somente a Arábia Saudita não forneceu jogadores, salvo futuras contratações pós-Copa.  

 

É evidente, assim, que a conclusão não poderia ser outra, estamos diante da mais européia de todas as copas. Mas não só isso, estamos diante da constatação de que as ex-colônias (asiáticas, americanas ou africanas) continuam exportando os seus talentos para os seus ricos colonizadores. O tempo passou e ainda estamos atraídos, maravilhados e seduzidos pelo mundo europeu de ser. Nós continuamos sonhando e querendo ser conquistado pela metrópole. A Europa continua sendo o paraíso encantado e cobiçado por todos. Independentemente do resultado final, na Copa Européia a rica Europa será a seleção vencedora.

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