Uma Explicação.

O presente artigo surgiu antes de colocarem o cartaz ao lado na Praia Formosa interrompendo o tráfego na Avenida Beira, (31/05/2013?).

O cartaz evidenciava que a pior solução tinha sido dada, só para o aperreamento do cidadão.  Mas, como não era da minha conta, não o publiquei.

Para quê, se minha opinião tem o peso da desvalia? Preferi dar um passeio em Nova York.

Na volta do passeio, a discussão suscitou gracejo e riso. Falou-se até da necessidade de pesquisas paleontológicas naquele sítio.

Perguntei-me então: por acaso desejavam desconstruir o heroísmo de Soarino, Eurípedes e Maynard, os nossos heróis tenentistas?

Mas, com tanta ironia em quantas hidrofobias grassando na rua, achei que não valia a pena publicar este meu opinar apartidário, afinal são tantos os amigos envolvidos neste conflito de irmãos!

Agora, em retorno de outra viagem, desta vez ao velho mundo, a Roma, Florença, Veneza, Lourdes, Reims e Paris, delícias que me proponho compartilhar, vejo que o bom senso ressurgiu e as caçambadas de pedra já evidenciam o início daquela obra de prioridade inadiável.

Montagem de duas fotos do Portal Infonet, uma de Sérgio Silva e a outra de Cássia Santana a quem agradeço.

Vai então publicado agora; mesmo sendo fora de hora, só por desejo que o bom senso impere, e as obras continuem!
 

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Incapaz de resolver os meus problemas

Incapaz de resolver os problemas mais próximos, já incomodando a vizinhança por senil pensar, pretendia alienar-me, enquanto formador de opinião, afinal meu desjuízo tem a independência dos que andam sós, e isto nada vale. O que vale é a opinião porta-voz, aquela que é engajada e cheia de prestígio, a serviço de grupos.

Para estes, quem fala sozinho como eu, se não dá bom dia a cavalo, declama ao mar desafiando o seu marulho.

Já quem fala acompanhado e vem estribado em tantos galgos, exibe o reverbero do próprio eco por barulho.

Daí não mais ter publicado qualquer texto por desbulho.

Decretei-me um recesso, fui passear, fui para bem longe de tudo, e no retorno desejava interessar-me apenas por coisas tolas, sem querer que o mundo atendesse o velho mote; “Fiat veritas, et pereat mundus” (que a verdade floresça, mesmo que o mundo pereça).

Mas, perguntava-me, enquanto audaz leitor e crítico de meus próprios textos por desafio: Qual é a verdade? Aquela de quem aluga o teclado a soldo de própria subsistência, onde a crítica e o elogio são feitos por encomenda, ou as minhas rotas emendas que me satisfazem o existir, embora me tragam menos agrados que reprimendas?

E neste deleitante, mas elegido ócio, em proveito de boas leituras, e na rasura de textos inúteis, fui me revoltando com a inação de tantos pigmeus perante o avanço do mar na Praia Formosa, querendo fazer dali um picadeiro farsesco.

Logo a Praia Formosa, que mudara de nome para eternizar as trincheiras da Revolta Tenentista de 13 de Julho, mobilização armada e única da nossa história, na qual os sergipanos resistiram por romantismo telúrico e excedente idealismo, posando de heróis com o risco da própria vida, por inserção numa insurreição, que não fora tão ampla, país afora, mas que aqui, norteada num ideário modernizador da pátria, resistira bem mais tempo?  Insurreição que se não teve a formosa praia como cenário de tragédia, rebatizou as suas areias em ousadia?

Ousadia que nos vem faltando há tempos, já há alguns anos e meses, e não por agora, em que vem vigendo renovável apatia, por culposa indiferença e ominosa ofensa, de tantos gestores públicos, cultuando o nada prover, e agora em notas e contra-notas, escorando-se no melhor caos, na necessária desordem funcional, e nas entrópicas filigranas jurígenas, para que o descomedimento desbrio das providências reais continue; algo que no meu entender (equivocado, mas meu) permeia uma passividade de lesa-polis, lesa-urbe, lesa-pátria e até lesa-bom senso, diante do mar avançando na praia, reclamando providências e urgências?

E bote lesa nisso; de lesa-seriedade a lesa-sociedade, de lesa-urbe a lesa-polis e de lesa-nação a lesa-pátria.

Ou a inação perante o caos não é um ataque solerte que a todos atinge? Sem falar que a erosão não contida conjuga a lesa-estética com a lesa-poesia, a lesa-formosura e até a lesa-literatura, porque só um espírito pouco esteta pode imaginar ação em bom proveito assim, em feitos de lesa-felicidade, ao ver o mar invadindo a orla, e o homem bestificado e acovardado cavoucando uma lesa-ciência por arrimo de sua lesa-razão, com cada um se arrimando na sua irracional legislação, como se fora um mero jogo opinativo, em busca do pior desfecho legal.

Quando se sabe que o desfecho legal é o pior recurso a recorrer por litígios e demandas, sobretudo no Brasil, onde a meta nunca é a solução, mas a dissolução, por procrastinação jurisprudencial!

Diante de tantos atores em falas pouco eloquentes, não é lamentável que o cenário histórico da Praia Formosa esteja virando tablado de picardia, palco de uma pantomima tão sem graça e sem brio, que só uma excessiva bufonaria de homens menores não vê acontecer?

E por ver tudo assim, eis-me traído por minha natureza, revoltando-me com minha ambiência e o meu silêncio alienante, a suscitar os meus instintos mais íntimos e pessoais, arriscando-me inclusive a ser mal entendido por alguém que por certo se sentirá ofendido nos seus brios, por este meu pensar dissonante. Alguém, que veja a opinião destoante como um insulto a merecer tamancadas.

Tamancadas de tamancar, hoje em desuso, tanto o verbo, quanto o tamanco e a velha tamancada agora proibida, mas que cantava solto no meu tempo de criança, enquanto o verbo tamancar dizia figurativamente daquelas pessoas indecisas, que vão e voltam tamancando numa sala, fazendo barulho em passadas inúteis.

Quem sabe não vale a pena denunciar tanta mancada, por tamancada?

E eu, que me prometera perseguir a indiferença por alienação escolhida e arriscando a levar tamancada não consigo falsear a minha natureza cartesiana, ao contemplar o mar avançando na Praia Formosa, naquele estuário lodoso onde vem se banhando tantos homens zelosos, entre tantos criminosos, ominosos, gozosos e vaidosos, uns aplaudindo a inação, outros em gozos de gangorra e em modorra da pior engenharia, do quanto pior melhor, invocando o deixe estar pra ver como é que fica a zorra própria da erosão anunciada.

Em nome de que? Em nome de insondáveis mistificações e profecias daninhas?

Em razão de ultimatos demiurgos, mais horríveis que a undécima praga de Moisés, não conferida ainda pela modernice acadêmica, arrimo das terríveis e incontornáveis denúncias dos prejudiciais crimes ambientais em perspectiva?

Só porque é fácil e cômodo persistir na saborra e na pachorra, semeando a dúvida com ameaças, medos, danações e sustos pessimistas, requerendo não só a profilaxia do erro em estudos de longo prazo, mas as elucubrações e simulações matemáticas, a se perderem de vista no horizonte e na esperança desta vida?

Ensaios que, no entender de tantos, precisam se perder no tempo, no espaço e até no sonho, para que não faltem recursos públicos na inspiração goré, que risca de lado e nunca segue em frente, na imitação baiacu que incha a pança resfolegando afago, na necessária e perdulária coçação sacal, ou outra que lhe seja mais gostosa, duradoura e custosa, seja para a mercancia de facilidades e dificuldades, seja por nova e exótica ideologia; mistura ambiental bem sustentável de sujeira, frieira e sovaqueira em inspiração e perfume, sem falar da eficiência do bicho preguiça e sua melhor serventia para toda burocracia?

E nesta dislexia horrorosa, por dolorosa e excessivamente cautelosa, a ociosidade sempre resistirá cavilosa e calamitosa com o mar sem arrefecer nem amainar, e sem requerer os laudos inúteis, sobre o seu vagar.

Sem falar também que tudo isso vem da antinomia antiga, por prisca luta renovada entre o cirurgião que lanceta a pústula, o pajé que a pomadeia, e o outro que tudo obsta resiliente, em deliciosas discussões pueris, arrimando-se na quimérica sustentabilidade, esta moderna heresia que prega o nada fazer por melhor atuação de seus jazigos.

Se fosse possível, estas Cassandras e oráculos bem pregariam o dano obtuso e as eternas condenações medusas para que fossem mantidos até os seios de Angelina Jolie, como melhor profilaxia contra todo trauma das terríveis catástrofes, afinal tais cataclismos não sendo mais de produção divina, continuam sibilinos, cretinos e ferinos, por seguirem menos ao talante da natureza que à natureza de seu sacerdote corifeu, por estulta especulação.

Ah, o homem! O homem não muda! Mata todos os deuses, mas sempre se escraviza em novos cultos. E ainda se crê maior na presente modernidade, entronizando a ciência e denegrindo a velha fé; aquela que disserta a vaidade campeando debaixo do sol.

E assim, eis o velho debate antropocêntrico do homem frente à natureza, como se ela, a natureza, fosse acessível a todas as espécies, e Darwin pudesse perjurar as palavras para fazer o tigre ingerir repolho, a zebra desvestir o pijama, e o homem, pobre humano, pudesse passar a roer cascalho, mastigar silício e degustar gafanhoto, por suculenta proteína.

Porque tudo é uma questão de laudo, até por recomendação da FAO, o órgão da ONU que assim preceitua o combate à fome.

Assim eis uma nova polêmica exposta com premissa de laudos contra, e outros a favor, entre tantos crimes, tudo combinado ao sabor das intenções, como se fora a velha luta de morte com múltiplas ofensas entre o universo de Ptolomeu, o de Kepler e o de Copérnico, em trevas eras; e o debate inconcluso entre a luz corpuscular e aquela ondulatória, colocando Isaac Newton em trincheira oposta a Robert Hooke e Christian Huygens, com seus sucessores se agredindo por séculos. E sem respeitar ainda a constatação de um deles: Albert Einstein; para quem uma tese científica não vence a outra, por absoluto convencimento integral dos homens, mas, sobremodo, pela ausência dos defensores da corrente vencida.

Ou seja, o laudo é sempre uma opinião, e o acerto de ontem pode ser o erro de amanhã, mesmo que sejam extintos os seus defensores, nas fogueiras e pogrons.

E assim inspirado nesta fugacidade tomada por alicerce sustentável, eu me volto para este crime anunciado da Praia Formosa sendo invadida pelas águas do bravio oceano, à espera de um laudo, uma longa simulação matemática que saneie todos os gozos.

Porque é o gozo que não acaba mais, sobretudo a grande gozação de nossos crimes ecológicos do passado, aterrando o mangue que iniciava no fundo da Igreja São José, delito terrível que permitiu o Bairro Salgado Filho, com a Rua Laura Fontes e a Praça da Imprensa em particular, pois ali era um alagado miasmático quando fui morar, sendo feliz por quarenta anos, só porque ajudei a sanear aquela região, ousando vencer o lodo que, para muitos, deveria permanecer imutável, intocável, inalterável, só para o viço das muriçocas.

Enfim, por laudos e contra laudos, que não sejam também judicializados (palavrinha terrível!) nem os seios de Angelina Jolie amparada por foros aléns e para o seu próprio bem, nem os das nossas mulheres, por florais de nossos aquéns!

Porque no nosso aquém, quem garante que um parecer conservacionista não poderia judicializar tudo, inclusive a mastectomia de Angelina Jolie, se alguém lhe denunciasse a inexistência de um quisto, ou suspeitasse do seu laudo médico por exorbitância capitalista?

Porque pelo que se sabe neste mister, cálculos misteriosos já cubaram devidamente o gelo glacial, e o aquecimento global por degelo de enxurrada já começou a afundar Aracaju e, logo, logo, vai ser um salve-se quem puder.

E se não fosse a incerteza pericial em seu sorriso sem fim, só faltaria o toque de trombeta e o trinado do clarim para começarmos o desembesto de uma corrida morro acima, se possível até a Serra de Itabaiana.

Enfim, há sempre um laudo e um conselho sinistro para justificar até o injustificável, com direito a muitas reuniões e audiências, onde todos possam exibir o seu arrazoado e terminem satisfeitíssimos com o impasse mantido.

Quando, porém, tudo isso passar e alguém ousar ferir este górdio nó, valerá repetir a palavra atribuída a Napoleão Bonaparte, que bem se encaixa nas lutas inúteis: “História é a versão dos eventos passados sobre os quais as pessoas decidiram concordar”.

E se o mar invadir a Praia Formosa, o povo bem saberá dar o seu verdadeiro laudo.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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