Lisboa, 19 de agosto de 2205
Caros amigos de Sergipe:
E o Lula, hein? Soube que com toda essa crise em seu governo, ele está pensando em decretar mais uma medida populista visando neutralizar a enxurrada de denúncias que surge a cada dia sobre o seu governo. Sua idéia é eliminar todas as carteiras de identidade, motorista, reservista, eleitor, registros de CPF, Pis Pasep, trocando tudo por um único registro geral, o tal “Cartão Único”.
Acho a idéia muito boa e bastante corajosa. Só tenho receios quanto à sigla escolhida pelo novo Duda Mendonça do Planalto, afinal convenhamos, ‘CU’ não obstante ser de fato a sílaba resultante das iniciais de Cartão Único, pode dar margem a muitas gozações desnecessárias.
Uma opção poderia ser, por exemplo, a sigla CAÔ que usa as duas primeiras letras de Cartão e a última de Único e lembra uma gíria já bastante conhecida dos brasileiros. Outra opção seria CARTUN, cuja grafia tem o charme de remeter às tradicionais tiras de humor da imprensa escrita. Ou ainda poderia ser CATICO, que não lembra exatamente nada, mas, convenhamos, é bem melhor do que a sílaba escolhida. Aliás, qualquer coisa é melhor do que a sigla CU.
Ou os senhores acham que o brasileiro vai mostrar facilmente o tal ‘CU’, toda vez que um guarda de trânsito vier com aquela conversinha mole de “os documentos, por favor?”.
De maneira nenhuma. Neguinho vai guardar o CU na carteira com medo de ser pego em flagrante, exibindo-se para os milicos.
Agora uma coisa não se pode negar: a medida facilitaria e muito, a vida dos cidadãos.
Na hora de fazer uma compra a crédito, por exemplo, ninguém precisaria mais mostrar aquele monte de cartões e comprovantes disso e daquilo. Bastaria dar o ‘CU’ ao balconista, que rapidamente a operação seria concluída com sucesso. É ou não ‚ uma grande vantagem?
Não existe nada mais desagradável que o excesso de burocracia das instituições da terra de Hebe Camargo e nesse sentido o tal cartão é um avanço.
Doravante, se o caro amigo desejar, pode passar seu ‘CU’ num sensor de leitura magnética e fazer débitos em conta sem que isso lhe traga o menor incômodo físico.
Outra vantagem: se o ladrão lhe roubar a carteira, a trabalheira será menor. Quanto ao dinheiro roubado, nada se pode fazer evidentemente, mas com relação aos novos documentos, folgue em saber, basta apenas o amigo tirar uma segunda via do seu próprio ‘CU’, não é uma beleza?
De cá fico torcendo para que o brasileiro tenha logo o número do seu ‘CU’ devidamente regulamentado pelo Governo Federal, passando a gozar de mais essa vantagem: um ‘CU’ novinho em folha, pessoal e intransferível (sobre isso o Grupo Gay da Bahia já anda questionando) e com a assinatura de próprio punho do insigne presidente da República na parte de trás. Vai ser uma beleza!
Até semana que vem.
Um abraço do
Apolônio Lisboa