Vamos parar com o mimimi!

Quem nunca foi chamada de mimizenta não está militando direito! Pois é, o tal do mimimi virou sinônimo de frescura, de reclamação sem fundamento e drama. Para quem acusa, o mimimi é uma fala exagerada sobre uma situação dolorosa vivenciada…pelo outro. É muito cômodo e fácil julgar a realidade do outro através de si. Podem perceber que a maioria das pessoas que usa o termo é justamente a que não faz parte das pessoas que sofrem por isso. Ou seja, racismo é mimimi na boca de quem nunca sofreu racismo; homofobia é mimimi na boca de quem é heterossexual; machismo é mimimi na boca de quem nunca sofreu violência, estupro, ou não é subjugado diariamente por ser mulher, e por aí vai.

Outro argumento de quem adora acusar as pessoas de mimizentas é: na minha época, a gente era chamado disso e daquilo e ninguém se incomodava. Ou, eu apanhei dos meus pais e sou ótima pessoa. Imagina alguém que achava normal ser ofendido e ofender como expressão de amizade e afeto, sobretudo no meio masculino, em que demonstrar afeto é coisa de gente frouxa. Essa pessoa cresce achando normal que a tratem de maneira inferior, aceitando ser rebaixada em vários níveis, e um comportamento comum de gente assim é justamente o egoísmo, a falta de empatia, e a vida fora da realidade. São pessoas que geralmente têm muita insegurança e negação da vida, acreditam piamente que ofender é algo normal, ao ponto de se submeterem a relações afetivas ruins, ou até mesmo problemas de relacionamento social, tornando-se muitas vezes uma pessoa inconveniente por suas “brincadeiras” inadequadas e grosserias.

O segundo exemplo das pessoas que normalizam a violência como algo positivo é ainda pior, porque são pessoas que tendem a reproduzir um comportamento agressivo e violento em qualquer ambiente, e justificar esse comportamento como “criação” ou até mesmo como positivo, além de serem pessoas altamente defensivas e com excesso de sensibilidade justamente porque não receberam educação de maneira não punitiva e violenta, ou seja, sempre vão responder na defensiva a qualquer pessoa que discorde dela. Essas pessoas têm muita dificuldade em assumir quem são, e acreditam que o mundo erra, menos ela, ou seja, uma geração que prefere estar numa bolha ou num cabresto a enfrentar a dor e a delícia de ser o que é.

Não estou aqui querendo ser a juíza do normativo, longe de mim exercer um papel desses, até porque ao longo da minha vida eu sigo errando, aprendendo e buscando não cometer os mesmos erros. E é por isso que afirmo que chamar o outro de mimizento não acrescenta. Se alguém se sentir ofendido com algo que você disse ou fez, ouça, peça desculpas e não repita mais, mesmo que você não concorde ou ache exagero, porque algum dia, você sentirá dor e não vai gostar que menosprezem ou julguem a forma como você se sentiu, além disso, o mundo não gira em torno de nós, ou seja, aprenda.  Exemplo bom que ilustra essa situação da dor do outro eu vi esta semana no Instagram. Era uma frase que dizia assim: Se você pisa no pé de alguém e a pessoa fala que doeu, você pede desculpas e não pisa novamente. Esse exemplo ilustra bem o tipo de situação. Não nascemos prontos, descontruídos, detentores do conhecimento sobre todas as causas, mas podemos aprender a respeitar, mesmo sem concordar, sem corroborar das mesmas ideias, e a entender que dor não se ranqueia, o que me toca pode não ser o mesmo que toca em você, e tudo bem, desde que saibamos respeitar isso.

Não devemos exercer papel de juízes de causas que não são nossas e que não nos tocam na mesma proporção, mas podemos ser aprendizes e seres pensantes que se questionam e se mobilizam por um mundo melhor, com respeito à diversidade, com a normalização do afeto, sem apelar para violência, para a ofensa como entretenimento. Isso nós podemos e devemos fazer. Além disso, é necessário lembrar que temos problemas estruturais no Brasil, a exemplo do racismo, ou seja, muita gente usa expressões de cunho racista de maneira depreciativa, ofensiva e alega que não tenha má intenção, e eu acredito que muitas vezes não há má intenção mesmo, porque é uma questão estrutural. Mas, para questões estruturais, o Google esta aí, as pessoas que são ofendidas não têm obrigação em ensinar e explicar o porquê de terem se sentido assim, procurem aprender também. Dor não se justifica, se pede desculpas. Se questionem se a vida de vocês não seria mais leve e feliz sem machucar o outro, com respeito, afeto e aprendendo com as diferentes possibilidades do ser.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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