É impossível pensar em História sem destacar o relevante papel da imprensa, até porque a liberdade de expressão se constitui um dos mais importantes patrimônios da humanidade. Sem a liberdade de expressão não se pode ouvir o grito dos oprimidos, a voz da Justiça ou o clamor das ruas. Sem uma imprensa ativa e corajosa jamais serão abalados ou destruídos os alicerceis do autoritarismo, da corrupção, da impunidade e da exploração.
Quem poderia imaginar a Revolução Francesa sem os artigos incendiários e rebeldes do jornalista revolucionário Marat? Como não reconhecer a resistência cívica implementada pela Associação Brasileira de Imprensa, baluarte na luta contra a ditadura militar e na defesa do Estado Democrático de Direito? Será possível esquecer que a voz do jornalista Barbosa Lima Sobrinho, subscritor do impeachment que fez cair Fernando Collor de Melo, ecoava forte nos vários rincões do país?
Eis porque os déspotas, os gananciosos e os amantes da coisa alheia têm tanto pavor da imprensa, especialmente do jornalismo investigativo. Eis porque a censura, os assassinatos, os atos de vandalismo, as apreensões de edições e as perseguições políticas sempre foram instrumentos utilizados para coibir as ações dos jornalistas. Eis porque os donos do poder também gostam de se arvorar em donos da imprensa, ainda que pela via indireta do controle dirigido das propagandas públicas.
No Brasil, esta relação de poder fora bem observada pela socióloga Alzira Alves de Abreu, especialmente quando lembra que até os anos 60 os jornais eram abertamente vinculados aos movimentos partidários. O Globo, por exemplo, era o jornal que defendia idéias e posições liberais da UDN, enquanto a Última Hora era partidária das posições do PTB. Era o tempo que os jornais gravitavam em torno dos partidos políticos, da personalidade do dono ou do chefe da redação. Era o tempo em que os jornais não se preocupavam com a imparcialidade na análise dos fatos, ainda que se possa dizer que exerciam seus respectivos e sagrados direito de opinião.
Embora tal fenômeno ainda ocorra em muitos jornais brasileiros, não se pode negar que os jornalistas modernos ganharam roupas mais profissionais e imparciais, tornando-os mais comprometidos com a verdade da notícia e a corajosa investigação dos fatos. É bem verdade que alguns jornalistas fizeram a opção pelo denuncismo rasteiro, onde a denúncia e os escândalos são utilizados para vender jornais ou fazer subir a audiência da televisão e do rádio. Também é verdade que vários jornalistas estão apenas comprometidos com os seus próprios umbigos, buscando apenas colher dividendos financeiros e políticos quando praticam este tipo de denuncismo barato.
Mas não se pode negar que os jornalistas são, em sua imensa maioria, parceiros imprescindíveis das lutas sociais e cidadãs. Não se pode negar que o bom e respeitado jornalismo de resistência democrática da época da ditadura, mantendo a coerência profissional, agora atende pelo nome de jornalismo investigativo. Não se pode negar que os jornalistas que outrora ousavam denunciar o arbítrio e a tortura, sendo partícipes nas lutas pela Anistia Geral e Irrestrita, pelas Diretas Já e pela convocação da Assembléia Nacional Constituinte, agora estão compromissados com a transparência nas decisões políticas, denunciando a corrupção, postulado o fim da impunidade e combatendo o abuso do poder político e econômico.
E a sociedade bem sabe disso, tanto é assim que a recente pesquisa encomendada pela OAB, realizada pela empresa Toledo & Associados, apontou a imprensa como uma das instituições mais confiáveis do Brasil. Os brasileiros sabem, efetivamente, que os jornalistas são fundamentais na defesa de um Brasil justo e democrático. Os brasileiros admiram sua imprensa, assim como todos os profissionais, jornalistas ou não, que a torna viva, engajada e parceira.
Os sergipanos também sabem que estes profissionais são aliados na construção de um Sergipe transparente, onde não tenha espaço para fugas consentidas ou laranjais de corrupção. Os sergipanos, mesmo desejando que a sua imprensa seja cada vez mais investigativa, transparente e independente, são gratos aos profissionais da comunicação. E eu, como assumido sergipano-propriaense, não posso deixar de elogiar o CINFORM, especialmente quando completa 21 anos de existência, por ter escrito e integrado páginas importantes na História da Imprensa Brasileira.
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(*) Cezar Brito é advogado, conselheiro Federal da OAB e presidente da Sociedade Semear.
cezarbritto@infonet.com.br