Cabrita: famílias desalojadas lutam para ficar no local
D. Carmosa exibe o caju produzido no local e lamenta a destruição das casas (Fotos: Portal Infonet) |
“Foi o que ficou para a minha família, os frutos do que produzimos aqui por mais de 20 anos. Eu me criei nessas terras sabendo que são do Governo e que para continuar, tinha que produzir. Aqui nasceram meus 12 filhos e 28 netos, aqui consegui fazer minha casa e de mais duas filhas, para ver as três virarem pó. Só Deus sabe o quanto eu sofri para vender a produção, juntar R$ 5 mil e fazer um chiqueiro, para em poucos minutos ver tudo indo abaixo”.
Foi o que afirmou em lágrimas, dona Carmosa da Costa na manhã desta segunda-feira, 17. O dono do terreno, o ex-deputado federal por Sergipe, Bosco Teles garante ter toda a documentação comprovando a propriedade da área.
Ela, o marido, filhos e netos são parte das mais de 200 famílias que residiam no Povoado Cabrita, no município de São Cristóvão e viram sem nada poder fazer, as casas irem abaixo.
Famílias aguardam solução no local |
“Graças a Deus eles não mexeram nas minhas plantações como fizeram nas outras casas. Meus porcos, galinhas e até mesmo um cavalinho que a gente usava para comprar ração, estão espalhados por ai. E nós estamos aqui no meio do tempo sem ter para onde ir”, completa d. Carmosa.
“Eu estou aqui há 23 anos e oito meses. Aqui todo mundo produz e estamos disposto a continuar no local. Já perdemos nossas casas construídas com muito suor, por isso vamos resistir sem agressão, tudo na paz como foi na sexta-feira. A gente foi várias vezes no cartório de São Cristóvão e não rezava nenhum documento de que as terras tem dono e agora aparece Bosco Teles, que sempre disse que a parte dele era só a perto da pista. O que mais entristece é colocarem a polícia toda aqui como se a gente fosse bandido. A gente é trabalhador”, destaca Lucivaldo Ferreira Santos, 55.
Júlio Francisco: "Meu pai cuidou desse terreno no Governo de Leandro Maciel" |
De acordo com o senhor Júlio Francisco Santos, 70, desde o início que todos sabem que o terreno é do Estado.
“Nasci e me criei aqui nessas terras. Meu pai era funcionário do Estado e vivia por aqui fazendo medições, quando no Governo Leandro Maciel lhe pediram para que cuidasse do local. Foi quando as pessoas foram chegando, plantando e construindo. Depois Seu Bosco Teles apareceu e nos ajudou com estacas e arames, mas nunca disse que era dele. É muita tristeza ver acabarem com tudo que fizemos”, enfatiza.
Documentos
Em entrevista ao Portal Infonet na manhã desta segunda-feira, Bosco Teles garantiu ter toda a documentação comprovando ser o verdadeiro dono e ressaltando que as famílias não invadiram o terreno, compraram a uma pessoa que disse ser proprietária das terras localizadas no Povoado Cabrita.
Lucivaldo Ferreira: "Vamos resisitir sem agressão"
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Indagado se já vinha lutando há muito tempo pela reintegração de posse, Bosco Teles foi enfático: “Sim, desde quando começaram a ser erguidas as primeiras construções. Estava aguardando a decisão judicial que só saiu agora, inclusive antes da decisão, o juiz solicitou ao Ministério Público que enviasse um representante ao local para averiguar se a área em questão é a mesma relatada nas escrituras e o Ministério Público comprovou”, explica.
“Eu tenho as escrituras e toda a documentação comprovando que sou o dono daquelas terras há cerca de 40 anos. Aquelas famílias não invadiram, elas compraram por meio de recibos de compra e venda com a promessa de usucapião. Infelizmente foram enganadas”, afirma acrescentando nunca ter disponibilizado estacas e arames para a demarcação da área.
No final da tarde desta segunda-feira, está agendada uma reunião entre as famílias e alguns deputados, a exemplo de João Daniel e Ana Lúcia Vieira, ambos do Partido dos Trabalhadores, na busca de soluções.
Por Aldaci de Souza