Catadores sobrevivem de lixão em Itabaiana

Pedro fiscaliza lixão, mas é catador(Foto:Portal Infonet
A existência dos lixões, associada à pobreza da população, faz com que muitas pessoas atingidas pelo desemprego transformem-se em catadores de lixo, de onde retiram diariamente a sua sobrevivência. No interior sergipano não é diferente, pois no lixão de Itabaiana cerca de 20 famílias estão sobrevivendo do que catam.

“Muita gente vem aqui catar material para vender, mas também tiram daqui o próprio alimento, porque tem caminhão que descarrega o lixo do mercadinho”, relata o fiscal da lixeira, Pedro dos Santos, que também é catador de lixo.

O fiscal também revela que a renda de alguns catadores chega a quase um salário mínimo. “Por aqui, muitas famílias ganham o sustento da casa vendendo o que consegue catar no lixão, às vezes pode até chegar a um salário, mas tem que catar muito”, afirma.

Catadores recolhem papel, plásticos e garrafas(Foto:Portal Infonet)
O Portal Infonet percorreu a região do lixão de Itabaiana e constatou a situação degradante em que sobrevivem muitos catadores. Eles trabalham recolhendo as sobras do que a população consome.

São cerca de 40 toneladas de resíduos gerados todos os dias nas residências de cidades e que são despejados no lixão a céu aberto. “Basta chegar os caminhões que o lixo é logo revirado por catadores na busca das melhores coisas”, relata Pedro, ressaltando que muitas famílias moram em barracas próximas ao lixão para facilitar o trabalho.

Segundo Adenilto de Jesus, contratado por uma empresa para separar o material que será recolhido para reciclagem, não existe nenhum tipo de fiscalização e as empresas de reciclagem exploram a mão de obra. “Eles me pagam para trabalhar umas quatro horas por dia, só para separar o que os outros cataram e colocar nos caminhões que vem buscar, mas se eu não catar também, passo fome”, explica.

Adenilton diz que trabalha 4 horas para uma empresa de reciclagem (Foto:Portal Infonet)
Adenilton, que não quis revelar o nome das empresas de reciclagem que compram material direto com os catadores, informou que diariamente cerca de 20 caminhões saem carregados de material reciclável. “Tem umas empresas certas que vem comprar plástico, papelão e garrafas, mas a maioria aqui trabalha por conta própria, vende para qualquer uma delas”, conta Adenilton.

Os catadores manuseiam todo o lixão sem qualquer tipo de proteção, sejam luvas, máscaras ou vestimentas apropriadas, ficando sujeitos a todo tipo de doenças. Além disso, há também os problemas ambientais que a decomposição de resíduos causa ao meio ambiente e à população.

Edileusa da Silva, 38 anos, que é catadora desde os 18, diz que no final do dia sente fortes dores no peito e dificuldade respiratória. “Eu imagino que esse monte de lixo deve me fazer algum mal, até porque já sinto umas dores no peito e falta de ar, mas esse é o único trabalho que tenho, se não tiver aqui para catar, passo fome mesmo”, revela Edileusa.

Catadora Edileusa trabalha há 18 anos no lixão (Foto:Portal Infonet)
A catadora ainda revelou que o mau cheiro e a presença de animais, como urubus, não incomodam os trabalhadores. “Nós já estamos tão acostumados com esse cheiro que já não acho tão ruim assim e os urubus não atrapalham em nada, acho até que eles já estão acostumados com a gente também, os bichos já são da família”, brinca a catadora.

Quem também revela estar acostumada com o ambiente de trabalho é a filha de Edileusa, a jovem Cristiane da Silva, 20 anos, que trabalha revirando o lixo desde quando era criança. “Eu vinha ajudar a minha mãe com oito anos de idade, pois a gente passava muita necessidade, e hoje tenho minha casa, mas continuo catando lixo”, explica Cristiane.

Pessoas e aves se misturam em meio ao lixo (Foto:Portal Infonet)
A jovem ainda diz que quase não frequentou a escola. “Não tive tempo de ir para escola porque tinha que catar lixo com minha mãe, então essa foi a única coisa que aprendi a fazer”, ressalta.

MP

Atendendo aos pedidos constantes de Ação Civil Pública (ACP) ajuizada pela Promotoria de Justiça de Itabaiana, o Poder Judiciário de Sergipe determinou o fim do lixão de Itabaiana em dezembro de 2009.

Na ocasião, o município de Itabaiana deveria apresentar, no prazo de 180 dias, um projeto de implantação de aterro sanitário à Administração Estadual do Meio Ambiente (ADEMA), juntamente com o pedido de licenciamento ambiental para sua localização, implantação e operação. Outra exigência foi a elaboração de um projeto de recuperação ambiental da área degradada pelo depósito irregular de resíduos.

Adema

Catadores vendem material para empresas de reciclagem (Foto:Portal Infonet)
De acordo com o secretário do meio ambiente, Genival Nunes, a Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema), não recebeu nenhum projeto por parte do município. “Até o momento a Adema não recebeu nenhum estudo novo que permitisse a construção de um aterro na região”, salienta Genival.

O secretário também pontua que o Estado possui uma política estadual de resíduos sólidos. “Nós temos um diagnostico total dos lixos de Sergipe, já temos a certeza do que é importante e da necessidade de construção de aterros sanitários, dessa forma estamos realizando reuniões com representantes de municípios, esclarecendo como implantar consórcios. No último dia 7, por exemplo, estivemos no baixo São Francisco explicando o funcionamento desses consócios”, afirma.

Genival Nunes (Foto:Arquivo Portal Infonet)
Ainda em relação ao Lixão de Itabaiana, o secretário disse que existe fiscalização e que o número de catadores diminuiu. “A Adema fiscaliza essa questão de catadores tentando evitar que essas pessoas permaneçam nos lixões e os números têm diminuído”, comenta.

Genival explicou que o consórcio se daria com a construção de um aterro de resíduos sólidos para atender mais de um município. “Municípios próximos e com uma faixa de 30 mil habitantes teriam apenas um aterro, dessa forma diminuiriam os custos e solucionaria problemas ambientais. Sem contar que o Estado pode ajudar na construção, financeiramente falando”, explicou

Itabaiana

A equipe do Portal Infonet tentou contato com o representante do Meio Ambiente da cidade de Itabaiana, bem como com assessoria de comunicação da prefeitura da cidade, mas até a publicação dessa matéria não obteve retorno

Por Alcione Martins

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