Engarrafamentos em horários de pico, alagamentos durante as chuvas e transporte público ineficiente. Situações que até bem pouco tempo eram intrínsecas às grandes metrópoles hoje são absolutamente comuns aos aracajuanos. Sinais de um modelo de crescimento que tende ao colapso, assim como na maioria das cidades brasileiras, e que deve ser repensado, segundo especialistas, com urgência. Modelo adotado por Aracaju é semelhante ao das grandes cidades (Fotos: Arquivo Infonet)
A setorização dos espaços da cidade, com a determinação de lugares específicos para as atividades mais comuns dos cidadãos, é tida como a principal razão para tais problemas. Advinda nos anos 70 com a adoção de um modelo americano de urbanismo, determinou-se a separação de locais de trabalho, moradia e lazer. “E esse modelo não deu certo. As megacidades provam que não são funcionais. As pessoas perdem muito tempo para se deslocar e realizar atividades básicas como trabalhar ou estudar. Lá nos Estados Unidos deu certo pelo padrão de vida. Mas aqui ficou uma coisa ingovernável”, explica a arquiteta e urbanista Ana Libório.
Segundo ela, o ideal seria a adoção do modelo urbanista europeu, em que não há a separação e é possível aliar todas aquelas atividades em um único local. No entanto, a opção surgida nas grandes cidades é a dos condomínios-shopping, em que se constrói no mesmo local as residências, o centro comercial e edifícios ou galerias de escritórios. Esses empreendimentos, por outro lado, ainda são reduto de famílias com um padrão de vida mais elevado. Adensamento da capital segue pelos lugares errados
Expansão
Tal separação dos espaços é responsável por um esvaziamento do centro da cidade. A prova disso é que fora do horário comercial as ruas são verdadeiros desertos, criando, inclusive, uma sensação de insegurança. Poucas são as famílias que residem nessa região, apesar de ser onde está localizada a melhor infraestrutura. “Enquanto isso estamos criando mais duas cidades: o bairro Jardins e a Zona de Expansão”, critica a urbanista.
Ana Libório diz que tal cenário se justifica, ainda, porque há dois ‘mantras’ na capital sergipana. O primeiro deles e a tão famosa frase ‘Aracaju não tem para onde crescer’, que se repete exaustivamente mas, segundo ela, não corresponde à realidade. Isto porque as Zonas Norte e Oeste, por exemplo, apresentam condições para adensar a cidade. Alagamentos e problemas da Zona de Expansão são previsíveis
Outro mantra é a polêmica Zona de Expansão, a menina dos olhos das construtoras sergipanas – e até estrangeiras. “Aquela área deveria ser de preservação. Os problemas são previsíveis, porque estão aterrando lagoas. Além disso há estudos que apontam a existência de um grande aquífero que está sendo contaminado”, revela.
Soluções
Para a urbanista, a solução é o redescobrimento do centro da cidade e, junto a isso, levar o desenvolvimento para o interior. “A interiorização da UFS, por exemplo, sinaliza essa preocupação”, diz. A reutilização de prédios mais antigos, principalmente destinando-os à habitação popular, os investimentos em transporte público, quem em todo o país é precário, e mobilidade urbana são, segundo ela, primordiais. Ana Libório, arquiteta e urbanista, propõe um redescobrimento do Centro
“Não adianta propor rodízios, rodoaneis, viadutos, porque isso vai ficar obsoleto. É necessário planejamento; otimizar o centro. Em Aracaju ainda dá tempo. Falta visão e responsabilidade dos administradores e mobilização da sociedade”, entende Ana Libório.
A capital tem na aprovação do novo Plano Diretor, ainda, a oportunidade de realizar as transformações necessárias. No entanto, ela alerta para que a sociedade se envolva nas discussões e cobre que o documento aprovado corresponda às expectativas de todos. “Se não repensarmos as cidades, elas estarão fadadas à extinção”, lamenta.
Plano Diretor
Desde 2005 a nova versão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano é discutida na capital. O documento, que estabelece as diretrizes para a ocupação da cidade, ficou pronto apenas em 2007 e foi enviado à Câmara Municipal de Aracaju pela primeira vez em 2008. O documento não foi votado por que precisava ser submetido a uma revisão ortográfica, o que ocorreu de março de 2009 a fevereiro de 2010. Plano de Mobilidade Urbana prevê soluções para o trânsito
A versão final e que será submetida à votação foi entregue pelo prefeito Edvaldo Nogueira aos vereadores no dia 19 de novembro de 2010 e deve ser uma das pautas mais importantes da Casa durante o exercício deste ano. O ato foi analisado por ele como “um grande momento para a vida urbanística da nossa cidade. Vai dar uma nova visão de desenvolvimento”.
Na ocasião Nogueira prometeu enviar ainda em 2011 um novo plano de mobilidade urbana. “Precisamos enfrentar o problema do trânsito em Aracaju, que está crescendo e enfrenta problemas de engarrafamento e precisa de solução”, disse o prefeito.
As críticas quanto à ausência de uma versão atualizada do documento em Aracaju se dão principalmente pelo crescimento desordenado que a cidade sofreu nos últimos anos, com a ocupação de espaços de preservação ambiental, por exemplo, ou mesmo o desrespeito aos limites do plano ainda vigente, que tem nas construtoras o principal bode expiatório.
Por Diógenes de Souza
Esta reportagem faz parte da série especial sobre os desafios da capital sergipana para a próxima década. As reportagens sobre o tema serão publicadas ao longo desta semana. Você também pode opinar através dos comentários.
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